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ARQUITETURA E DESIGN




Cartaz da exposição Team 10: A Utopia of the Present em Paris. Fotografia: download da imagem em www.team10online.org


Início da exposição Team 10: A Utopia of the Present em Paris. Fotografia: Pedro Baía


Exposição Team 10: A Utopia of the Present em Paris. Fotografia: Pedro Baía


Exposição Team 10: A Utopia of the Present em Paris. Fotografia: Pedro Baía


Exposição L’ Atelier de Montrouge: La Modernité à l’œuvre (1958-1981) em Paris. Fotografia: Pedro Baía


Alison Smithson no CIAM X, Dubrovnik, 1956. Fotografia: digitalizada do livro TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present


CIAM XI, Otterlo, 1959. Fotografia: digitalizada do livro TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present


Encontro Team 10, Berlim, 1973. Fotografia: download da imagem em www.nai.nl


Encontro Team 10, casa de Aldo van Eyck, 1974. Fotografia: download da imagem em www.team10online.org


Encontro Team 10, Spoleto, 1976. Fotografia: download da imagem em www.team10online.org


Fim dos CIAM, Otterlo, 1959. Fotografia: digitalizada do livro TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present


Corte perspéctico por um dos edifícios do projecto Robin Hood Gardens. © Godfrey Argent, download da imagem em www.bdonline.co.uk


Vista aérea do Robin Hood Gardens, 1972. © Smithsons family collection, download da imagem em www.bdonline.co.uk


Planta e corte pelo terreno do Robin Hood Gardens. © Desconhecido, download da imagem em www.cleandesign05.co.uk


Vista do jardim do Robin Hood Gardens. © Desconhecido, download da imagem em www.bdonline.co.uk


Vista da galeria do Robin Hood Gardens. © Morley von Sternberg, download da imagem em www.bdonline.co.uk


Corte perspéctico por um apartamento do projecto Robin Hood Gardens. © Desconhecido, download da imagem em www.bdonline.co.uk


Alison e Peter Smithson. © Smithsons family collection, download da imagem em www.bdonline.co.uk

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PEDRO BAÍA


No momento em que se discute a possível demolição do histórico complexo habitacional Robin Hood Gardens, dos arquitectos Alison e Peter Smithson, aproveitamos para abordar alguns temas em torno do mítico grupo Team 10, ao qual pertenceram.


1. Sobre a exposição Team 10: A Utopia of the Present

Em Paris, no Palais de Chaillot, a recém aberta Cité de l’Architecture & du Patrimoine recebeu a exposição Team 10: A Utopia of the Present (1), a mais completa exposição realizada sobre este grupo. De 20 de Março a 11 de Maio de 2008, esta mostra constituiu uma oportunidade única de consultar documentos originais que se encontram normalmente espalhados pelo mundo, oriundos de vários arquivos e colecções, como a Fundação Le Corbusier, o Museu de Arquitectura de Estocolmo ou a Universidade de Veneza. Para além dos elementos de projecto originais, esquissos, diagramas, plantas, cortes, alçados, maquetes e foto-montagens, existe também a possibilidade de ver e ouvir interessantes vídeos com os protagonistas do Team 10. Ao longo de várias salas, num espaço estreito que acompanha a curva do Palais, a mostra exibe cronologicamente os temas representativos das principais preocupações do Team 10, desde a questão da habitação para o maior número de pessoas, colocada no pós-guerra, até às questões relacionadas com uma visão social mais ampla, como a noção de identidade e participação.

Em Paris, a exposição Team 10: A Utopia of the Present é acompanhada por uma outra exposição que a complementa – L’ Atelier de Montrouge: La Modernité à l’ œuvre (1958-1981), comissariada por Catherine Blain. Segundo François de Mazières, presidente da Cité de l’ Architecture & du Patrimoine, a exposição nacional do Atelier de Montrouge acompanha a internacional sobre o Team 10 no sentido de propor ao público um olhar crítico sobre a relação entre a arquitectura, o urbanismo e as questões sociais. A dupla exposição responderia assim a um dos objectivos da Cité - questionar a história num processo que forneça chaves de leitura para uma possível compreensão da nossa contemporaneidade. Porque Mazières considera que as grandes questões com as quais os dois grupos se confrontaram estão hoje na ordem do dia – a crítica ao Movimento Moderno, a relação entre a cidade e a arquitectura e o lugar da utopia no campo da criação arquitectónica. (2)

Com o fim da exposição em Paris, imaginamos a possibilidade de acolher Team 10: A Utopia of the Present em Portugal. Imaginamos uma outra exposição paralela, complementar, como a do Atelier de Montrouge, dedicada à experiência portuguesa. Seria então uma oportunidade para aprofundar a nossa história da arquitectura, intersectando os movimentos internacionais com os nossos gestos, com os nossos olhares. Entretanto, a questão sobre a qual trabalhamos colocar-se-ia – será que a recepção em Portugal das ideias do Team 10 foi significativa? A que níveis e qual o alcance desse significado? De que modo se operou essa recepção? Por que meios? Por que personagens? Em que período da história se tornou significativa?


2. Sobre a constituição do Team 10

What was Team 10? As to people who are interested in Team 10, Team 10 might ask a few serious questions: Why do you wish to know? What will you do with your knowledge? Will it help you regenerate the language of Modern Architecture so that it would again be worth inheriting?” (3)
Alison Smithson

O Team 10 emerge nos anos 50, na ressaca da Segunda Guerra Mundial, durante os últimos CIAM - Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna (1928-1959). Em 1953, no CIAM IX, no 9º congresso realizado em Aix-en-Provence, um grupo de jovens arquitectos é oficialmente nomeado para organizar o encontro seguinte, em Dubrovnik, 1956. Ao longo das várias reuniões de preparação do 10º congresso, começa a formar-se um grupo que dará origem ao Team 10. Reunindo várias sensibilidades, o grupo tem em comum a procura de uma alternativa à doutrina rígida imposta pelos CIAM, à “velha guarda dos CIAM [que] não deu nenhum sinal de que era capaz de avaliar realisticamente as complexidades da situação urbana difícil do pós-guerra” (4).

Une utopie, un mythe, plus qu’ un mouvement d’ avant-garde: voilà ce qu’ incarne Team 10. En requestionnant l’ architecture, ils ont revisité les mots ‘banalité’ et ‘ordinaire’, et leur ont donné assez de force pour atteindre une dimension prospective. En reformulant l’ urbanisme, ils ont experimenté sur la ville en strates, sur les infrastructures (la célèbre street in the air), comme sur la mobilité ou sur les structures flexibles.” (5)
Francis Rambert, director do Institut Français d’ Architecture

O Team 10 constitui-se como um grupo informal, heterogéneo, um “grupo plural, nas suas origens e intenções, e gerador de diversas vias críticas, nem sempre coincidentes, que procuravam inverter o aparente consenso doutrinário que definira os congressos anteriores” (6). De acordo com a identificação de Dirk van den Heuvel e Max Risselada, os membros principais que compõem o “núcleo duro” do Team 10 são: Alison e Peter Smithson (1928-1993; 1923-2003), Aldo van Eyck (1918-1999), Jaap Bakema (1914-1981), Georges Candilis (1913-1995), Shadrach Woods (1923-1973) e Giancarlo de Carlo (1919-2005) (7). No entanto, a delimitação do grupo pode ser alargada a outros participantes regulares dos encontros como, por exemplo, o português Pancho Guedes (1925) ou o catalão José António Coderch (1913-1984).

Para a história da arquitectura, o início do Team 10 ficará para sempre associado ao fim dos CIAM. O papel do Team 10, no desfecho da história dos CIAM, é simbolizado por uma mítica fotografia de 1959, tirada em Otterlo, no 11º e último congresso. A fotografia exibe Alison e Peter Smithson, Aldo van Eyck e Jaap Bakema por detrás de um placard com as letras CIAM e uma cruz desenhada, anunciando a “morte” dos Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna.

A dissolução dos congressos coincide com a afirmação de uma nova geração de arquitectos que procura respostas aos desafios sociais e políticos que emergem na sociedade do pós-guerra. Dessa nova geração, o Team 10 destaca-se pela amplitude geográfica do debate promovido ao longo dos seus encontros, realizados em diferentes países, com várias personalidades internacionais convidadas, como Kisho Kurokawa, Kenzo Tange, Oswald Mathias Ungers, Hans Hollein, Oskar Hansen, James Stirling, Charles Jencks ou Fernando Távora. (8)

O arco temporal descrito pelo Team 10 percorre três décadas, como os CIAM, um período de 28 anos marcado por vários encontros, com início em 1953, no CIAM IX, até 1981, data da morte de Jaap Bakema, um dos elementos mais activos e influentes do grupo.


3. Sobre o crescente interesse pelo legado do Team 10

Nos últimos anos, temos assistido a um crescente interesse pela história do Team 10, pelos seus protagonistas, projectos e ideias. Em 2003, no ano da morte de Peter Smithson, o Design Museum de Londres acolhe a exposição The Smithsons: The House of Future to a House for Today, comissariada pelos holandeses Max Risselada e Dirk van den Heuvel.

Dois anos depois, em 2005, na Galeria Nacional de Arte Contemporânea Zacheta, em Varsóvia, tem lugar a exposição To See the World, dedicada à obra do arquitecto polaco Oskar Hansen (1922-2005). No final do mesmo ano, é apresentada em Roterdão a exposição Team 10: A Utopia of the Present, resultado de um projecto de investigação que envolve uma vasta equipa de académicos que contribui para uma exaustiva e fundamental documentação sobre o Team 10. (9)

No ano seguinte, em 2006, na 10ª Exposição Internacional de Arquitectura na Bienal de Veneza dedicada ao tema “Cidades: arquitectura e sociedade”, o projecto expositivo Lisboscópio da autoria de Pancho Guedes e Ricardo Jacinto assegura a representação oficial portuguesa comissariada por Cláudia Taborda.

No final de 2007, o Museu de Arquitectura da Suiça - SAM, em Basel, apresenta a exposição Pancho Guedes, An Alternative Modernist, comissariada por Pedro Gadanho. Em simultâneo, em Portugal, é lançada a colectânea de textos da autoria de Pancho Guedes, coordenada por Ana Vaz Milheiro e editada pela Ordem dos Arquitectos, com o título Pancho Guedes – Manifestos, Ensaios, Falas, Publicações.

Ironicamente, no auge destes eventos em torno do Team 10 e os seus protagonistas, surge uma surpreendente notícia. No início de 2008, é anunciada a possível demolição do histórico complexo habitacional Robin Hood Gardens da autoria de Alison e Peter Smithson, projecto de 1966-72, localizado na East London. As autoridades municipais de Londres alegam que o complexo, projecto do Estado Providência do pós-guerra, se encontra degradado, não correspondendo às actuais exigências de conforto. Concluindo que seria demasiado dispendioso realizar uma operação de requalificação, coloca-se então a hipótese de demolição.

Em assembleia, os próprios moradores decidiram pela demolição do complexo; por outro lado, os que rejeitam esta decisão acusam as autoridades pelo actual estado de abandono, pela falta de investimento e manutenção. Curiosamente, os terrenos onde o Robin Hood Gardens se situa estão a ser muito disputados, encontrando-se entre a futura zona dos Jogos Olímpicos de 2012 e as Docklands. Afinal, a preocupação com o actual estado do Robin Hood Gardens poder-se-á tratar, também, de uma questão de densidade de ocupação do solo. Na conclusão do processo de demolição, é certo que o desfecho deste episódio será uma referência para futuras situações onde esteja em risco a salvaguarda do património arquitectónico do pós-guerra.

A notícia desencadeia uma campanha de contestação liderada pela Building Design (bdonline.co.uk) que promove uma petição com o objectivo de pressionar a English Heritage a classificar o complexo como património a preservar. A classificação que poderia impedir a sua demolição motiva mais de duas mil pessoas, de várias nacionalidades, a assinar a petição, reunindo nomes importantes como Robert Venturi, Denise Scott-Brown, Peter Cook, Oriol Bohigas, Beatriz Colomina, Mark Wigley, Josep Maria Montaner, Zaha Hadid, Alejandro Zaera-Polo, Kenneth Frampton, Georges Teyssot, Toyo Ito, Richard Meier, Richard Rogers, entre outros, que adicionaram relevantes comentários à sua assinatura.

If we cannot preserve the key works of our most thoughtful architects, we are unambiguously committing ourselves to the thoughtless.
Mark Wigley

Robin Hood Gardens is a seminal project for its era, one of the few executed works of the Smithsons. The Smithsons were among the first in 20th Century Britain to make a hugely significant contribution to world architectural discourse. Also, the Robin Hood Gardens project has many lasting qualities and deserves to be preserved in its own right.
Zaha Hadid

My late husband, Reyner Banham and I were shown over Robin Hood Gardens by Peter and Alison when it was brand new. We were much impressed and I still believe that this petition would be quite unnecessary if the scheme had been properly maintained over the years.
Mary Banham

(…) Robin Hood Gardens is now an important historical piece and it can easily be renovated into very up-to-date residential... And it could also host a world famous Welfare State Theme Park, to meet the redevelopment costs...
Alejandro Zaera-Polo

Para além de promover a petição, a Building Design lançou um concurso internacional de ideias para repensar o Robin Hood Gardens, apelando à apresentação de projectos e estratégias que o viabilizem e requalifiquem. O prazo de entrega das propostas termina no dia 23 de Maio. Peter Cook faz parte do júri do concurso.
Apesar da forte mobilização internacional, receia-se que a hipótese de demolição possa, de facto, vir a ter lugar, desaparecendo assim um exemplar único da arquitectura brutalista dos anos 60/70 e um dos poucos projectos construídos por Alison e Peter Smithson. Entretanto, podemos afirmar que a demolição do complexo habitacional, produto da atitude optimista e confiante do Welfare State britânico, simboliza também a actual falência de uma ideia de intervenção social do Estado numa política de habitação.


4. Sobre o trabalho de Alison e Peter Smithson

A acção do casal Alison e Peter Smithson constitui uma das peças chave para o estudo interpretativo do Team 10. Personagens centrais da história da revisão do Movimento Moderno, apresentam uma produção impressionante, ao nível da crítica, das recensões, da participação associativa, da intervenção artística e pedagógica. A forte influência no seio do Team 10 e a participação activa no grupo MARS, no Independent Group, nos CIAM, no Neo-Brutalism e na Architectural Association, confirmam o seu papel fundamental na história da arquitectura da 2ª metade do século XX.
Os Smithsons contribuiram para a cristalização do “período heróico” do Movimento Moderno, criando assim as condições para a sua superação (ou revisão). Em 1965, editam The Heroic Period of Modern Architecture, uma colectânea de textos críticos sobre vários edifícios modernistas realizados entre 1910 e 1933, da autoria de vários arquitectos como Adolf Loos, Walter Gropius, J. J. P. Oud, Gerrit Rietveld, Lissitsky, Le Corbusier, Mies van der Rohe ou Melnikov. Nas várias análises, a noção de herança encontra-se muito presente no discurso; herança entendida no sentido operativo, como conjunto de referências que possibilitam a leitura e reinterpretação da história, numa lógica de continuidade crítica.

This Heroic Period of Modern Architecture is the rock on which we stand. Through it we feel the continuity of history and the necessity of achieving our own idea of order.” (10)
Alison and Peter Smithson

O conjunto do Robin Hood Gardens representa um testemunho físico e espacial das ideias defendidas pelos Smithson. O conceito streets in the air desenvolvido no projecto não construído Golden Lane Housing Competition de 1952 é finalmente concretizado, 20 anos depois, nas largas galerias de 2,5 metros do Robin Hood Gardens.

No CIAM IX, sob o título Urban Re-Identification Grid, Alison e Peter Smithson apresentam um painel composto por uma série de fotografias, desenhos e textos alinhados numa grelha (11). Num desses desenhos, surge o projecto do Golden Lane associado a um texto que defende a valorização da rua enquanto elemento urbano com sentido significado para a comunidade. As fotografias, da autoria de Nigel Henderson, também membro do Independent Group, reforçam uma certa ideia de “festa” associada às relações sociais de proximidade e de encontro, a partir de imagens de crianças que brincam e jogam na rua.

Com a apresentação do Urban Re-Identification Grid, os Smithsons desafiam as quatro categorias funcionalistas da cidade estabelecidas no CIAM IV de 1933, na célebre Carta de Atenas: Habitação, Trabalho, Lazer e Transporte, contrapondo com outras noções mais sensíveis a necessidades sociopsicológicas, de identidade e pertença: Casa, Rua, Bairro e Cidade (12). Através de uma abordagem crítica, confrontam a dimensão tecnocrática e distante do Movimento Moderno, procurando reabilitar a dimensão humana na arquitectura. A street in the air, ao fazer a distribuição para os vários apartamentos através de uma galeria ampla em contacto com o exterior, é também uma crítica ao corredor interior central da Unité d’ Habitation de Le Corbusier. Os Smithsons não se limitam a responder apenas à questão funcional de distribuir as pessoas pelos apartamentos, pretendem antes criar espaços vividos, apropriados, com identidade própria.

À semelhança da Unité d’Habitation de Le Corbusier, o conjunto do Robin Hood Gardens de Alison e Peter Smithson, representando os valores próprios de um determinado entendimento da sociedade, conquistou um lugar na história da arquitectura.


5. Sobre a pertinência actual do Team 10

Se considerarmos que o modo como cada época olha para o seu passado constitui um dado significativo para a sua própria compreensão, deveremos reflectir sobre o porquê da actual emergência do Team 10. Qual a actualidade das problemáticas colocadas pelo Team 10 nos dias de hoje? Qual a sua pertinência?

Histories are not innocent texts (...)” (13)
Panayotis Tournikitis

Nuno Portas, no prefácio da edição portuguesa da História da Arquitectura Moderna de Bruno Zevi, em 1970, identifica duas “tendências” de objectivos que se foram definindo nos anos 50 e 60, a abordagem desenvolvida pelo Team10 e o pós-modernismo. “(...) A mais positiva abria-se para os grandes problemas urbanos propondo uma integração arquitectura-urbanismo num sistema único, traduzido em novas formas de habitat e reabilitando as possibilidades de contacto com estruturas ambienciais, como a rua, a galeria, a praça, o pátio, verificadas na tradição histórica e popular (refiro-me sobretudo à acção do ‘grupo X’ …)”, enquanto que a segunda, “essa mais grave e mais difundida, descobria a chateza de concepção do vulgarizado vocabulário dito ‘moderno’ (…) e, libertando recalques ao sabor das pressões de novidade das sociedades de consumo, cai em buscas estéreis de novos feitios de planta e volumetrias mas, sobretudo, de fachadas…” (14).

Os encontros do Team 10, enquanto grupo, terminam em 1981. Nos coloridos anos 80, o espírito de continuidade crítica do Team 10 relativamente ao Movimento Moderno vê-se ultrapassado pelo triunfo do pós-modernismo. Adverso a dogmas e orientações tecnocráticas, o Team 10 não deixou nenhum manifesto ou programa explícito de actuação. Por seu lado, Robert Venturi, no livro Complexity and Contradiction in Architecture de 1966, ou no Learning from Las Vegas de 1972, com Denise Scott-Brown e Steve Izenour, transmitiu de forma clara o caminho a seguir para uma nova arquitectura. Nestes livros são estabelecidas as premissas para uma arquitectura do pós-modernismo abrindo, assim, as portas para a criação de um estilo. Ao ter mais visibilidade ao nível da linguagem e da composição, o pós-modernismo será rapidamente apropriado. Num tempo obcecado pela forma, o Team 10, mais difícil de identificar e rotular, sem uma linguagem formal reconhecível, perder-se-á no confronto entre pós-modernistas e desconstrutivistas, algures entre a Strada Novissima da Bienal de Veneza de 1980 e a exposição Deconstrutivist Architecture de 1988, realizada no MoMA.

Em 1995, Rem Koolhaas publica S,M,L,XL, o mítico extra-large book que marcou profundamente a arquitectura na viragem para o século XXI. No livro, Koolhaas identifica a cidade que apresenta a “morte final do planeamento” (15), a Cidade Genérica.

The Generic City is the city liberated from captivity of center, from the straitjacket of identity. The Generic City breaks with this destructive cycle of dependency: it is nothing but a reflection of present need and present ability. It is the city without history. [...] If it gets old it just self-destructs and renews. It is equally exciting – or unexciting – everywhere. It is ‘superficial’ – like a Hollywood studio lot, it can produce a new identity every Monday morning.” (16)

A Cidade Genérica, sem ideologias, sem memória, sem valores, alastrou-se pelo território da contemporaneidade. Cinicamente, contaminou a própria arquitectura. Como exemplo paradigmático, temos o Dubai, o Delirious Dubai (17), título que Lebbeus Woods utiliza para escrever um pertinente texto sobre a postura de Rem Koolhaas. Não havendo um compromisso ético, tudo é possível, anything goes.

A mediação entre a ética e a estética era um dos pilares fundadores da arquitectura moderna. Na edição da Bienal [de Veneza] de 2000 sugeria-se ‘mais ética, menos estética’. Em 2004, parece não haver mediação possível, mas um extremar de posições: mais ética vs mais estética.” (18)
Jorge Figueira

De facto, nestes primeiros anos do século XXI, paralelamente às recentes notícias dos espectaculares novos estádios, museus e torres de escritórios, no Dubai, S. Petersburgo ou Xangai, sente-se também um renovado interesse por uma dimensão mais humana, mais quente, mais próxima da banalidade do quotidiano, sensível à gravidade e textura dos materiais, sensível à memória e à emoção, num “novo realismo” que remete para uma ideia de resistência e que invoca, de certa maneira, uma determinada herança do Team 10.


Pedro Baía
Editor Arquitectura/Artecapital.
Arquitecto pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra (2005). Actualmente, desenvolve Tese de Doutoramento na área da Teoria e História da Arquitectura, sob o tema “Da Recepção à Transmissão: Reflexos do Team 10 na Arquitectura Portuguesa”, sob orientação de Mário Krüger, na Universidade de Coimbra.


NOTAS

(1) Originalmente comissariada por Suzanne Mulder e Max Risselada, a partir de uma iniciativa conjunta do Netherlands Architecture Institute (NAi) e da Faculdade de Arquitectura e Tecnologia da Universidade de Delft, a exposição foi apresentada no NAi, em Roterdão, de 25 de Setembro de 2005 a 8 de Janeiro de 2006.
(2) In texto de apresentação da exposição L’ Atelier de Montrouge: La Modernité à l’œuvre (1958-1981), Paris, 2008, “Une mémoire vive”.
(3) SMITHSON, Alison (ed.); Team 10 Meetings 1953-1984, Delft, Publikatieburo Bouwkunde, 1991, p.15
(4) FRAMPTON, Kenneth; História Crítica da Arquitectura Moderna, São Paulo, Martins Fontes, 1997 (1980, 1985, 1992), p.329
(5) In texto de apresentação da exposição Team 10: A Utopia of the Present, Paris, 2008, “Furieusement critiques, foncièrement humains, les Team 10”.
(6) PORTAS, Nuno; GRANDE, Nuno; “Entre a crise e a crítica da cidade moderna”, in AAVV, Lisboscópio, Lisboa, Instituto das Artes, 2006, p.66
(7) RISSELADA, Max; HEUVEL, Dirk van den (ed.); TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present, Rotterdam, NAi Publishers, 2005, p.11
(8) Idem, p.349-353
(9) RISSELADA, Max; HEUVEL, Dirk van den (ed.); TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present, Rotterdam, NAi Publishers, 2005; www.team10online.org.
(10) SMITHSON, Alison & Peter; The Heroic Period of Modern Architecture, New York, Rizzoli, 1981 (1965), p.5
(11) RISSELADA, Max; HEUVEL, Dirk van den (ed.); TEAM10 1953-81 – In Search of a Utopia of the Present, Rotterdam, NAi Publishers, 2005, p.30-31
(12) FRAMPTON, Kenneth; História Crítica da Arquitectura Moderna, São Paulo, Martins Fontes, 1997 (1980, 1985, 1992), p. 330
(13) TOURNIKIOTIS, Panayotis; The Historiography of Modern Architecture, Cambridge, London, MIT Press, 1999, p.2
(14) PORTAS, Nuno; Arquitectura(s), História e Crítica, Ensino e Profissão, Porto, FAUP publicações, 2005, p.63
(15) KOOLHAAS, Rem; S,M,L,XL, Taschen, Köln, 1995, p.1255
(16) Idem, p.1250
(17) www.lebbeuswoods.wordpress.com/2008/03/05/delirious-dubai/
(18) FIGUEIRA, Jorge; A Noite em Arquitectura, Relógio de Água, Lisboa, 2007, p.85