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O ESTADO DA ARTE


ICA, Londres.


Sam Smith, Notes on the Apparatus, 2013, performance vídeo em directo, aprox. 45'.


Karima Ashadu, Lagos Sand Merchants, 2013, HD video, cor, som, 9'.


Christian Jankowski, Telemistica, 1999, video SD, cor , som , 22'. Cortesia do artista e da Lisson Gallery, Londres

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ARTISTS' FILM BIENNIAL

JOSÉ RAPOSO

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A segunda edição da Artists' Film Biennial, bienal organizada pelo Institute of Contemporary Art (ICA) em Londres dedicada à imagem em movimento, surge num momento de crescente interesse em artistas cujo posicionamento no discurso contemporâneo resulta de uma articulação de tradições estéticas oriundas do cinema, com algumas das problemáticas resultantes do impacto do paradigma do digital na cultura visual. Obras como How Not To Be Seen: A Fucking Didactic Educational. MOV File (2013) de Hito Steyerl ou Grosse Fatigue (2013) de Camille Henrot, amplamente comentadas aquando da sua passagem pela última edição da Bienal de Veneza, apontam para uma reconfiguração do regime mediático com consequências merecedoras da mais atenta das reflexões.

A natureza efémera e dispersa da imagem em movimento, em particular fora de um circuito institucionalizado do cinema, não tem facilitado a formação de um pensamento crítico consistente em torno destas práticas e é face a tal estado da arte que eventos de maior escala, como é o caso, procuram responder. Nesse sentido, sublinhe-se ainda a recente proliferação de programação dedicada a estas práticas artísticas, como será o exemplo do ciclo Assembly: A Study of Recent Artists' Film and Video in Britain 2008-2013 programado pela Tate Britain, ou da própria consistência da programação ICA, que desde 2011 tem em activo o ciclo Artists' Film Club, no qual foram já exibidas, a título exemplificativo da vitalidade e heterogeneidade do género, obras significativas de artistas como Duncan Campbell, Isa Genzken ou Ed Atkins.

É justamente num quadro de extensão da programação regular do Artists' Film Club, que o curador associado para a imagem em movimento do ICA, Steve Cairns, procurou articular e desenvolver a presente edição da bienal. Estendendo-se ao longo de quatro dias (3 a 6 de Julho de 2014), a programação reuniu secções curadas por artistas, um programa resultante de uma convocatória internacional, e ainda um programa a cargo de um conjunto de curadores. Em paralelo à programação artística decorreu ainda um conjunto de debates focados no horizonte crítico da imagem em movimento no contexto da arte contemporânea. Numa linha de programação em continuidade com a edição inaugural, que consiste num olhar monográfico sobre a carreira de um artista (Luther Price, em 2012), houve também oportunidade para uma retrospectiva da obra de Christian Jankowski, autor com uma obra marcada pelo cruzamento de um forte conceptualismo com um humor a momentos subversivo. Em Telemistica (1999, video SD, cor, som, 22m) vemos as imagens de uma gravação de uma emissão televisiva de programas onde cartomantes prevêem o futuro da audiência via telefónica: no caso, Jankowski a propósito da sua participação na Bienal de Veneza. Este cruzamento de linguagens e discursos é decisivo: em The Finest Art on Water (2011, HD video, cor, som, 10m), parte da linguagem comercial de um vendedor de barcos de forma a confundir e subverter a noção de arte enquanto processo e objecto. Jankowski procura assim mimetizar as diversas estruturas dos registos televisivos, tendo daí extrair um programa virado para a análise quer do mundo da cultura popular, quer dos processos de legitimação artística .

Uma das secções de programação mais memoráveis foi a curada por Greg de Cuir, Jr. Avant-Noir, constituiu uma raríssima oportunidade em conhecer artistas com obra em vídeo comprometida perante o contexto do continente Africano e da sua diáspora. Num programa fortíssimo, de Cuir incluiu obras focadas em torno de questões marcantes, como as relacionadas com as implicações raciais do olhar espectatorial (Christopher Harris; Reckless Eyeballing, 2004, 16mm, preto e branco, som, 15m), ou as condições do trabalho quotidiano. Nesse sentido, a obra de Karima Ashadu (Lagos Sand Merchants, 2013, HD video, cor, som, 9m) é verdadeiramente exemplar: a artista desenvolveu um dispositivo de forma a montar a câmara de filmar nos próprios instrumentos de trabalho dos trabalhadores de Lagos, sendo o resultado final uma documentação das suas actividades com uma poética avassaladora, resultante da abstracção visual que o dispositivo incorpora nas imagens. É uma obra acutilante, verdadeiramente essencial.

Estas questões relacionadas com o dispositivo cinematográfico encontram paralelo noutros momentos da programação, nomeadamente em obras que procuram desenvolver uma investigação em torno do dispositivo do computador, ubíquo mas invisível. Hannah Sawtell incluiu no seu programa uma performance vídeo em directo, utilizando para isso uma aplicação desenvolvida no contexto das conferências 7x7 da Rhizome. Sawbaum, a aplicação, permite que os utilizadores façam colagens a partir de vídeos disponíveis na plataforma Vine, tendo Sawtell prosseguido com uma demonstração de algumas das potencialidades criativas. Se neste caso o resultado final foi meramente demonstrativo, o mesmo não poderá ser dito da secção de programação curada por Filipa Ramos para o Vdrome. Plataforma online dedicada à exibição de obras em vídeo criadas por artistas visuais e uma iniciativa da revista Mousse, o Vdrome tem ocupado um espaço importante no debate sobre a transição dos modelos tradicionais de exibição de imagem em movimento para o contexto da Internet, aproveitando aqui a oportunidade para explorar algumas das potencialidades da exibição num espaço físico. Nesse sentido, a decisão curatorial em seleccionar uma obra como Notes on Apparatus (Sam Smith, 2013, performance vídeo em directo, aproximadamente 45 minutos), é da maior relevância para o actual momento contemporâneo.

Na conversa com o público que se seguiu à performance, Smith fez questão de apresentar a sua obra a partir da noção de exploração do próprio Sistema Operativo enquanto ferramenta criativa, desenvolvendo a partir dessa noção um comentário sobre o consumo de imagens online com algum alcance crítico. Notes on apparatus é assim uma obra charneira, na medida em que agrega uma série de preocupações estéticas e temáticas que conduziram parte importante de toda a bienal. No simpósio organizado em pareceria com a Universidade de Birkbeck que contou com comunicações de doutorandos do programa de estudos culturais e de autores destacados dos estudos fílmicos (o painel de Ian Christie foi memorável), um dos aspectos mais comentados prendeu-se justamente com a atenção dada ao aparato cinematográfico. Se por um lado historicamente a tendência dominante foi a de tornar o aparato cinematográfico invisível, pelo menos num sector com a expressividade de Hollywood, as obras cinematográficas mais radicais optaram por uma estratégia oposta. É deste modo que algumas das experiências do cinema expandido encontram agora continuidade, de forma algo surpreendente, em obras como a de Smith. A dimensão performativa de Notes on apparatus consiste na transformação do desktop do computador num stream de colagens audiovisuais. Os clips que Smith retira da Internet - momentos icónicos do cânone cinematográfico – são assim dispostos em composições de diversas configurações pelo desktop, colocando-se desta forma o enfoque em questões complexas, como será o caso da utilização de imagens de arquivo na cultura visual contemporânea ou a circulação de imagens em redes digitais.

Que estas discussões tenham lugar em contexto de arte contemporânea deverá pois ser motivo de reflexão, na medida em que testemunham algumas das mutações nas estruturas de produção e circulação da imagem em movimento catalisadas pelo digital e pela Internet. Nesse sentido é já nítida a maturidade da produção de obras em vídeo da parte de artistas visuais desde o início da década dos anos 2000, podendo-se inclusivamente falar da emergência de um cânone, cada vez mais autónomo e paralelo àquele associado à própria história do cinema.


José Raposo