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O ESTADO DA ARTE


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O Museu Colecção Berardo surgiu ao fim de um longo processo, envolto em polĂ©mica, atĂ© de raros contornos institucionais, patentes nas reservas manifestadas pelo Presidente da RepĂșblica ao Decreto-Lei nÂș164/2006 de 9 de Agosto, que instituiu a Fundação de Arte Moderna e ContemporĂąnea – Colecção Berardo, e clamorosamente prosseguida, no dia seguinte Ă  inauguração, pelo confronto entre o presidente do CCB, AntĂłnio Mega Ferreira, e o investidor e coleccionador – isto para alĂ©m de todas as polĂ©micas que as intervençÔes de Berardo no campo artĂ­stico suscitaram, e possam continuar a suscitar.

Creio que entretanto, mais de seis meses passados sobre a abertura pĂșblica, e manifestada tambĂ©m uma polĂ­tica de exposiçÔes temporĂĄrias, se impĂ”e um outro tipo de reflexĂŁo, elencando, e de algum modo considerando com relativa autonomia o que sĂŁo as questĂ”es estruturais e as circunstanciais – sabendo-se ainda como as indecisĂ”es e demoras das polĂ­ticas culturais pĂșblicas em Portugal acabam muitas vezes por imbricar umas questĂ”es nas outras.

É mais do que evidente que nĂŁo existia no paĂ­s um museu de arte moderna e contemporĂąnea com um acervo em exposição pĂșblica minimamente representativo, jĂĄ que outra Ă© a manifesta e importante vocação de Serralves, e sĂŁo por demais conhecidas as diversas indefiniçÔes e limitaçÔes do Museu do Chiado. Igualmente, e para alĂ©m dos compromissos directos que cabem ao Estado e que nĂŁo devem ser esquecidos, Ă© sabido que importantes museus pĂșblicos tĂȘm origem em colecçÔes privadas. Portanto, primeiro ponto, nĂŁo havendo em Portugal outra colecção como a de Berardo, um acordo entre aquele e o Estado era de todo o interesse pĂșblico.

Sabe-se como, após repetidos adiamentos, o processo concreto de negociação foi desencadeado sob a ameaça da colecção sair do país, e como nessas condiçÔes, e na conhecida incapacidade política actual do Ministério da Cultura, os termos do acordo não foram devidamente acautelados, nomeadamente no tocante à renegociação dentro de dez anos. Esse é o segundo ponto, a ser devidamente retido, mas que também não anula o primeiro.

É igualmente sabido como a concreta instalação no CCB de facto amputou aquela estrutura pĂșblica de uma valia estruturante e criou uma difĂ­cil – e conflituosa, como se comprovou – co-existĂȘncia entre as duas diferentes fundaçÔes, terceiro ponto. Acresce ainda a nĂŁo pouco problemĂĄtica questĂŁo, quarto ponto, de discutir se na rede de valias culturais na malha urbana aquela era de facto a melhor localização, o que de resto implica tantos aspectos, desde o projecto “BelĂ©m Redescoberta”, promovido pelos ministĂ©rios da Cultura e da Economia (e que Ă© outra achega Ă  crescente presença dos ditames do MinistĂ©rio da Economia e Inovação na ĂĄrea da cultura), Ă  relação entre os pĂłlos oriental e ocidental da cidade, que por si sĂł implica um debate com outros desenvolvimentos.
Passando entĂŁo ao concreto do Museu Colecção Berardo, com todas as irregularidades que resultam de uma polĂ­tica de aquisiçÔes rĂĄpida e, portanto, sujeita a vĂĄrias flutuaçÔes do mercado, os percursos expositivos entretanto patentes mostram nĂșcleos ainda muito inconsistentes, mas tambĂ©m, o do minimalismo e, sobretudo, o da pop arte, outros de incontestĂĄvel relevo – quinto ponto.

Estes serĂŁo os pontos estruturais. Consideremos agora alguns passĂ­veis de serem considerados circunstanciais, ainda que sem dĂșvida pesem tambĂ©m numa mais concreta ponderação dos outros.

Extravasando agora o quadro deste Museu, diga-se que em 2007 houve em Portugal duas exposiçÔes de excepcional importĂąncia, de resto ainda patentes: “Robert Rauschenberg Travelling 70’- 76’” em Serralves (atĂ© 30-03) e “Um Teatro sem Teatro” que veio do MACBA, Museu de Arte ContemporĂąnea de Barcelona, para o Museu Berardo (atĂ© 17-02). Na situação semi-perifĂ©rica de Portugal, semi-perifĂ©rica tambĂ©m no circuito internacional das exposiçÔes, hĂĄ que assinalar uma tal conjunção, pois que as polĂ­ticas expositivas da arte contemporĂąnea nĂŁo podem ser reduzidas Ă  disponibilização pĂșblica dos acervos. Este aspecto, deveras importante, tem pois de ser ponderado em relação concretamente ao Museu Berardo, tanto mais que uma das dĂșvidas maiores que se colocou ao seu enxerto no CCB foi o da ocupação logĂ­stica de uma plataforma de exposiçÔes temporĂĄrias.

Cabe pois assinalar, sexto ponto, que uma das mais importantes exposiçÔes internacionais do ano (escolhida mesmo como a melhor do ano no blog “Lunettes Rouges” do “Le Monde” - http://lunettesrouges.blog.lemonde.fr/2008/01/01/), veio logo depois para Lisboa. Ora, independentemente de uma consideração da exposição em si mesma, parece-me evidente, jĂĄ que sou em especial sensĂ­vel Ă  proposta geral e a alguns aspectos particulares de “Um Teatro sem Teatro”, que hĂĄ matĂ©rias e referĂȘncias do maior relevo que sĂŁo atrofiadas num espaço expositivo de relativa exiguidade – sĂ©timo ponto, o da capacidade de acolhimento, que todavia desde logo implica o quarto, da implantação do Museu no espaço do CCB.

Para todos os efeitos, a real evidĂȘncia da inscrição internacional do Museu prende-se tambĂ©m com as competĂȘncias do director, Jean-François Chougnet, certamente um valor seguro – oitavo ponto.
É matĂ©ria de especulação – mesmo que seja difĂ­cil arredĂĄ-la de algumas ponderaçÔes – saber se, face Ă  acentuada hiper-presidencialização do CCB com Mega Ferreira, nĂŁo serĂĄ mesmo preferĂ­vel ter alguĂ©m com uma reconhecida competĂȘncia especĂ­fica a dirigir uma entidade expositiva e museolĂłgica, e isso nĂŁo desmente de qualquer maneira o terceiro ponto, de um equipamento pĂșblico polivalente ter sido amputado.

O que tambĂ©m nĂŁo deixa de se verificar, quer com outra exposição jĂĄ apresentada, “Caminhos ExcĂȘntricos” (infeliz amostragem de artistas da Europa Central, oscilando entre a retĂłrica usual das “identidades” e o compromisso polĂ­tico-diplomĂĄtico) quer com a programação anunciada para o novo ano, Ă© que, nono ponto, se a amputação estrutural ocorreu, vĂĄrias das funçÔes que eram do Centro de ExposiçÔes do CCB serĂŁo de facto preenchidas pelo novo Museu, atĂ© em aspectos menos interessantes, o que tambĂ©m nĂŁo deve ser alheado da reflexĂŁo.

Enfim, nĂŁo creio que, dĂ©cimo ponto, possa ser desconsiderada a adesĂŁo pĂșblica que o Museu tem suscitado, pesem ainda os equĂ­vocos inerentes Ă  “gratuitidade”, ou seja, que o primeiro ponto, o da constituição de uma entidade pĂșblica a partir da Colecção Berardo, estĂĄ confirmado na capacidade de “publicamente disponibilizar” – o que Ă© um dado fulcral Ă s polĂ­ticas da cultura.
Nada disto faz esquecer os termos da negociação, mas a apreciação do Museu Berardo deve também ser autonomizada das susceptibilidades que suscita a pessoa concreta do investidor.