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COMPETIÇÃO EXPERIMENTALCURTAS VILA DO CONDE IFF 2020TEATRO MUNICIPAL DE VILA DO CONDE Av. Dr. João Canavarro 4480 – 668 Vila do Conde 06 OUT - 09 OUT 2020 A natureza não natural da Experimentação
O programa da “Competição Experimental” do Festival Internacional Curtas Vila do Conde é dedicado à prática de vanguarda no domínio do cinema. Este ano reexplora diferentes aspectos da “natureza”, que não são necessariamente "florais", podem ser a natureza dos problemas ecológicos, a auto-identificação, a discriminação ou as diferentes variações de especulação ou exploração que correspondem constantemente à natureza da imagem cinemática. O cinema é um mecanismo de transformação da realidade ou do sujeito que retrata. Por exemplo, uma manifestação pode ser vista como uma paisagem para a vida, como no filme de Laida Lertxundi, ou a região de Somerset transformada em decoração de ficção científica pelas mãos de Ben Rivers. A câmara pode mudar o nosso conhecimento sobre a história da arte, por exemplo, fazendo uma comparação entre aulas de dança taitianas para todos com as pinturas de Gauguin da mesma região, como Ben Russell fez, ou expandindo a mise-en-scène das obras de arte de Claude Monet com performances de mulheres negras, como no filme de Ja'Tovia M. Gary. A câmara pode reexplorar “A jangada de Medusa” de Théodore Géricault a partir de perspectivas de política ambiental, do clima e da migração, como no filme de Salomé Lamas, ou transformar uma paisagem brasileira num cenário de libertação sexual, como Lúcia Prancha faz. O programa de “Competição Experimental” equilibra-se entre a consciência racial e ecológica e a excêntrica visão artística, e contém uma lista significativa de artistas como Luke Fowler e Rosa Barba. Rosa Barba continua a questionar como é possível combinar imagens cinematográficas com as agendas ambientais, aparentemente duas questões opostas. No seu filme “Aggregate States of Matters”, usa filmagens analógicas de povos indígenas preenchidas com o som da paisagem - gravações no terreno entrelaçadas com variações electrónicas de música tradicional como uma evidência do nosso mundo sintético. Ou retrata um glaciar a derreter nos Andes devido às mudanças climáticas globais, no filme de 35 mm que é um material químico comparado à natureza, mas definitivamente é mais natural comparado com o vídeo. É quase um paradoxo existencial que provavelmente é o núcleo principal do filme. Lainda Lertxundi, no seu “Autoficción”, pensa o processo de autoconfiguração no espaço das mudanças, as “mudanças” como uma condição constante de vida. Mostra uma polifonia de diferentes contextos e a maneira como se pode ou não perder nessas miríades de situações. O formato 16 mm para Luke Fowler é uma forma como o artista quer ver o mundo. A montagem do imaginário no seu filme “Cézanne” brinca com o tema do filme e cria uma alternativa à sabedoria convencional. New-Cézanne, Extra-Cézanne, poética Cézanne ou Cézanne passado através do mecanismo da visão artística. Definitivamente, não é mais um pós-impressionista convencional. Luke Fowler oferece uma viagem rápida e emocional à luz e à natureza da paisagem vislumbrada que dedicou a Paul Cézanne.
Color-Blind (2019), de Ben Russell
Ben Russell, no seu “Color-Blind”, explora a cultura taitiana combinando a antropologia visual com os estudos sobre Paul Gauguin, vestindo-o com um mito sobre luzes fosfóricas que são as almas dos mortos. Tal como Peter Greenaway animou "A Ronda Nocturna" de Rembrandt, com luz e som, Russell traz a terceira dimensão para as pinturas de Gauguin e junta-as com exercícios de linguagem nas decorações tropicais. Mestre da visualidade ficcional, Ben Rivers, no filme “Look Then Below”, mostra-nos uma paisagem que tenta fingir ser cyber-punk. Revela uma natureza da cor nas riscas da gasolina, um jogo ilusionista com o ambiente sintético que acabou sendo uma pró-natureza numa época de trans-sentimentalismo. Ja’Tovia M. Gary, no seu "The Giverny Document" cria uma ode à identidade feminina negra. Filmando no centro da Renascença do Harlem, questiona a segurança de estar num corpo negro e mostra-nos uma performance requintada de mulheres negras, mudando de tempos em tempos os planos de fundo do jardim de Manet para o palco da sala de concertos. “The Giverny Document” descreve a profundidade da alma humana (a alma tem cor?) em contradição com a trivialidade das superstições. Poderia um génio triunfar sobre a discriminação, envolvê-la e engoli-la? Parece que vamos estar a responder a esta pergunta até ao fim do mundo.
Programação “Competição Experimental”:
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