Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes


Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes

Outras exposições actuais:

SUSANA CHIOCCA

SOLUÇOS SUSSURROS LABAREDAS


Espaço MIRA, Porto
CLÁUDIA HANDEM

IRENE M. BORREGO

A VISITA E UM JARDIM SECRETO


Cinemas Portugueses,
RICHARD LAURENT

BERLINDE DE BRUYCKERE

ATRAVESSAR UMA PONTE EM CHAMAS


MAC/CCB - Museu de Arte Contemporânea, Lisboa
MARC LENOT

SANDIM MENDES

VIÚVA BRANCA


Galeria Municipal de Arte de Almada, Almada
CARLA CARBONE

PAULO LISBOA

CICLÓPTICO


MAAT, Lisboa
CATARINA PATRÍCIO

COLECTIVA

A REVOLUÇÃO NA NOITE


Centro de Arte Oliva, S. João da Madeira
CONSTANÇA BABO

DAN GRAHAM

NOT POST-MODERNISM. DAN GRAHAM E A ARQUITETURA DO SÉCULO XX


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

MIGUEL BRANCO

BLUE ANGEL


Galeria Pedro Cera, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

JOAN JONAS E MARIA PAZ

DUETO


Galeria Municipal do Porto, Porto
MAFALDA TEIXEIRA

COLECTIVA

PROFANAÇÕES


Culturgest (Porto), Porto
SANDRA SILVA

ARQUIVO:


LUISA CUNHA

HELLO! ARE YOU THERE?




MAAT
Av. de Brasília, Central Tejo
1300-598 Lisboa

19 MAI - 28 AGO 2023


 

Num corpo que se manifesta escuso, ausente, é justamente por meio da voz que, de modo repetitivo, ou disruptivo, Luísa Cunha o vai parafraseando, e decompondo, das mais diversas maneiras e formas. Na exposição retrospectiva Hello! Are You There?, patente no MAAT, a artista põe esse corpo a descoberto, por via da aplicação de textos sonoros, que se vão estendendo ao longo do espaço, e conduzindo o visitante a uma reflexão em torno das grandes questões e dimensões da sociedade. Mesmo que, em muitos momentos, se recorra à utilização da ironia e do humor.

A exposição Hello! Are You There? dispõe-nos a uma escuta, não somente por via de postulados estéticos, mas também no sentido das grandes discussões que continuam assaz actuais em torno da cultura (Pop), consumismo, sociedade, psiquismo, globalização e política. Esta última, bem ilustrada, na instalação “Drop the Bomb”, de 1994.

O corpo, marcado pela transitoriedade, na exposição revela-se também um receptáculo do tempo. Como podemos ver na obra: “Mulher de 58 anos aos 2 anos”, de 2008.

Descobrimos telas vazias, onde supostamente poderiam estar imagens, ou fotografias, (provavelmente da artista), quando tinha apenas 2 anos de idade. Ao invés, observamos antes, no interior das suas molduras, pequenas frases de cariz autobiográfico, escritas com a caligrafia da artista, e descrevendo os movimentos de uma criança de tenra idade. Nas pequenas frases, sem pontuação, podemos ler: “fotografia de mulher de 58 anos aos 2 anos a andar nua no quarto com mão apoiada no parque de grades”, ou “fotografia de mulher de 58 anos aos 2 anos no quarto de pé dentro de parque de grades de olhar cerrado e esticado para cima”, ainda “fotografia de mulher de 58 anos aos 2 anos sentada num banco de jardim de jornal aberto na mão e apontando para a letra O”.

 

Vista da exposição Hello! Are You There?, de Luísa Cunha. MAAT, 2023. © Bruno Lopes

 

 

De uma forma multidisciplinar, através de textos sonoros, ou por via de formas geométricas elementares, pintadas sobre a parede de modo minimalista, o corpo é descoberto enquanto medida. Podemos verificar essa avaliação da grandeza do corpo na obra “Altura e Largura da artista”, de 2022.

A sugestão de movimento do corpo surge também subentendida nestas obras sonoras, quer por meio de descrições literais, que a artista revela em “1680 metros, 2020 – 2021”, quer por via de instigações junto dos visitantes, de modo imersivo e intimista, convocando-os previamente a um exercício cinestésico do corpo; havendo lugar para avanços e recuos, e proximidade/envolvimento com as obras, como em “Field of View”, de 2010, ou “Dirty Mind”, 1995. Neste último, compreendido por um estore vermelho, fixado na parede, semiaberto, ouve-se a voz da artista que, pelo teor das frases, provoca incómodo nos visitantes. “Dirty Mind” obriga o observador a aproximar-se da obra, dado que o texto sonoro se apresenta em baixa frequência. Os visitantes são surpreendidos com as frases: ”I saw you, going in, going down, desapear”. Sentem-se eles próprios, observados, e dilacerados por elocuções que, por se encontrarem próximos da obra, instigam à ideia de estarem a fazer algo impróprio, ou desajustado. Remetendo-os a uma condição desconfortável de voyer. A narrativa sonora da artista é dirigida ao observador, amiudadas vezes, em discurso directo. Tornando-o íntimo, e cúmplice, ao mesmo tempo, da ocorrência (d)escrita, e conduzindo-o, de modo intrusivo, a uma entrada na esfera do privado. O espectador, simultaneamente invadido, é também ele, um invasor. E isto em estados ininterruptos de loop, em que as palavras e frases vão descrevendo movimentos centrípetos, sugerindo-nos excrescências de outros tempos, como quando André Breton, enquanto estudante de medicina [1], rodeado de testes de associações livres e de interpretações dos sonhos [2], desenvolvia um trabalho, inspirando-se no automatismo do surrealismo inicial [3], na observação de neuroses traumáticas [4] e na noção de repetição compulsiva de Freud [5].

A exposição Hello! Are You There?, com curadoria de Isabel Carlos, é uma larga retrospectiva da obra de Luísa Cunha, que se estende por trabalhos realizados de 1992 a 2022, reveladora da dimensão multidisciplinar da artista, e onde se pode observar desde a manipulação do vídeo, ao desenho, com “Relva, #1 – 18”, 2005, e “Words for Gardens”, 2004, ao desenvolvimento de obras recorrendo à escultura, pintura, fotografia e instalação.

 

 

 

Carla Carbone
Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador.

 


:::

 


Notas

[1] FOSTER, H (2000). Compulsive Beauty. The MIT Press. Pág. 1.
[2] Ibidem
[3] Ibidem
[4] Ibidem
[5] Ibidem

 



CARLA CARBONE