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Em bicos de pes, 2021.
O Projecto Ruínas é um colectivo de artistas que, através do teatro, se encontra para criar qualquer coisa que não conhece. Mais concretamente, espectáculos e vídeos construídos a partir de um processo que começa do zero, ou muito perto disso, através de improvisações à volta de um conjunto de ideias extraídas da dissecação de uma sinopse.
É um processo que obriga a uma grande disponibilidade para o risco, para a angústia da criação, um acto falhado à partida. Mas é isso que nos motiva. Desde o princípio, desprovidos de uma agenda consciente e deliberada, de idealismos, de obrigações estéticas, sem a ética da seita, aceitámos que o caminho iria ser longo e difícil, mas que era pela essência da experimentação e da improvisação que queríamos procurar dentro de nós os impulsos das nossas ansiedades criativas.
Gradualmente evoluímos para momentos no percurso em que tivemos de reequacionar os processos, para manter a chama da criação viva, e evitarmos cristalizar fórmulas.
O processo reinventa-se várias vezes ao longo dos 22 anos de criações. Sempre diferentes, umas mais que outras, em cada processo procuramos evitar receitas e partir do zero, para não nos aborrecermos.
Function ou A Função, 2021.
No percurso passámos por uma fase inicial de criações em volta das ruínas, em site specific e em que os espectáculos eram constituídos por repetições de improvisações que trabalhávamos durante quinze dias, separadas por momentos não narrativos ligados às instalações com que cenografávamos o espaço. As personagens eram bufões que ocupavam os espaços e que conduziam os espectadores pela ruína.
Cansados de transformar ruínas em espaços de espectáculo, passámos para uma etapa em que tomámos a missão de fixar as improvisações em texto através do devising. O devising é um processo de criação baseado principalmente em improvisações, com o objectivo de construir um guião, o qual vai sendo aprofundado a cada nova improvisação, até à eventual fixação do texto e da acção do espectáculo. É também um processo de escrita criativa assente nas contribuições de cada artista, o que leva tempo. E nós tínhamos mais tempo e recursos para ensaiar, as ruínas não eram tão "pesadas", tão difíceis de cenografar e iluminar, e introduzimos a plateia para unificar o ponto de vista do público. Esta fase durou muito tempo, e foi evoluindo com o devising como guia. Nela entrámos finalmente no teatro, no edifício e nas suas aparentes regras. Até ao ponto de, em 2011, criarmos um gerador de sinopses para improvisação, recorrendo ao computador. Tínhamos chegado a um fim qualquer, e entregamos-nos à vontade da máquina.
Seguiu-se uma fase em que o texto aparece sobre uma coreografia dos corpos. A improvisação centra-se na acção e no movimento, e só mais tarde se aplica um texto que vem pontuar a base coreográfica, como a melodia sobre os acordes. Esta fase dura até hoje, com algumas variações e exceções para desenjoar, e é o resultado de todo o percurso e dos seus sucessos e falhanços.
No futuro queremos continuar a evoluir o processo e não sabemos o que nos reserva.
Mas queremos continuar a falhar, a alimentar o espírito com o frágil e o inacabado, o desconhecido. Também por isso, as nossas criações provocam um espaço mental diferente no espectador, um conflito entre sensações e pensamento que desafia a uma interpretação individual. Para nós é a forma mais eficaz de partilhar o processo.
Norma, 2016.
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Francisco Campos
Nasceu em Lisboa, em 1969. Estudou Arqueologia na Faculdade de Letras, e Teatro no I.F.I.C.T. e na École Philippe Gaulier, em Londres, e em Paris. Encenou pela primeira vez em 1995 o espectáculo “O Passeio de Buster Keaton e outras histórias”, de Lorca, e fundou a Real Companhia o Mosquito.
Ultimamente, participa predominantemente em espectáculos de autor e co-criações. É fundador e diretor artístico do Projecto Ruínas com sede em Montemor-o-Novo, com Susana Marques e Sara Machado da Graça, para o qual criou de raiz trinta e cinco espectáculos e onde trabalha como autor, encenador e actor.
Catarina Caetano
Lisboa, 1985. Mestre em Teatro – especialidade Arte do Ator (2009) e Licenciada em Teatro pela Universidade de Évora (2007) Em 2007 iniciou a sua vida profissional na área do Teatro e, desde então, tem trabalhado em inúmeros projectos como actriz, criadora, produtora e formadora.
O foco do seu trabalho como actriz prende-se com a pesquisa corporal e treino do actor. É também nesse sentido que frequenta vários workshops e formações, nomeadamente nas áreas das potencialidades do corpo em cena, da dança, das artes circenses, técnica clown, entre outras.
Procura novos caminhos para fazer o Teatro chegar a todas as pessoas, novas formas de atrair comunidades e estimulá-as para o gosto pelas artes performativas. Não propõe propriamente educar públicos, mas sim utilizar o Teatro e as expressões dramática e corporal como ferramentas de educação, sensibilização, crescimento e novas descobertas. Nesse sentido, cria os projectos Oficina de Teatro e Oficina do Imaginário, em parceria com o Município de Montemor-o-Novo, e colabora com grupos de teatro amador e juvenil locais como formadora e encenadora.
Desde 2016 procura o seu espaço de criação, a sua identidade como criadora individual, explorando possibilidades e linguagens estéticas diferentes, contando com nove espetáculos de sua autoria e co-criação em sinergia com alguns cúmplices artísticos.
Integra a equipa do Projecto Ruínas desde 2011.
Inês Abrunhosa
Porto 1992. Conclui o curso de Artes Plásticas pela Universidade do Porto e é desde 2011 que desenvolve trabalho na área da cultura. Desdobra-se em projectos pessoais e colectivos nas áreas da ilustração, música e produção cultural.
Colaborou com diversas estruturas culturais tais como a Casa da Música, a Ritmos - Produção de Eventos, no Museu Nacional de Arte Antiga e nos festivais Paredes de Coura e Primavera Sound, com o Sismógrafo, Pessa - Atelier Criativo, Turbina, Oficinas do Convento, Oficina da Criança e Casa do Lado.
Desde 2020 é produtora do Projecto Ruínas em Montemor-o-Novo.
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