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SEMINÁRIO “OS DANDIES DA ARTE, A ARTE DOS DANDIES” EM LISBOA2015-04-23A relação entre artistas e dandies sempre foi espinhosa: uma atração fatal que grampeia e fere aqueles que se sentam para a analisar. Depois de Balzac, Barbey e Baudelaire, interessou a Wilde e Proust e desembocou nos escritos de Duchamp e Warhol. É possível ser-se um artista e dandy? Talvez apenas a partir do Século XX, quando a própria definição de arte se altera (talvez efeito do próprio dandismo). Porque, de acordo com seu sentido tradicional, o dandy não produzia nada além de si mesmo. Não era pouco, porém não deixava rastro: era tudo influência e aparência que se desvanecia, quando os olhos que o olhavam e as bocas que o comentavam se dissipavam. Se o dandy é um artista, é-o tortuosamente. Barbey referiu-se a Bello Brummell, antecessor de todos os dandies modernos, como: "Um grande artista à sua maneira; só que a sua arte não era especial, não acontecia a um dado momento. Era a sua própria vida. O seu valor só podia ser dado quando em acção. A obra do dandy é a influência que exerce no seu meio envolvente. Uma alquimia semelhante à que se aplica à obra de arte desde Duchamp. Se não os olham bons olhos, o urinol e escorredor de garrafas retornam à sua condição de coisas comuns. Quando o artista, desde Nova Iorque instruiu a mudança do seu estúdio parisiense, a emprega de limpeza deitou fora os seus primeiros ready-mades: indo-se o mestre, o seu rastro é lixo. O mesmo deve ter acontecido com os móveis e as quinquilharias de Brummell, leiloados após a sua vergonhosa fuga para a França: o que eram as gravatas, o tabaco e as famosas porcelanas ao tornarem-se órfãs do seu dono? A arte do dandy é uma arte de vontade e intenção, não de esforço. Ou, pelo menos, de um esforço supremo (tanto que se parece perigosamente a uma apatia): o necessário para suster, apenas pelo querer e somente enquanto o queira, a condição artística de qualquer coisa: um nó de gravata, um não ir a um jantar, uma roda de bicicleta, uma lata de sopa. Há uma genealogia de dandies anti-artistas que vai de Brummell a Wilde e Cocteau, que congela no mínimo absoluto do fogo frio de um Duchamp, jogador de xadrez mudo, que floresce nos bigodes-slogan de um Dalí autoconvertido tanto no produto como no próprio anúncio publicitário do mesmo, e termina, é claro, em Warhol e na sua viagem de inverno do A para o B da arte (e de volta), em Beuys e nas suas magias, e em Yves Klein e as suas provocações. E não pára por aí. A necessidade descrita por Susan Sontag, "como ser um dandy na era da cultura de massas", é agora mais angustiante do que nunca. O artista dandy tornou-se num artista-marca: Murakami, Koons, Hirst e muitos outros são talvez agora o epítome do dandy que sabe, de acordo com Barbey, "elevar-se à qualidade de coisa". Actualmente, fazer de si mesmo a obra de arte acaba por levar, é claro, à criação de uma empresa com franquias de si mesmo. A aparência tornada essência, a influência mágica, símbolo silencioso e mortal: talvez, em última instância, a essência do dandismo acabe por se resumir no logotipo. Quatro sessões sobre quatro casos indispensáveis da arte do século XX (Duchamp, Dalí, Warhol, Murakami/Hirst/Koons) O seminário será realizado em espanhol Formador: Javier Montes Datas: Dias 28 (18h30-20h30), 29 (18h30-20h30) e 30 Maio (10h-12h e 14h-16h) INSCRIÇÕES Departamento Educativo CARPE DIEM Telefone: +351 211 977 102 Email: s.educativo@carpediemartepesquisa.com 5ª a Sábado > 14h / 19h Rua de O Século, 79 1200-433 Lisboa Informações e Inscrições http://www.carpediemartepesquisa.com/pt-pt/content/seminário-os-dandies-da-arte-arte-dos-dandies |