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PARA ALÉM DE PARIS![]() TERESA CASTRO2007-10-16![]() Museus e centros de arte contemporânea em Île-de-France Paris já não é o que era, dizem as más-línguas da arte contemporânea. Hoje, tudo o que de importante se passa nesse universo em constante movimento tem lugar em Londres ou em Berlim, se não noutras “capitais” que a lógica da globalização redistribui incessantemente num mapa, onde as periferias de ontem são os centros de amanhã. Apesar do que se pensa, a capital francesa possui um conjunto notável de instituições dedicadas à produção artística contemporânea. Todos conhecem o Centre Georges Pompidou, o Musée d’Art Contemporain de la Ville de Paris, o Palais de Tokyo ou a Fondation Cartier pour l’Art Contemporain; todos começam a conhecer a Maison Rouge (uma fundação privada inaugurada em 2005) ou o Plateau (que gere as mais de 700 peças do Fonds Régional d’Art Contemporain Île-de-France); e muitos ainda frequentam as inúmeras galerias espalhadas pela cidade. Junte-se a este panorama um conjunto de centros culturais particularmente dinâmicos, como o Centre Culturel Suisse ou o Centre Culturel de la Finlande à Paris e a cidade parece deixar muito pouco a desejar... Vindo contrariar a ideia segundo a qual para além da muralha rodoviária que delimita Paris – o famoso “périphérique” - nada de interessante se passa, algumas das mais recentes e activas instituições dedicadas à arte contemporânea situam-se fora da cidade. Defendendo quase sempre propostas arrojadas e distinguindo-se, invariavelmente, pelo seu dinamismo, todos estes locais constituem um bom exemplo de como a criação contemporânea pode constituir um pólo de desenvolvimento e de requalificação urbana. Aqui ficam algumas notas soltas a propósito de três dentre eles. MAC / VAL, Musée d’art contemporain du Val de Marne Vitry-sur-Seine Inaugurado em finais de 2005, o MAC / VAL apresenta-se, orgulhosamente, como o primeiro museu de arte contemporânea na periferia de Paris. Situado em Vitry-sur-Seine, a sul da capital, o espaço tem razões de sobra para se sentir orgulhoso: no primeiro ano de actividades, contou com 135 000 visitantes, assumindo-se no panorama paisagístico e cultural da cinzenta Vitry como uma verdadeira lufada de ar fresco. Um enorme jardim público de 10 000 metros quadrados rodeia o amplo espaço museológico onde, para além de exposições permanentes e temporárias, os visitantes podem consultar um excelente centro de documentação e beneficiar duma programação cinematográfica. Uma área de alojamento para artistas estrangeiros em residência vem completar este amplo complexo cultural, que seduz de imediato, tanto pelas suas instalações, como pela simpatia do pessoal de acolhimento. A colecção do MAC / VAL começou a ser constituída nos anos oitenta pela municipalidade do Val-de-Marne, contando actualmente com mais de mil peças que ilustram a produção artística francesa desde os anos cinquenta até à actualidade. São estas obras que constituem o objecto da exposição permanente, repensada um ano depois da inauguração do museu, de forma a permitir a rotatividade das peças. A exposição temporária, intitulada “Stardust ou la dernière frontière”, inaugurou no dia 5 de Outubro: reunindo cerca de quarenta artistas, franceses e estrangeiros, é dedicada ao “céu, aos astros, à ideia de si próprio e do algures”. Centre d’art contemporain de Bretigny Bretigny-sur-Orge A sudeste de Paris, em Bretigny-sur-Orge, situa-se um dos Centros de arte contemporânea mais dinâmicos da região de Île-de-France. Contrariamente ao MAC / VAL, este centro não possui instalações construídas de raiz para o acolher: a ocupação e transformação do espaço tem sido realizada ao longo dos anos e ao sabor das actividades, traduzindo bem uma realidade da política cultural francesa que o Centro tem sabido explorar em seu favor. Uma das suas linhas de orientação concentra-se, precisamente, sobre a questão arquitectónica e paisagística, particularmente importante para as comunas e municípios que rodeiam a capital. Na verdade, um dos desafios comuns a todas estas instituições – que o centro de Bretigny ilustra melhor do que qualquer outra – é, precisamente, o de conseguir criar, em zonas muito depauperadas (quanto mais não seja do ponto de vista paisagístico) um pólo criativo e cultural capaz de envolver as populações locais e de atrair até si os públicos já constituídos. Várias exposições têm explorado este tema, tentando perceber como a especificidade supostamente “negativa” de um lugar pode ser transformada em algo de criativo e dinâmico. Le Cube. Centre de création numérique Issy-les-Moulineaux O “cubo” de Issy-les-Moulineaux é, em França, “o primeiro espaço cultural inteiramente dedicado às artes digitais”. Criado em 2001, este centro tem respondido muito bem a vários desafios particulares, desde o acesso às novas tecnologias à formação de públicos numa área especialmente delicada da criação contemporânea. A programação e actividades do centro distinguem-se pela sua diversidade: entre as suas apostas maiores contam-se as incontáveis acções pedagógicas dedicadas a adultos, adolescentes e crianças. Para além das exposições e encontros com artistas, o “cubo” tem vindo a assumir um papel de relevo no debate sobre a sociedade digital, acolhendo e organizando diferentes acontecimentos, ou representando a França em fóruns internacionais. No próximo ano (em Junho de 2008), o “cubo” promete uma terceira edição do seu festival de arte digital, o “Le Cube Festival”. Se estas três instituições ilustram bem três situações distintas, mas igualmente exemplares, alguns outros locais são igualmente dignos de atenção, apresentando quase sempre uma programação digna de visita : La Galerie en Noisy-le-Sec (um Centro de arte contemporânea desde 1999); o Centre artistique et culturel du Domaine de Chamarande; o Centre d’art contemporain d’Ivry e o Centre photographique d’Île-de-France. Este último, situado em Pontault-Combault, apresentou recentemente a exposição “L’Île de Morel”, organizada por uma jovem comissária portuguesa, Joana Neves, e incluindo, entre outros, os artistas Daniel Malhão e Manuela Marques. |