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EXPOSIÇÕES ATUAIS


António Bolota, Cume 2016 © FEA, Foto: Bruno Lopes


António Bolota, Cume 2016 © FEA, Foto: Bruno Lopes


Reto Pulfer, Templo da Memória Intemporalidade 2015-2016 Acrílico, lápis, aguarela em lençóis e linho, ervas ©Reto Pulfer


Reto Pulfer, Templo da Memória Intemporalidade 2015-2016 Acrílico, lápis, aguarela em lençóis e linho, ervas ©Reto Pulfer


Reto Pulfer, Estado de Desidratação Estado Bruto 2015-2016 Têxteis, cerâmica, outros materiais ©Reto Pulfer


Reto Pulfer, Estado de Desidratação Estado Bruto 2015-2016 Têxteis, cerâmica, outros materiais ©Reto Pulfer


Reto Pulfer, Estado de Desidratação Estado Bruto 2015-2016 Têxteis, cerâmica, outros materiais ©Reto Pulfer


Reto Pulfer, Casas da Memória: Reanimação de uma Infância específica 2015-2016 Acrílico, tinta, lápis, tecidos, lençóis e linho ©Reto Pulfer


Michael Biberstein Estate, s.d Acrílico sobre linho, 2006 ©FEA, Foto: Bruno Lopes


Seleção de telas inacabadas do arquivo do Michael Biberstein Estate, s.d.©FEA, Foto: Bruno Lopes


Sem título, 1974, Acrílico sobre gaze e algodão e bamboo ©FEA, Bruno Lopes e Sem título, Acrílico sobre algodão e bamboo ©FEA Foto:Bruno Lopes

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ARQUIVO:


ANTÓNIO BOLOTA / RETO PULFER / MICHAEL BIBERSTEIN

CUME / ESTADOS DE REMEMORAÇÃO / REALIDADE SUSPENSA




FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA
Páteo de São Miguel, Apartado 2001
7001-901 Évora

23 JAN - 01 MAI 2016


 

A Fundação Eugénio de Almeida tem patente neste momento três exposições: “Cume”, de António Bolota; “Estados de Rememoração”, de Reto Pulfer; e “Realidade Suspensa”, de Michael Biberstein. Estas exposições estão integradas na programação que a Fundação dedica à comemoração do 30º aniversário da classificação de Évora como Património Mundial pela UNESCO. Assim, a memória, a articulação entre o passado e o presente, a evocação, a experiência do lugar, a paisagem, a persistência e o temporário, são alguns dos temas que perpassam pelas três propostas expositivas.


Ainda antes de entrar na Fundação podemos ver a proposta de António Bolota, “Cume”, onde este recorre à técnica tradicional da construção em taipa para erguer um muro em forma de “L” mesmo à porta do edifício. Este muro não é, no entanto, uma barreira. É um muro que não fecha nada, um muro que não separada. Não há um dentro e um fora, “Cume” é mais um limite, é o chegar ao limite. É sobretudo uma exploração da ideia de construção, através da evocação do trabalho manual e de técnicas tradicionais repetitivas, e também um questionamento da ideia de património construído como algo monumental, imutável.
Esta é uma obra exposta à intempérie, ao tempo não resguardado do exterior, em oposição ao tempo protegido do museu. É um objecto quase orgânico em comparação com a arquitectura envolvente, na fronteira entre o tradicional e o contemporâneo.

 


“Têxteis de boas vindas” no país da memória reanimada

 

“Estados de Rememoração” é a primeira exposição em Portugal do artista suíço Reto Pulfer, resultante de uma residência artística no Moinho da Fonte Santa, o atelier de Michael Biberstein no Alentejo, onde este viveu e trabalhou.

 

Por cima da porta de entrada da exposição, um tecido em faixa cai preso por pregos. Outro cobre a parede lateral esquerda. Este azul, o de cima esverdeado. Manchas como continentes de um mapa envelhecido, orografias de expansão de tintas. São os “Têxteis de boas vindas”.
Já se vê aqui a corda que liga mais adiante os tecidos e que se estende subtilmente por toda a exposição, numa espécie de fio de pensamento que percorre o espaço.

 

As obras de Pulfer, muitas vezes pinturas em tecido e em forma de instalação, apresentam-se como “estados”, espaços transitórios que derivam de um processo de trabalho assente na memória. A memória é constructora, pega em materiais encontrados, objectos do quotidiano, e cria instalações habitáveis. Cada instalação propõe um estado temporário, que é activado pelo visitante. Como na série “Casas da Memória”, onde estruturas em tecido em forma de tenda convidam o visitante a entrar e a reanimar memórias, por exemplo, da infância (“Casas da Memória: Reanimação de uma infância específica”, 2015-2016).

 

Logo na primeira obra de parede com que nos enfrentamos ao entrar, “O vale do esquecimento é rodeado por uma longa escada com um degrau” (2015), os textos nela escritos, quase imperceptíveis, riscos de tinta, apagados num mar de colorações, provêm de uma novela que Pulfer tem em construção, “Gina”. “A acção decorre num cenário de ficção científica, numa sociedade pós-apocalíptica onde o protagonista sobrevive num ambiente que se assemelha a um deserto”, descreve Reto no texto sobre a exposição. A “paisagem desidratada” que é pano de fundo à novela tem ecos em traços e troços inscritos e cosidos na tela. Esta está enrugada, esticada e segura por pregos, como uma coisa que se abre para ser vista, mas que perde a forma se a tirarem da parede. É preciso dar forma material à memória.

 

Grandes e volumosas massas de tecido escuro estão suspensas sobre as nossas cabeças ao entrar no segundo “estado” proposto pelo artista, “Estado de desidratação. Estado bruto” (2015-2016), que remete para a demência, e como esta proporciona uma visão diferente do nosso mundo. Formas variáveis, cosidas assimetricamente como remendos - numa turvação que paira sobre nós à entrada – têm fitas e cordas pendentes que tocam os tecidos estendidos em baixo numa plataforma onde objectos repousam, restos de materiais, cerâmicas, pedras, sementes e especiarias, madeiras. Cada objecto tem uma história, mas ao mesmo tempo estão todos interligados.
Esta plataforma ocupa todo o espaço da sala e obriga o visitante a circular junto às paredes, a fazer um percurso estreito em roda deste mapa tridimensional gigante, quase maquete de um território feito de reminiscências, de junções de imagens, cheiros, toques dispersos ao longo do tempo, dos lugares. A instalação “foge” para uma abertura irregular feita na parede de pladur, que agora deixa ver o largo em frente à Fundação, de onde pende um pequeno objecto solitário.
A corda de tecido que suspende o sistema de tecidos, produzida especificamente para a exposição e segundo um padrão desenhado pelo artista, prolonga-se para a sala seguinte onde novas suspensões de tecidos e objectos criam um equilíbrio de pesos e linhas que igualmente se encaminham para fora do espaço expositivo, através de uma abertura na parede de onde se vê o Templo de Diana.
Há uma tentativa de criação de um fio condutor, de ligação física e simbólica entre momentos, “estados” propostos. E uma relação sempre presente com a cidade, a vida lá fora.

 


“O inacabado como categoria estética”

 

Ao subir a escada para o terceiro piso, um pedaço de tela inacabada do espólio de Michael Biberstein marca a parede e faz-nos pensar “que objecto é este?” Uma obra? Um documento? “Uma realidade deixada em suspenso”, como poderemos ler depois no texto de parede.

 

A exposição “Realidade Suspensa”, com curadoria de Reto Pulfer, junta obras e fragmentos do trabalho de Michael Biberstein, dando uma visão particular sobre o seu processo e sobretudo o seu atelier e materiais, espaço ao qual Pulfer teve acesso e onde teve oportunidade de trabalhar.

 

“A minha decisão de incluir uma selecção de telas inacabadas empurra a conversa na direcção de outro campo de pensamento exploratório: Qual é a matéria-prima de um artista? O que é, em termos gerais, processo? O que acontece entre o artista, a obra de arte e o espectador quando entendemos um acto criativo como completo? Como é que a mente opera no acto de projectar na tela uma imagem nunca vista? Poderemos considerar o inacabado, por si só, como uma categoria estética?” (Pulfer no texto sobre a exposição)

 

“Collider” (2006), que inicia o percurso expositivo, dá-nos a evocação do trabalho de Michael Biberstein. Impõe-se como “a obra” tal como a imaginamos.
Na sala contígua encontram-se um conjunto de peças recriadas de uma exposição que Biberstein fez em 1974. Uma outra evocação que traz à tona um trabalho esquecido. Apoiado num plano de equilíbrios e fragilidades, tudo aqui é delicado: o bambu leve e fino, a gaze transparente. Os sistemas de dobras e enrolamentos objectivamente mostram que o dinamismo aparente afinal não funciona.

 

Reto transportou o bambu como estrutura que dá forma, sustento, para a sala seguinte, onde podemos ver restos de telas de Biberstein pendentes de uma cana de bambu. E telas que nunca viriam a ser obras de Biberstein ocupam a sala seguinte, com o objectivo nome de “selecção de telas inacabadas”. São telas com manchas, buracos, formas que ficaram a meio caminho entre o objecto e a obra.

 

No Gabinete do Inquisidor, pequena sala com tecto profusamente decorado, no chão repousa uma pedra do topo da qual escorrem cores em camadas sobrepostas. Uma concentração num ponto de cores sem forma, cores em estado bruto, em oposição às cores minuciosamente trabalhadas do tecto.

 

O incompleto, o processual - o diálogo que Pulfer teve e propõe com a coisa inacabada – são aqui usados também para reactivar uma memória que tinha ficado em suspenso, parada.

 



LIZ VAHIA