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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Still do vídeo Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.


Still do vídeo Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.


Still do vídeo Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.


Vista da exposição Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.


Vista da exposição Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.


Vista da exposição Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo, Maus Hábitos.

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THIAGO MARTINS DE MELO

BÁRBARA BALACLAVA




MAUS HÁBITOS - ESPAÇO DE INTERVENÇÃO CULTURAL
Rua Passos Manuel, 178, 4º
4200-382 Porto

14 JUN - 29 JUL 2018


 

É a primeira vez que Thiago Martins de Melo expõe em Portugal, o que se concretiza pela mão do curador Moacir dos Anjos. Tanto um como o outro já adquiriram um importante reconhecimento dentro do panorama artístico contemporâneo, para além do país de onde ambos provêm, o Brasil. A forma como se apresentam, no espaço de intervenção cultural Maus Hábitos, é uma entrada marcante no contexto português.

Na sala de exposições, contrapõe-se uma produção imagética em movimento, bárbara balaclava, forte e veloz e que nomeia a exposição, com um quadro fixo, imóvel. Este último não se trata, contudo, de uma pintura pacífica, mas densa e plural, composta por uma sobreposição de figuras e cores através de traços e rastos das pinceladas fortes que permitem imaginar a ação, o momento em que marcaram a tela com a expressão do artista. Com o título Caçada de Onça sob o Sol de dentro, este óleo sobre tela mostra o animal, o homem, a relação entre eles, contendo ainda outros significados escondidos. Esta peça, produzida no Porto especialmente para a ocasião, funciona tanto como ponto de partida como de término na visita da exposição.

O caráter visceral patente no trabalho de Thiago Martins contrapõe-se com a beleza cromática já habitual e esperada em tudo o que o próprio produz. É assim que o filme de animação bárbara balaclava se apresenta entre uma violência figurativa e uma, também intensa, trilha sonora, que não acompanha de um modo absolutamente coincidente os 4000 frames de pinturas que compõem a obra, por vezes, o relinchar de um cavalo sobre as imagens de um homem que é o protagonista. Porém, é precisamente o som que conjuga tudo, desenvolvendo-se a um mesmo passo que a ação do personagem. Como tal, o resultado que se apresenta é de uma clareza absoluta e, através destas duas expressões, a visual e a sonora, inscreve-se uma narrativa, aspecto este sempre presente no trabalho do artista brasileiro. Thiago Martins reconhece essa característica como algo já pouco habitual na pintura contemporânea e identifica que o figurativo parece estar em desuso, em relação a uma crescente preferência pelo formalismo. Para si, o mais forte é a dinâmica do arquétipo, da imagem, do signo. As suas representações não se tratam, portanto, de algo linear, mas possibilitam a transição entre distintas realidades e significados que o próprio atribui e aqueles que todos os outros poderão identificar e construir. O artista, com formação em psicologia, compreende que a pintura pode ser o meio de transporte de uma complexa rede de símbolos e de significados políticos, éticos e étnicos.

No que diz respeito à narrativa que se apresenta no vídeo de 14'37'', é fictícia mas não deixa de conter elementos do real, do presente e do passado das populações nativas do Brasil. O ponto de partida de Thiago Martins é, de facto, a história das comunidades que, hoje, compõem o seu país, que, por mais que avance no tempo, terá, sempre e inevitavelmente, cravados na memória os horrores da escravatura e das lutas que nele se desenrolaram. O artista, originário de São Luís do Maranhão, região pré-amazónica, procura dar uma imagem e uma materialidade ao que o povo brasileiro construiu, dando-lhe visibilidade, expondo-o e, assim, aproximando-o do resto do mundo. Explica que "não sendo negro, não o sinto na pele, mas faz parte de mim". O seu interesse pelo movimento pós-colonialista e o que o precedeu, problemáticas particularmente complexas, reflete-se de um modo, também ele, intrincado e de leitura mais demorada para o espectador, apesar do impacto visual imediato.

A obra que se apresenta não se assume somente como um olhar para trás, mas também como absolutamente atual, na medida em que, hoje, se enfrenta no Brasil, mais uma grande crise social e política, semelhante à do ano de 64, com golpes políticos e acontecimentos onde a brutalidade ressurge, física e verbalmente, agitando um país já profundamente marcado. O artista anuncia que o seu próximo trabalho vai debruçar-se, precisamente, sobre aquilo que designa como guerra civil. Como Moacir dos Anjos refere, através da prática artística contribui-se para que estes movimentos deixem de estar silenciados. O curador explica que há uma atual corrente de artistas que se move nesse sentido, com estas mesmas preocupações e destaca Thiago como uma das suas vozes mais contundentes.

Tanto no vídeo como na tela encontram-se, subtilmente inseridas, imagens de cartas de Tarot e de elementos de culto do voodoo, que o artista reforça ser muito diferente do estigma criado pelos Estados Unidos da América. Juntam-se, ainda, referências a mitos, rituais, crenças e sexo, compondo, assim, um amplo leque de possibilidades interpretativas e de compreensão. Essas representações acrescentam mais uma camada e dimensão a este trabalho, cujo pleno descobrimento apenas é possível através de uma certa dedicação no momento da recepção e da experiência da obra.

A atual exposição consiste, pois, num trabalho que requer ser visto com tempo. Nele, tal como na feitiçaria, o olhar do espectador tende a ser hipnotizado e afetado pela cor, pela imagem, pelo som, pela força de expressão que ecoa pelo espaço que habita, onde se expõe. Bárbara balaclava permite conhecer melhor não só o Brasil e a sua população, mas também a natureza do homem, o seu lado mais nativo, conectado com a terra, a vida e a morte, tudo o que constituiu o mundo antes do controlo da política, da economia e do consumismo, a par do questionamento do político e do social. É, pois, um trabalho que permite voltar à raiz, ao começo de toda uma cultura, numa incansável procura de identidades em oposição ao domínio da massificação e homogenização social. É uma obra da liberdade, do Brasil, do artista e de todo o homem.



CONSTANÇA BABO