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DIOGO COSTA AMARANTEBE YOUR SELFIE![]() SOLAR - GALERIA DE ARTE CINEMÁTICA Solar de S. Roque Rua do Lidador Vila do Conde 17 JUL - 28 AGO 2021 ![]() To be or not to be your selfie![]()
Do mundo como palco ao mundo como pano de fundo onde nos podemos visualmente insertar, vai um smartphone de distância. “Encontrar alguém a fotografar ou a fotografar-se tornou-se um elemento constitutivo de toda a paisagem”, é isso que diz Diogo Costa Amarante no início do texto sobre a sua exposição que está patente neste momento na Solar – Galeria de Arte Cinemática, em Vila do Conde. Intitulada Be Your Selfie, a exposição pretende reflectir sobre a produção e disseminação de imagens como um bem de consumo instantâneo, que se esgota em pouco tempo no meio do turbilhão de imagens das redes sociais. Para Diogo Costa Amarante, “quando o reconhecimento se substitui à descoberta”, é todo um círculo de fotografia-decepção que acaba por provocar um fenómeno de exaustão dos espaços e uma necessidade permanente de afirmação da existência individual. A exposição começa precisamente com um vídeo que nos mostra estes turistas de si em plena actividade, num museu para selfies (na Tailândia, segundo informação da assistente de sala). Com o vídeo, seguimos os pares e os grupos num frenesim fotográfico por entre uma espécie de dioramas “self service” ou réplicas de famosas obras de arte. Há, portanto, vídeos que se apresentam sozinhos e outros em projecções paralelas, que de certa forma se complementam ou que reforçam mesmo a ideia de que estamos perante uma imagem, como no vídeo em que a imagem aproximada do macaco do zoológico fica por instantes parada. Ela pode ser semelhante a uma coisa viva, mas ainda assim é uma imagem (que olhamos e que nos olha). O irónico é que o macaco parece olhar os visitantes do parque com mais sagacidade que os próprios olham o macaco, informes que são como multidão. No canto do vídeo vemos um homem a subir uma rede e a ficar na mesma posição que o macaco. Quem é que é o espectáculo? Também no vídeo onde se vê uma dinossáurica girafa a fazer um aparentemente honesto discurso reflexivo, há este lançar constante da dúvida sobre o que vemos. Que fazem aquelas pessoas que passeiam para cima e para baixo, o que procuram? O que olham? A girafa de voz electrónica lança-nos uma paródia de discurso lamurioso contra a sociedade capitalista: “I’m here, I’m crying, I’m sensitive. You said I was special...” Ao seu lado, cabeças explodem ao som de tiros vindos não se sabe de onde. No vídeo onde se vê um plano aproximado do mesmo local, esses mesmos decapitados continuam na sua tarefa fotográfica normal, como se nada fosse. A instalação vídeo dispersa-se pelas salas da galeria, desdobra-se em partes que ocupam pequenos ecrãs, grandes projecções, projecções perpendiculares... A experiência do espaço físico da galeria influi na aproximação à imagem vídeo, como no corredor em curva onde um vídeo de um “mar de sangue” nos acolhe demasiado perto e nos leva ao que quase naturalmente vemos como o culminar da exposição: um vídeo onde uma mulher colossal dança uma dança de varão em cima de uma ilhota, ao som do hino nacional! A exposição articulou-se com um programa de 7 curtas escolhidas pelo artista, projectado durante o festival Curtas Vila do Conde. Entre a exposição e o programa de curtas há uma continuidade através da presença da água, como a primeira superfície de reflexão da natureza, e de uma certa indagação existencial, como o pensar mudo do anjo de Joseph Cornell em Angel (1957), a voz dessensibilizada de Angus MacLise em Song of Avignon (1998), de Jonas Mekas, ou mesmo a busca falada de Pasolini por aquilo que poderia ser uma Índia moderna, em Appunti per un film sull’India (1968). Be your selfie leva-nos de uma girafa robótica que anseia por “vacations in the jungle, pictures, selfies, landscapes...”, ou de um mundo piscinificado, para nos conduzir depois até à possibilidade de uma imagem que nos penetre no mais fundo de nós, como escreveu Jonas Mekas no seu diário:
“Now I want to shoot my own way through myself, into the thick night of myself. Thus I change my course, my love going inwards, thus I am jumping into my own darkness. There must be something, somehow, I feel, very soon, something that should give me some sign to move one or another direction. I must be very open and watchful now, completely open. I know its coming. I am walking like a somnambulist waiting for a secret signal, ready to go one or another way, listening into this huge white silence for the weakest sign or call.” (Song of Avignon, 1998)
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