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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Observatório Astronómico © Paralaxe/OA


residência no Observatório Astronómico ©Didático Obscuro


residência no Observatório Astronómico ©Paralaxe


Exposição Fenómeno ©Paralaxe


Exposição Fenómeno ©Paralaxe


Juliana Campos, fotografia aérea © Paralaxe


Caixa de Luz Beatriz Brum ©Paralaxe


Flechas de José Taborda ©Dose

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Figurinos para a novela galáctica de yy.gemini.yy ©Paralaxe


João Pedro Trindade ©Dose


João Pedro Trindade ©Dose


Carlos Mensil ©Dose


Ece Canli ©Dose


No atelier com a Luísa © Filipa Almeida

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Galeria Presença (Porto), Porto
CONSTANÇA BABO

ARQUIVO:


COLECTIVA

FENÓMENO




GALERIA DO SOL / RUA DO SOL
Rua Duque Loulé 206
4000-324 Porto

17 JUN - 03 JUN 2022

Alerta Fenómeno!

 

 

Observatório Paralaxe é um projecto de investigação em arte com foco no cruzamento disciplinar, ocupando territórios aparentemente alheios à prática artística, assumindo-se como um colectivo -sem outra maneira possível de vir ao mundo e de existir - a partir do exercício de desdobramento e deslocação disciplinar - entre a prática artística e a investigação científica - e espaço entre como interstício, esse poro de respiração, tudo o que rodeia, circula, envolve, adentra, desloca e atravessa ambos os mundos, que se nutrem e expandem mutuamente. Voltemos ao início. Observatório Paralaxe. Observatório, a mim, faz-me pensar na frase de Anne d'Harnoncourt, numa entrevista em que Hans Ulrich Obrist lhe pergunta que conselho daria a um jovem curador. Ela responde: "It is to look, and look, and look. And then to look again, because nothing replaces looking" [1] -olhar, sempre, como exercício de resistência, de fortaleza, opondo-se  à velocidade desenfreada do mundo e da informação - sabendo que o que vemos é o que somos - que o trabalho de uma vida inteira é, talvez, aprender a olhar, num playground de aparição e desaparecimento contínuos... E, depois, Paralaxe, que tem origem no grego parállaxis -isto é - mudança - mais uma vez, mais contemporâneo e urgente que nunca, uma declaração de compromisso atento, lutando no campo de batalha da constante mudança, na metamorfose sempre recomeçada, e sabendo que estamos no "... mundo como movimento contínuo, um incessável rasgo. Podemos ouvir a sinfonia eterna do vento, num bramido redondo e rodopiante, o movimento dos astros mudos, em expansão - para nos lembrar que aqui, agora, a cada instante - algo se mexeu." [2]

 

Sabemos que as residências artísticas no contexto científico e de investigação já existiam e que encontramos  exemplos na História disso mesmo, e sabemos também que não são contextos tão distantes quanto poderíamos pensar, exatamente porque  "ciência e arte interrogam o mundo com igual curiosidade" [3], mas o Paralaxe  tem uma organização mais informal e independente de muitos outros projectos, sendo construído por artistas, no sentido de criar oportunidade de trabalho para si próprios e para outros artistas. "A falta de oportunidades para artistas emergentes é uma realidade que importa discutir e que fecundou precisamente a criação de um projecto como o Paralaxe. É um projecto criado por artistas, capaz de gerar oportunidades de produção para outros artistas, e dar visibilidade a espaços com pouco reconhecimento cultural" [4]. 
Tanto o IGUP como o Observatório Astronómico (as duas edições até agora) são espaços de pouco reconhecimento cultural e por isso o Paralaxe propôs-se a construir e dinamizar não só um programa de exposições como novo material visual de comunicacao destes espaços.
A premissa e principal pergunta de investigação inicial do colectivo é: como é que é a prática artística que se desenvolve em relação com um espaço científico? E a sua metodologia é em formato de residências artísticas, num ambiente de total liberdade e experimentação. A primeira edição ocorreu, então, no IGUP (Instituto Geofísico da Universidade do Porto) e venho aqui escrever e partilhar a minha rápida passagem numa parte da segunda edição, que começou com uma residência no Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros, onde os participantes estiveram "num lugar de fauna e flora diversificadas, onde os espaços e os seus instrumentos aguardam adormecidos, cristalizando a memória de uma astronomia de outros tempos"[5] .É um espaço completamente obsoleto- apesar de ter muitas estruturas, os instrumentos de observação já não são utilizados - portanto está entre o objecto desactualizado e aquilo que poderia vir a ser um espaço museológico - e tornou-se uma casa onde quase vinte curiosos concentraram, de maneiras muito distintas e diversificadas, temporariamente a sua vida. 

As propostas do Paralaxe eram várias:

1- para estar em residência e exposição no observatório astronómico (7 convites) : Beatriz Sarmento, Bruno Silva, Carlos Mensil, Ece Canli, h0b0, Joana Ribeiro e Juliana Campos (sempre acompanhados pelas Paralaxe);

2- para estar em residência e produzir um jornal de artista (7convites): Beatriz brum no OASA (Observatório Astronómico) de São Miguel, Carolina Grilo Santos, Diana Geiroto, Didático Obscuro, Irina Pereira, Luís Cepa e Rúben Fernandes.

3 - para trabalhar em residência, ou não, e produzir uma peça para o website paralaxe (5 convites): Cinthia Mendonça, Coletivo SEM-FIM, João Pedro trindade, José Taborda e os yy.gemini.yy

 

Entro, finalmente, na Galeria do Sol, acompanhada pela Luísa Abreu (Paralaxe) e a Maria Miguel Von Hafe, que realizou, em conjunto com o resto das Dose  (Mariana Rebola e Margarida Oliveira) a curadoria desta exposição:"Fenómeno". Apercebo-me rapidamente do ambiente de processo, de acumulação de informação, de corta e cola, de junção, de encadeamento. Expostos e espalhados em cima de três estrados de metal que mais parecem levitar, estão um conjunto de ideias e processos em modo documentação da residência. Um colectivo de ideias perdidas, espalhadas, deixadas, recicladas, pensadas e, agora aqui, expostas. Ao falar com Maria Miguel ela explica-me que, em conjunto com o resto das Dose, ao receberem o convite para acompanharem o processo e fazerem a curadoria desta exposição, pensaram, primeiramente, no que significava fazer uma residência de curadoria, e a primeira ideia foi verem exposições científicas, onde repararam que tudo era tratado como documento - escolheram então trazer essa abordagem para esta exposição, onde todas as coisas não são propriamente a coisa em si, mas mais o seu caminho, os atalhos e rastos, aqui desvendados - portanto, como uma exposição do processo da residência. Noutros lugares há outras partes complementares, outras sombras deste sol espalhadas, outras posições a descobrir -  em consonância harmoniosa com o próprio processo e método de trabalho que as Paralaxe escolhem adoptar - processual, vivo, com o sangue a correr nas veias  em várias partes de um mesmo corpo que se fragmenta e se expande, agindo e trabalhando através de vários métodos. A exposição no Observatório Astronómico é outra coisa: tem as peças dos artistas que habitaram aquele espaço durante a própria residência.

Num dos lados do estrado metálico, está uma fotografia aérea do investigador José Alberto Gonçalves, do Observatório, da peça de Juliana Campos com a sua intervenção no território do Observatório - que era de uma dimensão enorme, imperceptível no próprio espaço. Curiosamente, num lugar onde tudo indica que olhemos para o céu, ela faz-nos olhar para o chão - a grelha pode ser percorrida pelo visitante, mas só é totalmente visível a partir do céu. Do outro lado, ainda neste piso, temos a caixa de luz da Beatriz Brum, onde espreitei um eclipse, cheio de sombra e de luz, as duas faces de todas as coisas - uma imagem que acabou por nao ser incluída no trabalho final, o jornal de artista, e que ela trabalhou a partir do Observatório De Santana, em São Miguel, nos Açores. Todas as imagens e todo o jornal visual que ela criou foram a partir dquele espaço nos Açores - que não tem nada a ver com o Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros -aquele espaço é totalmente pensado para a mediação de públicos e tudo funciona- instrumentos para ver o Sol, a cor, a refração da luz... portanto aquilo que nao existia na residência cá, ela tinha lá. Não há investigação científica a acontecer do lado de lá, por outro lado aqui só há investigacão e tudo o que é mediação é nulo. 
Ainda nesta sala temos o trabalho de José Taborda - também foi convidado para fazer uma intervenção no site - que parte de uma ideia de um projecto de vídeo. Como as curadoras decidem trazer coisas que são o processo, ou parte de um todo, vemos aqui expostas as flechas iluminadas, paradas, que entrarão em movimento no futuro projecto de vídeo. De yy.gemini.yy, os autores dos figurinos aqui expostos, podemos esperar uma novela galática, que filmaram no observatório, prestes a sair também no site do Paralaxe.

Vou então percebendo aquilo que está por todo o lado - vários lugares -  todos os artistas - movimento, mais uma vez. O trabalho e as propostas das Paralaxe, actua e está vivo em muitos lugares ao mesmo tempo: temos num lugar o processo (aqui), noutro a exposição das peças em si (no Observatório), no site a novela e outras intervenções de artistas satélite convidados, e ainda o formato jornal - há, portanto, coisas espalhadas pelo tempo e pelo espaço, numa totalidade partilhada, confiada a mais do que um lugar, na formação de diferentes espaços de liguagem e expressão artística, fibrosos e vivos, onde as coisas que estão num lugar completam as que estão no outro, unindo-se e tecendo-se em acção, na precisa separação em que vivem, nesse hiato irrequieto de tensão e extensão, de ligações e intervalos. Estou, portanto, neste "labirinto com vários centros" [6], que começo a sentir vivo nestas escadas em caracol que subo e desço, para aceder aos outros patamares da galeria, e que posso, neste contexto astronómico, comparar às varias camadas da atmosfera, numa subida e descida em rodopio até ao céu, ou ao Sol, por entre novelas galácticas, caixas de luz, sombras e passagens satélite. De noite, atravessando os movimentos das estrelas e da lua, com as suas superfícies mais ou menos rugosas e enigmáticas, entramos então no trabalho de João Pedro Trindade e de Cinthia Mendonça. 

Mais uma expansão do projecto das Paralaxe foi a edição do primeiro fascículo, que é um projeto de edição em fascículos que apresentam, em formato papel, os processos de trabalho de 20 artistas que trabalham no Porto- o atelier de João Pedro também entra nesse primeiro fascículo. Aqui na galeria tem exposta uma gravura calcada de papel de alumínio, material que tem vindo a utilizar na sua prática de trabalho. Entre a peça exposta na galeria e a capa de alumínio que fez para o seu fascículo há essa ligação- o material que faz lembrar a superficie lunar. De um lado vemos o prateado que ganhou rugosidade ao calcar sobre o chão, e do outro, pintado de preto e com face escura, a penumbra- aquilo que as liga são os pequenos buracos no material, de onde dá para ver passar a luz, como pequenas estrelas erráticas a dançar pelo céu, à velocidade que o nosso olhar e movimento lhes der. Depois, temos então a caixa de luz de Cinthia Mendonça, artista que está a trabalhar a partir do Brasil e que também foi convidada para o site. Aqui, uma câmara de vídeo é direcionada para o espelho de água e a lua dança em movimentos que dissolvem a sua forma - pintura, desenho, retrato. São expostos três stills desse vídeo experimental de processo.

Voltamos a descer, passando pelo piso 0, e continuamos para baixo, no prolongamento da escada em caracol. Estou a chegar mais perto das nuvens. Reações à luz e à sombra - na peça de Carlos Mensil, que só podemos ver espreitando pelo tubo e impedindo a luz de passar,  o artista utiliza o pigmento que usou na instalção no Observatório, que reaje à luz e, depois, só activa a cor na escuridão. Carlos idealizou uma instalação em que uma gota fosforescente desce por um tubo até se expandir como uma nuvem. Por fim, temos o trabalho de Ece Canli - um mapa, uma imagem de arquivo que ela recolheu no processo de fazer a performance no Observatório. A Ece foi uma artista escolhida pela editora Lovers & Lollypops, a desafio das Paralaxe, enquanto estava a preparar um  albúm novo, porque tambem é música. No Observatório foi construída uma instalação sonora "em que cartas e gráficos celestes podem também ser pautas e ecoar entre luzes saturnianas". [7]

 

Sr. Leitão com a velha © Dinis Santos 

 

Estamos a chegar ao final desta visita e a Luísa partilha comigo uma história sobre a residência anterior que, sempre inacabada e com rastos vivos, ocupa uma página do jornal desta edição. Samuel Silva, convidado a escrever, falou com o Sr. da Horta, o Sr. Leitão, a quem tinha ficado prometida uma fotografia com a "Velha", a sua galinha, pelo Dinis, artista Residente no IGUP. O Samuel ligou para o Dinis que foi ter ao IGUP e a fotografia foi tirada e colocada no jornal desta segunda edição. Mais uma vez, testemunhamos o processo e o caminho, as pessoas envolvidas e marcadas nestes tempos de residência - o que fica por dizer, por fazer, esta continuidade permanente do projecto, aqui honrada pela prometida fotografia.
A sair da galeria, ainda me é oferecida uma folha de Beatriz Sarmento - que tambem esteve em residência- com algumas coisas que lhe interessam, nomeadamente o movimento do seu corpo no espaço - "a Beatriz foi talvez a pessoa que mais experimentou o espaço com o corpo" conta-me Luísa.
Saímos da galeria e ainda visitei o atelier do Colectivo do Sol, no CCOP, onde tive oportunidade de, com a Luísa, ver com calma todas as publicações deste colectivo e de perceber o ambiente onde trabalham em conjunto - partilhando tarefas, ajudando no café, fazendo todos de tudo um pouco para que o espaço se mantenha muito vivo e visitado, na crença do colectivo, na partilha destas funções híbridas e colaborativas, em que tudo é cruzado. 
Ficou ainda por visitar a exposição no Observatório Astronómico - curiosamente fiz o caminho ao contrário - vi antes aquilo que todos viram depois, e ainda não vi aquilo que já todos viram... Certamente me trouxe uma perspectiva diferente e única sobre todos os trabalhos e artistas aqui presentes,  percebendo antes de mais o processo e, agora, em espera ansiosa para visitar as peças finais no Observatório.

Sobre o céu nao sabemos nada, e podemos continuar perdidos, ou a pairar entre os astros e a terra, mas temos ainda a coragem de o tentar experimentar e  desvendar, quem sabe conhecer; e com todos estes artistas, aceder, de alguma forma, aos seus desdobramentos, cores, luzes, buracos e aberturas- sob um véu de ficção para que lhes possamos aceder - pelas cúpulas que se abrem, na potencialidade tão flagrante como uma estrela cadente que não esperamos - se a soubermos ver.

 

 

 

Filipa Almeida

Nasceu em Lisboa, em 1996, cidade onde vive e trabalha. Licenciou-se em Ciências da Cultura e da Comunicação, na Faculdade de Letras. Realizou uma Pós- Gradução em Curadoria de Arte na Nova FCSH, um curso de Estética na SNBA, e está neste momento a realizar o Mestrado em Práticas Tipográficas e Editoriais Contemporâneas na FBAUL. 

 

 

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Notas:

 

[1]Anne d'Harnoncourt e Hans Ulrich Obrist, "Anne d'Harnoncourt" in Hans Ulrich Obrist, A Brief History of Curating (i), Zurich, JRP|Ringier, Dijon, Les Presses du réel,p.179, 2017

[2]Excerto retirado do texto curatorial da exposição Algo se mexeu (i), por Filipa Almeida

[3]David Lopes,"Residências Artísticas em espaços Científicos: precariedade, rizoma e metáfora na prática artística contemporanêa" in Jornal de arquivo(i), fevereiro/junho 2022, p.7

[4]Ibid

[5]Paralaxe, "Ver de longe" in Jornal de arquivo (i), fevereiro/junho 2022, p.23

[6]David Lopes,"Residências Artísticas em espaços Científicos: precariedade, rizoma e metáfora na prática artística contemporanêa" in  Jornal de arquivo(i), fevereiro/junho 2022, p.6

[7]Instagram observatório paralaxe 

 

 

 

 



FILIPA ALMEIDA