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COLECTIVAENSAIOS DE UMA COLEÇÃO – NOVAS AQUISIÇÕES DA COLEÇÃO DE ARTE MUNICIPALGALERIA MUNICIPAL DO PORTO Palácio de Cristal Rua D. Manuel II 4050-346 Porto 04 ABR - 19 MAI 2024 Novas Aquisições, materialidades e visualidades. A Coleção de Arte do Porto, na Galeria Municipal.
A Galeria Municipal do Porto inaugura “Ensaios de uma Coleção", uma exposição onde se apresentam as novas aquisições da Coleção Municipal de Arte, esta última criada com a finalidade de desenvolver, valorizar e democratizar o património cultural e artístico da cidade. Trata-se do segundo momento expositivo da iniciativa Aquisições, instituída em 2018, expondo-se, agora, as obras adquiridas pela coleção no ano de 2023, selecionadas por um Comité independente constituído por Mauro Cerqueira, Pedro Álvares Ribeiro e Pedro de Llano. Enquanto tal, o projeto expositivo é desenvolvido com um “apoio curatorial”, assinado por Isabeli Santiago e Patrícia Coelho. Como explicam as curadoras no texto de apresentação, a exposição organiza-se e estrutura-se mediante três eixos: as cartografias que mapeiam o contexto sociopolítico do território da cidade do Porto, os gestos que convocam diferentes linguagens e materiais, e contranarrativas, ficcionais e autobiográficas, que ativam memórias e revisitam o passado. Não devemos, contudo, na exposição, procurar delimitar os três núcleos, pois eles dialogam, relacionam-se e articulam-se num mesmo corpo. Aliás, as ligações que se estabelecem entre as inúmeras peças refletem-se no modo como a exposição se desdobra ao longo do espaço, tão dinâmica quanto orgânica, refletindo um admirável trabalho curatorial. Não obstante, poderão destacar-se, por exemplo, do eixo das cartografias, casos tais como “Criptoporto - Necropsia de uma Cidade,” de Ruca Bourbon, que ocupa quase a totalidade da parede do fundo da galeria. A instalação, constituída por materiais recolhidos entre 2001 e 2023 – mapas, impressões, recortes de revistas, jornais, livros e documentos, CDs, entre outros – propõe um arquivo histórico, factual, embora simultaneamente imaginário, apresentado sob a forma de um mapa em rede que, justamente, reflete inúmeros vínculos, da metrópole e dos que a habitam. Relativamente a artistas que são, eles mesmos, plurais e amplamente discursivos, poderá indicar-se Ana Hatherly, da qual se expõem duas peças, ambas “Sem título”, de 1997 e 1999, exemplares da excecional prática da artista que se localiza entre a poesia, o desenho e a pintura. A fim de destacar algumas obras recentes, refiro “Tirado do Sério” (2015), de João Pedro Trindade, um tapete de rua, cuja finalidade originária é demarcar a separação entre o interior e o exterior, e cujas duas faces revelam ora a exposição ao sol e a passada humana, ora a impressão da calçada portuguesa. No entanto, o modo como a peça se ergue na parede da galeria remete para uma bandeira, cujo significado fica por discriminar, livremente.
António Manso Preto, Ensaios de uma Coleção, Galeria Municipal do Porto. © Dinis Santos / Galeria Municipal do Porto.
Paralelamente, ao longo de toda a exposição, as narrativas da cidade do Porto estão entrecruzadas com as narrativas biográficas dos artistas, transcrevendo-se e formando-se uma metanarrativa própria do presente, afirmativa do fim da conceção moderna das grandes narrativas, recorrendo aqui ao filósofo Jean-François Lyotard. Reforçam-se, portanto, as atuais dinâmicas da conectividade, em malha, de tudo e de todos.
Constança Babo
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