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AICA DIVULGA COMUNICADO NA SEQUÊNCIA DAS CONTROVÉRSIAS SOBRE EXPOSIÇÃO DE ROBERT MAPPELTHORPE EM SERRALVES

2018-09-27




A Direção da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte divulgou hoje um comunicado na sequência das controvérsias em redor da exposição de Robert Mappelthorpe em Serralves, que aqui se reproduz:


"Na sequência das controvérsias em redor da exposição de Robert Mappelthorpe, comissariada por João Ribas, na Fundação de Serralves, no Porto, mas sem nos prendermos a este caso concreto - até porque as circunstâncias e dados não são, ainda, conhecidos na sua totalidade - a Secção Portuguesa da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) afirma, como princípio fundamental, que a ingerência externa e a coação superior nas opções de um curador violam a sua liberdade e identidade autoral/curatorial, alterando a unidade do seu trabalho, a exposição.

Neste sentido, defenderemos sempre, e com veemência, os curadores contra as alterações, sem a sua anuência, nas escolhas de obras ou artistas, montagem ou discurso de uma exposição, pois põem em causa a integridade e intencionalidade do seu trabalho intelectual - como o corte de um parágrafo ou capítulo de um texto, para um escritor, ou de um excerto de um filme, para um realizador.

Uma instituição tem o direito de escolher o perfil de exposições que quer fazer, os públicos a que quer dar preferência, o diretor artístico com quem quer trabalhar - e poderá ser louvada ou criticada por essas opções. Mas a partir do momento em que essas escolhas estão feitas, não faz parte das funções da administração da instituição imiscuir-se no trabalho do curador - é ele que assina a curadoria, o que o torna responsável por aquilo que vamos ver, e essa responsabilização e assunção do seu ponto de vista pessoal é determinante para perceber o que estamos a ver e criticar.

Terminamos este comunicado, recordando, contra um crescente moralismo censório e puritanismo conservador, as palavras de Pier Paolo Pasolini na sua última entrevista: “escandalizar é um direito, ser escandalizado é um prazer”. Que essa inquietação e questionamento dos códigos habituais vigentes, que alguns artistas sabem pôr em causa, não sejam obnubilados rapidamente por acusações superficiais, mas que permitam uma reflexão aprofundada e um debate atento. Nesse sentido, recusamos também o paternalismo das instituições em relação ao direito de escolha e autonomia dos espectadores que, devidamente informados, devem poder optar pelo que pretendem, ou não, ver."


A Direção da SP/AICA
Paulo Pires do Vale
(Presidente)