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CRISTINA ATAÍDE INAUGURA HOJE EXPOSIÇÃO QUE REVISITA 30 ANOS DE TRABALHO NO MUSEU COLEÇÃO BERARDO

2020-11-25




Hoje, 25 de novembro, pelas 15h00, abre ao público no Museu Colecção Berardo a exposição "Dar corpo ao vazio", de Cristina Ataíde, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues.

Segundo o texto do curador:

"'Dar corpo ao vazio' é uma exposição que apresenta uma seleção de obras da artista Cristina Ataíde, dispostas num percurso articulado por cinco salas que se encadeiam ao longo de um único piso no Museu Coleção Berardo, em Lisboa.

Aprofundando caminhos que cruzam o desenho, a escultura, a instalação, a fotografia, o vídeo e a intervenção site-specific, Cristina Ataíde desenvolve o seu trabalho ininterruptamente há mais de três décadas. A sua produção revela uma sede de experimentação e um fascínio pela descoberta que, entre outros, se ancora no impulso da viagem, na procura por outros sistemas de pensamento e numa busca pela expressão da matéria. Deste modo, é frequente perceber que as obras surgem associadas à experiência dos diferentes locais e momentos que a artista deseja apreender, assim como à vivência de uma espiritualidade partilhada com os objetos e entidades com que se cruza. Partindo desse princípio, a exposição 'Dar corpo ao vazio' apresenta um conjunto de obras que abarcam diferentes períodos e meios de produção, encadeando-se entre si sem formular um olhar cronológico ou retrospetivo. Dando-se a ver como uma teia de relações que cruza referências transversais à produção da artista, a exposição enuncia a ligação do indivíduo ao meio (num diálogo entre a geografia e a cultura), a conexão da viagem com o conhecimento (numa articulação entre a descoberta e a identidade) e a problematização entre o espírito e a matéria (numa graduação dos vários estados de existência). Assim, propondo encarar a densidade e a diluição, engendra-se um percurso que funciona por ecos e impulsos, promovendo um trajeto que vai de um lugar alto e compacto a um sítio baixo e fluido.

Explorando a ideia de preâmbulo e síntese, a exposição inicia-se no átrio principal do edifício, onde se apresenta uma única obra que guia a atenção para a sequência afirmada no piso inferior.

Na primeira sala da galeria, dispõem-se várias obras que invocam a densidade da matéria. Aqui, a pedra manifesta-se pela presença do material e pelo imaginário da montanha que povoa os desenhos apresentados. A celebração de um lado denso convive com a manifestação de uma existência subterrânea, em potência, que se evidencia pela referência ao sulco, ao leito, ao buraco e à lagoa, onde se acolhe a existência da água. No centro desta sala, surge um desenho panótico de grandes dimensões que, suspenso, organiza o espaço e determina a ocupação das paredes em seu redor. Promovendo uma leitura sequencial e a apreensão privilegiada dos cantos, as restantes obras funcionam num esquema de ligações diagonais que dão o mote às salas seguintes.

Na segunda sala, apresenta-se um conjunto de obras que se apoiam nas referências da lagoa e da árvore, invocando a expressão do trilho de veios, nós e cavidades que as habitam. Numa ligação que se estabelece da raiz à copa, entre a terra e o céu, a árvore surge como expressão de uma energia vital, traduzida pela condução da seiva e pelo percurso que ela estabelece. A ideia de canal que subtilmente se anuncia na sala anterior é aqui reforçada, afirmando-se na expressão do movimento a que a árvore dá corpo. Esta sala rege-se pela presença de uma instalação de maior dimensão, composta por uma sequência de objetos suspensos que, de igual forma, dialogam com a sala anterior e organizam as obras em seu redor. Um conjunto de trabalho ocupa as paredes, operando sobra a ideia de escala para problematizar as noções de (im)permanência e movimento. As obras apresentadas procuram um contraponto entre a face interior e exterior da matéria.

Explorando a sua menor dimensão, a terceira sala assume-se como ponto de transição e alberga um conjunto de vídeos onde, pela imagem em movimento, se celebra a transitoriedade dos elementos, e a delicadeza da sua perceção. A ideia de movimento ganha uma leitura contínua e converte-se gradualmente em fluxo. Os registos incidem no modo como o indivíduo se relaciona com o meio e na maneira como a perceção se manifesta de forma diáfana, e transitória, sobrepondo imagens a manchas de cor que trabalham a luz como matéria plástica, e escultórica.

A quarta sala é pensada em torno de uma instalação composta por um barco de madeira que se apresenta suspenso. Este é um elemento que alude simultaneamente à deslocação exterior sobre as águas e ao movimento interior do espírito. A ideia de percurso e a relação que se estabelece entre o homem e o meio, sugestionada em todas as obras, afirma-se aqui por um elemento central que, não tocando o pavimento, navega entre dois mundos distintos.

A quinta e última sala marca-se pela apresentação de um conjunto de imagens fotográficas de grande dimensão que captam o reflexo do mundo exterior e o espelham na superfície da água em movimento. A plasticidade das imagens afirma-se na presença da cor e nos contornos ilusórios das figuras. A fotografia problematiza a captação do instante e a natureza de algo que é indefinido, ou que se encontra em movimento (num estado de fluxo), e recupera a presença da palavra escrita para vincar a relação com o corpo e o pó.

O percurso que se explora, que funciona por ecos e impulsos, apoia-se numa progressão que surge do mais denso para o mais diáfano, ou do que é estável para o que está em movimento. Trabalhando a relação entre o que se reporta ao meio e o que se liga ao indivíduo, a exposição funciona no encadeamento das várias salas, levando- nos de uma atenção aos diferentes estados da matéria a uma sintonia intuitiva da perceção."


Este primeiro dia de apresentação contará com a presença da artista e do curador entre as 15h00 e as 19h00, e a entrada no Museu será gratuita neste período.







FONTE: Museu Colecção Berardo