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EXPOSIÇÃO DO MUSEU DO PRADO REVELA UM LADO RARAMENTE VISTO DA PINTURA: O REVERSO

2023-11-15




Na enigmática “Las Meninas” (1656), de Diego Velázquez, uma sessão de retratos parece estar em andamento. A jovem Infanta Margarida Teresa, primeira filha do rei Filipe IV de Espanha, está resplandecentemente colocada no centro da moldura, rodeada pela sua comitiva e por um cão. O próprio Velázquez, com pincel e paleta nas mãos, está parado de lado a olhar para uma grande tela, sugerindo que está a pintar a cena que estamos a ver. Ou talvez não. O único vislumbre que temos da tela retratada, infelizmente, é o seu reverso.

Mas para o artista Miguel Ángel Blanco, “Las Meninas” convidou a uma contemplação tentadora de um aspecto raramente visto nas pinturas. Esse pensamento levou-o a ser curador de uma nova exposição no Museu do Prado, em Madrid, que defende que uma obra de arte é mais do que aquilo que está na sua face.

“On the Reverse” apresenta cerca de 100 obras de nomes como René Magritte, Vincent van Gogh, Goya, Sophie Calle e Michelangelo Pistoletto – retiradas das coleções do Prado e de 29 outros museus – exibidas de costas para os espectadores. O verso destas telas revela realidades totalmente diferentes: algumas trazem os esboços ou selos do artista, algumas são carimbadas com lembretes da proveniência da obra e outras contêm pinturas totalmente diferentes.

“As obras de arte são tridimensionais”, disse o diretor do museu, Miguel Falomir, ao The Guardian. “Quando nos focamos apenas na imagem, que é a reprodução de um determinado momento congelado no tempo, obtemos algumas informações, mas perdemos muita coisa quando se trata de tudo o que a obra significa como objeto.”

A exposição é dividida em 10 capítulos que exploram de diversas maneiras o simbolismo do esticador, “trompe l'oeils” pintados a representarem o verso das obras e os cortes e dobras feitos numa tela - ainda visível no seu verso - para adaptá-la a novos locais ou funções.

O mais intrigante são as seções que exploram como o verso das pinturas serve como extensões de sua face ou do processo criativo do artista. Por exemplo, “O Êxtase de Maria Madalena” (1585-1600), de Annibale Carracci, tem no verso desenhos gravados em giz preto pelos alunos do pintor italiano. O reverso de uma tela de Vicente Palmaroli, por sua vez, é anotado com notas de paisagens e figuras do artista.


Fonte: Artnet News