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TRADIÇÃO DOS ‘CARETOS DE PODENCE’ COM FUTURO GARANTIDO COM OS JOVENS

2024-02-13




Domingo gordo os Caretos de Podence saíram à rua e mesmo com chuva muitos jovens vestiram o fato, garantindo a continuação da festa que é património da UNESCO.

Segundo a Associação Grupo dos Caretos de Podence, só na aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros há cerca de 100 fatos e 40% dos Caretos são jovens.

Pouco depois das 15:00, a Lusa acompanhou cerca de uma dezena de jovens que se juntou numa garagem no centro da aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, para transfigurarem-se como Careto de Podence.

Vestiram os fatos de lã com franjas amarelas, vermelhas e verdes, traçaram as campainhas ao peito, ajeitaram a enfiada de chocalhos à cintura, com os quais são chocalhar as mulheres, e cobriram o rosto com uma máscara de latão ou de couro.

“É uma adrenalina. Quando temos o fato transformamos-nos noutra pessoa. Não dá para explicar, só se sente”, disse João Costa, de 19 anos, que se juntou à associação há quatro anos. Tomás Carneiro, 18 anos, revelou, orgulhoso, ser Careto desde que nasceu.

“Quando nos vestimos sentimo-nos livres de fazer qualquer coisa. O fato dá-nos poderes. Corremos pelas ruas da aldeia. É uma força indescritível, uma coisa bonita. O que nos dá força é ver gentes que vêm de todo o lado”, disse.

Segundo Tomás, os Facanitos - as crianças que se vestem de Careto, com fatos menos elaborados - também são cada vez mais e tentam imitar os mais velhos.

Cristiano Aníbal, Careto de 19 anos, salientou, por outro lado, que “a tradição é cada vez mais importante para Podence e para a comunidade”, garantindo querer contribuir para que não morra. “Ainda bem que somos mais jovens, para não deixar morrer a tradição. Acho que o futuro está garantido. Vamos manter a tradição”, assegurou..

António Carneiro, presidente da Associação Grupo dos Caretos de Podence, que há 30 anos se dedica a revitalizar a tradição, descreveu ao início da tarde uma aldeia “lotada de pessoas”, mesmo com a chuva que caiu com intensidade.

“Os Caretos vão estar na rua, mesmo com frio ou com neve. Faz parte desta tradição que é nossa e genuína”, salientou António Carneiro.

Domingo Gordo é dia de os Caretos empurrarem a braços um carro de bois aldeia acima, até à igreja. Aí, juntam-se para as fotografias, mas do lado de fora do portão - é que eles são o profano, com origens pagãs, e não entram no solo do religioso.

Hoje, terça-feira, voltam a encontrar-se no mesmo local para levar o carro até à Eira, onde queimam o Entrudo na forma de um mega Careto, que pelo fogo leva o que é mau, o frio do inverno, dando as boas-vindas à primavera que vai chegar.

Para António Carneiro, um dos objetivos da festa é continuar a passá-la de geração em geração. “Estamos a conseguir. […] Cada vez há mais fatos de Careto. É sinal que a tradição está enraizada e viva, acima de tudo”, afirmou.

O Entrudo Chocalheiro é Património Cultural Imaterial da Humanidade desde dezembro de 2019. A festa faz parte dos Rituais de Inverno, ou Festas dos Rapazes, que simbolizavam a passagem para a vida adulta dos jovens, associados também à fertilidade.

O evento leva cada vez mais pessoas à aldeia transmontana com cerca de 200 habitantes, o que tem mostrado “algumas lacunas”, segundo António Carneiro, nomeadamente a falta de estacionamento ou sanitários.

“Precisamos de melhorar esses aspetos para receber à boa maneira transmontana”, considerou António Carneiro, assegurando que fazem “muito com pouco” e defendendo a necessidade de mais apoios.