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EXPANSÃO DA ARTE POR LISBOA, DUAS VISÕES DE FEIRAS DE ARTE: ARCOLISBOA E JUSTLX - FEIRAS INTERNACIONAIS DE ARTE CONTEMPORÂNEA![]() JOANA CONSIGLIERI2018-06-14![]()
O dinamismo da arte em Lisboa tem vindo a intensificar-se nestes últimos anos. No mês de maio, surgiram, em simultâneo, duas feiras de arte, ARCOlisboa e JustLX, que trouxeram novas possibilidades de experiências estéticas e uma expansão de atividades e estímulos sensitivos na representação de artistas, obras de arte, conversas e visitas, a par de uma intenção de difundir os mercados em Portugal. A ARCOlisboa de 2018 continua a manter a dimensão do seu espaço anterior na Cordoria Nacional, inaugurando a sua terceira edição, com a presença de mais galerias nacionais e internacionais, numa seleção total de sessenta. Tal como afirma o diretor da ARCOlisboa, Carlos Urroz: «o balanço é muito positivo, a feira está estabilizada» (cf. Público, 21 de maio de 2018, p. 29). A JustLX, no Museu da Carris, inaugura a sua presença, assente na possibilidade de apresentar outra linha de projetos e obras de arte, onde os colecionadores e amantes de arte possam adquirir arte noutro mercado cosmopolita, havendo, assim, lugar na exposição para vários trabalhos artísticos multiculturais, em particular, de artistas emergentes a nível internacional, do Brasil, México, Reino Unido, Itália, Espanha e Portugal, entre outros. Tal como afirma Pedro Loureiro da Galeria Trema: «Todos temos que ter uma oportunidade de nos mostrar. Havia um vazio que era importante preencher.» (cf. Público, 18 de maio de 2018, p. 39). Apresentam-se trabalhos artísticos de variadíssimas linguagens, ora de foro experimental étnico, como é o caso da artista Keila Alaver, ora conceptual, da artista Marlene Stamm, ambas da Galeria 55sp, ora de exploração da desconstrução da identidade como faz a artista Naomi Middelmann, da galeria UFOFrakic, ora ainda de jovens artistas como é o caso da Galeria Bessa Pereira. Esta diversidade apresentada pelas várias galerias suscita ao visitante a descoberta de um outro mercado, que surge em vários espaços das galerias, quer nacionais, como a Galeria Trema, a Galeria 111, a Galeria Sete ou a Galeria Arte Periférica, quer internacionais, como a Via Thorey Galeria, a Heartbeats ou a Kernel, entre outras. Expande-se, assim, um leque de experiências muito diferentes, em que os galeristas arriscam pela novidade e por artistas emergentes, mas também pelo seu cariz internacional, com o intuito de criar uma análoga dinâmica que tem vindo a ser conquistada pela ARCOlisboa, ao promover visitas e eventos juntamente com outras instituições. A ARCOlisboa tem um caráter de solidez cuja presença e estabilidade estão baseadas no mercado dos artistas consagrados, o que favorece o reconhecimento de obras de arte e dos projetos artísticos, quer sejam nacionais quer sejam internacionais, fazendo, convergir no programa as várias instituições museológicas e culturais eruditas com os projetos e galerias de Lisboa. Deste modo, ao criar uma rede prolífera a nível cultural e artístico, com os artistas e curadores mais sonantes do meio cultural, convida os portugueses, estrangeiros residentes em Portugal ou não, e novos colecionares a visitar a feira. Assim, são apresentadas obras de uma grande parte dos artistas consagrados no mercado das artes, como Helena de Almeida, Julião Sarmento, Joana Vascconcelos, representados em algumas das galerias; Michael Biberstein e Rui Toscano na Galeria Cristina Guerra; Jorge Molder na Galeria Pedro Oliveira; Pedro Valdez Cardoso na Fernandes Santos; Rui Chafes e Carlos Motta na Filomena Soares; Miguel Branco na Pedro Cera; João Louro na Vera Cortêz; Cristina Ataíde e Mel O’Callaghan na Galeria Belo-Galsterer; ou Vasco Araújo, na Galeria Francisco Fino, que coloca o espectador no limiar da controvérsia multicultural enquanto experiência estética. Entre as galerias estrangeiras, Mario Merz e Pedro Cabrita Reis na Galeria Giorgio Persano; Veronica Kellndorfer na Galeria Christopher Grimes; Antoni Tàpies na Galeria Leandro Navarro; Marina Abromovic na Galeria Krinzinger e Joël Andrianomearisoa na Galeria Sabrina Amrani, cujo trabalho Le Labyrinth des passions marca a sua presença pelo minimalismo, repetição e diferença, no negro e no movimento.
Mel O' Callaghan, obras da série Em Masse (yellow sun), 2015. Acrilico s/ vidro, 160 x 120 cm e 70 x 50 cm. Imagem cortesia da Galeria Belo-Galsterer.
A ARCOlisboa oferece aos visitantes ou amantes de arte a oportunidade para a divulgação das conceções estéticas e artísticas contemporâneas, e coloca à disposição um leque de atividades e visitas guiadas ou não, por toda a cidade. É uma viagem ao mundo da arte para qualquer público com interesse, não estando apenas circunscrita ao meio artístico. Convida todos os interessados a percorrer a cultura lisboeta. Num panorama geral, não se limita apenas ao mercado de arte, enquanto shopping centre para os novos colecionadores e convidados, mas proporciona também a qualquer amante de artes, um passeio cultural. Numa última instância, extrapola o valor comercial para se revelar mais como um «mapa de entretimento cultural» cosmopolita, cujas linhas divergem a partir dos dois pontos cardinais, as duas feiras, estendendo-se por toda a Lisboa. Pronuncia-se, então, um cenário dinâmico e de «festa», sendo, em certa medida um encontro e diálogo entre visitantes e curadores-palestrantes, feiras e instituições, galerias e museus. Através das comunicações e fóruns, a ARCOlisboa interage com o público, conduzindo-o por vários curadores, como seja Isabel Carlos e Filipa Oliveira, com múltiplas conversas e temas que suscitam o debate e a descoberta sobre temáticas e recentes interesses da arte portuguesa e internacional. Selecionando, assim, diferentes participantes para várias sessões e formas de discussão. Dialoga-se sobre o colecionismo e projetos de artistas e curatoriais. Estabelece-se um encontro de museus, da Europa e da Ibero-América, de modo a que todo o visitante possa escolher as suas várias perspetivas do mundo artístico, bem como um rol de iniciativas apresentadas, quer para intercâmbio de ideias e encontros profissionais, quer para o público em geral. Seguindo esta perspetiva de eventos numa emergência artística e cultural, deparamos com o facto de que cada polo influencia um determinado circuito que se manifesta, na sua globalidade, por uma necessidade do mundo atual que se apresenta plural, eclético e dinâmico. Isto é, torna-se cada vez mais visível esta diversidade nas várias áreas de circulação de obras de arte, o que nos leva a pensar numa espécie de descentralização do «mundo da arte», em detrimento da globalização internacional.
Joana Consiglieri |