ANA PÉREZ-QUIROGA¿De qué casa eres? Episodios de un cotidiano. Del bando republicano en la Guerra Civil Española![]() NO.NO Rua de Santo António à Estrela 39A 1350-291 LISBOA 17 NOV - 09 JAN 2021 ![]() ![]() INAUGURAÇÃO: 3ª feira, 17 de Novembro, das 14h - 19h ¿De qué casa eres? Episodios de un cotidiano. Del bando republicano en la Guerra Civil Española Ana Pérez-Quiroga ¿De qué casa eres? Episodios de un cotidiano. Del bando republicano de la Guerra Civil Española é a primeira exposição individual de Ana Pérez-Quiroga (APQ) na galeria NO⋅NO, em Lisboa. Nesta mostra, APQ apresenta mais um desdobramento do trabalho ¿De qué casa eres? que tem como motor, a pesquisa em torno da experiência de vida da sua mãe. Ângela Petra, filha de pais republicanos, com quatro anos de idade, em plena guerra civil espanhola, de um dia para o outro, teve a sua morada mudada para a Rússia. Ângela Petra regressaria a “casa”, apenas duas décadas mais tarde, adulta e formada em medicina, para, passado pouco tempo, se mudar novamente, desta feita, para Portugal, onde vive até hoje. Se os “episódios” explorados por APQ nas exposições anteriores extravasavam sempre a relação emocional da história pessoal de que partem, explorando dimensões estruturantes, como a história, a sociedade ou a política, nesta mostra, com um foco temático e imaginário na guerra, APQ propõe “abrir” a série de trabalho ¿De qué casa eres?, ao presente. Amiudadamente, o nosso presente histórico – político, social, e agora, a crise pandémica e sanitária que atravessamos – é descrito em tempo real por um discurso que utiliza termos resgatados da guerra e por metáforas bélicas. Expressões como: “campo de batalha”, “contra o inimigo”, “guardar munições”, “reunir armas”, “viver nas trincheiras”, etc., têm vindo a integrar a linguagem que conta o nosso presente. O relato sobre o mundo em que vivemos, com a aceleração da sua transmissão através das redes sociais, depara-se com a guerra da Pós-Verdade e suas variantes. Agora, numa realidade ultrapassada pelos cenários distópicos, a linguagem, atabalhoadamente, procura atribuir novos significados a palavras antigas. A utilização da linguagem no trabalho de APQ é recorrente, nomeadamente nas frases, expressões ou divisas que materializa em peças-néon. A escrita em néon confere à linguagem – ao discurso – um carácter escultórico, relacionando-se com o uso do espaço pelo corpo. Creio, no entanto, que nesta exposição a linguagem desempenha um papel diferente: não há a escrita-néon (nem a escrita-bordada, para dar um outro exemplo de materialização da escrita no trabalho de APQ) de frases pessoais. Ao invés, há a inscrição, com spray sobre tela, tal como é feito em bandeiras ou estandartes, de palavras de ordem, respigadas de diferentes tempos, geografias, lutas, revoluções, teatros de guerra. Os slogans, por definição, traduzem pensamentos que identificam princípios, ideais, revoltas… de uma dada comunidade. A tensão entre o pessoal e o político, premissa eminentemente feminista, é facilmente detetável nos usos que APQ faz da linguagem. Mas se pensarmos que APQ usa a linguagem como um material, conseguimos traduzi-la para a escolha dos objetos, para o grão da voz, para o vento que sopra sobre um corpo numa paisagem. O pensamento dos artistas caracteriza-se pela liberdade com que atravessa fronteiras conceptuais, materiais ou temporais. É por isso que a leitura a contrapelo do passado no presente que APQ apresenta é-nos hoje vital. Porque, ainda que “Separados, estamos juntos.” (“Séparés, on est ensemble.” Mallarmé) e vivemos o mesmo presente. Maria do Mar Fazenda, 31/10/2020 ::: A exposição inclui a obra ¡NO PASARÁN!, 2020: ¡NO PASARÁN!, 2020 30 sacos de serapilheira cheios com granulado de cortiça; 30 slogans políticos, stencil pintado com tinta spray vermelha; etiquetas APQ Fabric cozidas em cada saco. (25x70x50cm) - 100x200x70cm Platão para explicar a função do Estado, compara metaforicamente o equilíbrio social a uma tecelagem. Os fios da teia (Estado) e da trama (cidadãos), têm de ser de diferentes qualidades para se poderem constituir enquanto tecido social diverso mas uno. ¡NO PASARÁN! é uma trincheira, constituída por 30 sacos de serapilheira, tendo cada um deles um slogan político pintado. O número 30, o material de que os sacos são feitos e os slogans políticos escolhidos, são determinantes para o conceito desta peça. ¡NO PASARÁN! foi concebida para ser adquirida por 30 pessoas, sendo que cada uma delas fica responsável por uma das partes desta trincheira. Uma breve explicação: começo pelo 30, um número que elegi para contar acontecimentos memoráveis do meu quotidiano e que me acompanha desde 2008; a serapilheira de juta, enquanto material têxtil de fibras grossas e ásperas, serve para exibir melhor os fios; os slogans políticos que seleccionei, são afirmações que me inspiram e incentivam e todas são depositárias de uma memória histórica que devemos honrar. Volto à metáfora da tecelagem: o que dá densidade ao tecido é a união entre os fios, da mesma forma que o que confere uma dimensão maior à peça, é o fato das 30 pessoas juntas (cada uma com o seu saco e o seu slogan), ficarem detentoras de uma parte que dá sentido ![]() |
