O seguinte guia de exposições é uma perspectiva prévia compilada pela ARTECAPITAL, antecipando as mostras. Envie-nos informação (Press-Release e imagem) das próximas inaugurações. Seleccionamos três exposições periodicamente, divulgando-as junto dos nossos leitores.
Nas suas referências cinematográficas explícitas, o trabalho de Catarina Patrício lembra os storyboards de filmes, nos quais as personagens humanas e animais, a arquitectura, o espaço e a luz são desenhados à mão ou digitalmente para permitir aos cineastas “ver” e editar o seu trabalho antes do início das filmagens. Fundamental para o storyboard é a montagem, ou a sequência de imagens e cenas que constroem as narrativas. E aqui Catarina Patrício vai mais longe: cria montagens sobrepondo imagens cinematográficas e passagens literárias num único desenho, comprimindo os temas narrativos, espaciais e temporais de uma história inteira num único desenho. Os efeitos são convincentes, levando o espectador a olhar atentamente para cada peça e a decifrar o seu significado.
O trabalho de Catarina Patrício é ainda mais rico pela sua profunda focalização. Como escreve o falecido teórico do cinema francês André Bazin, esta técnica cinematográfica permite que o olho do espectador percorra a imagem do ecrã, do primeiro ao segundo plano, para ajudar a formar uma interpretação pessoal da narrativa do filme, que pode mudar com um visionamento repetido.
A utilização da focagem profunda em Catarina Patrício tem normalmente um tom sombrio, alinhando o seu trabalho ao Film Noir, cuja combinação de focagem profunda e sombras escuras lhe confere drama e tensão. Também importantes para o Film Noir – e para as peças de Catarina Patrício – são os elementos arquitectónicos como portas, escadas e janelas, que a prenunciam ação – por vezes violenta – e que pode ocorrer a qualquer momento. (Que personalidade perniciosa está na janela, do outro lado da porta, ou no cimo da escada?)
Como olhar para esta obra? Identificar os seus focos (um cão que rosna, um globo terrestre, um astronauta que entra pela porta) e depois deixar que o olhar se desloque de um lado para o outro, para cima e para baixo, até aos cantos e extremidades da imagem, e depois para trás. Procure pormenores que à primeira vista podem passar despercebidos (uma pequena janela iluminada ao longe, uma fotografia emoldurada da explosão de uma bomba atómica, o Rato Mickey a espreitar para dentro de uma sala) combine focos e pormenores para criar uma outra narrativa a cada peça, que pode incluir o espaço no interior, para os lados ou para além dos limites do desenho (desenhos que quase sempre se prolongam até às margens, levando-nos a considerar o que pode estar para além delas).
Este trabalho exige a participação do espectador. Ao colocar tanto espaço e pormenor, Catarina Patrício insiste que nos detenhamos para tirarmos as nossas próprias conclusões sobre o significado da sua arte.
Roy Strickland Professor Emérito de Arquitectura da Universidade do Michigan Investigador e Assessor de Cinema, 119 Marvila Studios