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O seguinte guia de exposições é uma perspectiva prévia compilada pela ARTECAPITAL, antecipando as mostras. Envie-nos informação (Press-Release e imagem) das próximas inaugurações. Seleccionamos três exposições periodicamente, divulgando-as junto dos nossos leitores.

 


DANIEL GUSTAV CRAMER

Objects




GALERIA VERA CORTÊS
Rua João Saraiva 16, 1º
1700-250 LISBOA

21 SET - 04 NOV 2023


INAUGURAÇÃO: 21 de Setembro entre as 17h30 e as 20h30 na Galeria Vera Cortês, Lisboa


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Em 2009, Daniel Gustav Cramer instalou uma exposição no antigo espaço da Galeria. Emoldurada por duas fotografias encontradas, foi colocada uma pequena escultura no chão. Uma esfera de ferro fundido pendurada num tripé de metal, intitulada I. Um ano mais tarde, na Samsa, em Berlim, foi exposta uma segunda escultura, denominada II. Desde então, um número crescente de objectos - encontrados, produzidos por artesãos locais ou feitos pelo próprio - tornaram-se elementos da série contínua de instalações do artista - juntamente com obras em livro, fotografias, textos e filmes. A presença destes foi sempre subtil; objectos que pertencem tanto às exposições como ao espaço onde são apresentados; anotações físicas deixadas pelo artista.

Com cada novo objeto, Cramer confirma e questiona os princípios da série, a sua objectualidade e ontologia. As obras parecem permanecer no limiar que separa as coisas das obras de arte - não se enquadrando em nenhum destes dois domínios - habitando ambos simultaneamente. São compostas por dois elementos: uma presença material e um documento escrito que dá conta das suas propriedades específicas.

Vários objectos nunca foram concebidos para serem expostos. LXV (2021) é uma esfera de madeira, ligeiramente deformada, que viajou com a ajuda de dois amigos durante cinco meses à volta do mundo, para depois regressar a casa do artista. Este acto performativo, levado a cabo por navios que atravessaram oceanos, carteiros na Alemanha, Austrália e EUA, participou na completude da obra. A esfera permanece hoje como artefacto e prova deste acontecimento. Para instalar XXXII (2015), uma pequena esfera de ferro fundido precisa de ser enterrada sob o solo, retirando-lhe a possibilidade de estar presente. LIII (2019) apresenta-se como uma cópia de XIII (2012), existindo como o seu "doppelgänger". LIV (2020) assume como nome o espaço onde é colocada, é um camaleão. Pode chamar-se Mão enquanto estiver na mão, ou chamarse Prateleira, Armazém, etc. LXXXII (2022) existe apenas como o seu próprio número - não tem qualquer outra forma ou representação.

Para a exposição, foi produzida uma publicação em duas partes.


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maio de 2021

Quando eu tinha vinte e dois anos, o nosso cão foi abatido. O veterinário perguntou-me se eu gostaria de ficar com a coleira dele. Dez anos mais tarde, o dono de um ryokan onde fiquei na ilha de Yakushima, no Japão, ofereceu-me uma ukidama azul, uma velha bóia de vidro que encontrou numa praia próxima. De onde estou agora sentado, numa pequena secretária no meu estúdio, consigo ver a coleira pendurada no puxador de uma janela e a ukidama ao lado de um vaso de flores num canto da sala.


março de 2023

Uma pequena janela. As paredes, o teto, a porta e os móveis são feitos de madeira de pinho bege claro. Lá fora, a luz do pôr-do-sol desenha linhas acentuadas na neve. Quando me inclino para a frente, consigo ver os meus passos a subir as rochas que rodeiam a cabana da montanha. Há oito dias peguei numa esfera de metal do meu estúdio e trouxe-a para aqui, para o glaciar Stubai. Há meia hora, saí da cabana e subi a montanha. Coloquei-a num pequeno planalto por baixo de duas rochas. Esta esfera pertence agora às montanhas. Dentro de três dias regressarei a casa.


junho de 2023

Dezenas de objectos, espalhados pelo chão. Esferas de madeira, de ferro fundido, de vidro. Varas de metal de diferentes tamanhos estão encostadas a uma parede. Cubóides, tripés, caixas. Alguns foram feitas antes de eu ter nascido, produzidas para fins que desconheço. As formas mais simples, robustas e simples. Com o passar dos anos, caíram em desuso, foram parar a caves, caixas, sótãos, abandonados em florestas, atravessaram oceanos. Encontrei-os em casas de pessoas, em mercados, debaixo de uma ponte, comprei-os em leilões e lojas de antiguidades. Com o tempo, cada uma delas adquiriu propriedades características: uma foi parar a um canto da minha sala de estar no dia em que chegou e até hoje não foi mexida. Uma hiberna na escuridão total. Outra pertence à mão de alguém, precisa de ser segurada. Uma pesa tanto como um casal de patos-reais - quando olho para ela, imagino dois patos, lado a lado, a deslizar num lago.


agosto de 2023

Assim, um dia, daqui a vários anos, alguém poderá subir a um sótão, olhar em volta e, num canto qualquer, descobrir mais uma vez um destes objectos. Uma esfera muda, um marcador ao sabor das estações. Alguém pode pegar nela, levá-la para casa, olhar para ela de vez em quando e, possivelmente, oferecê-la a outra pessoa.


(notas do caderno de esboços)