Vista de exposição "Héstia", Domingos Rego e João Francisco | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", João Francisco - Sem título – uma fogueira, 2015 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", João Francisco - Sem título – outro jardim para Emily Dickinson, 2015 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", João Francisco - Sem título – outro jardim para Emily Dickinson, 2015 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", Domingos Rego - Sem Título, 2015 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", Domingos Rego - 4 Desenhos, Sem Título, 2015 | Imagem: Débora Cabral


Vista de exposição "Héstia", Domingos Rego e João Francisco | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", Domingos Rego - 2 Desenhos, Sem Título, 2014 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", Domingos Rego - Sem Título, 2014 | Imagem: Débora Cabral


"Héstia", Domingos Rego - Sem Título, 2015 | Imagem: Débora Cabral


Vista de exposição "Héstia", Domingos Rego e João Francisco | Imagem: Débora Cabral

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HÉSTIA


 

Domingos Rego e João Francisco

 

O projecto que aqui se apresenta parte da referência à deusa grega Héstia, para empreender uma reflexão sobre o espaço e o modo como ele é vivenciado.Héstia não é só o centro da casa, representa a ligação sólida à terra, uma espécie de alicerce que confere solidez à constrão. Essa qualidade traduz-se na cultura grega num significado de imobilidade e permanência. Héstia não sai de casa, aí se conserva convictamente, sem questionar o seu destino. Essa vocação representa uma centralidade a partir da qual irradia e se organiza o espaço humano, ela é a ppria terra em relação ao cosmos. Se Héstia é a deusa da gravidade, do peso, da ligação à terra, Hermes desafia a gravidade. Por isso, representa o deus das coisas fortuitas, da sorte e do acaso.

É no mesmo plano da realidade que estes dois deuses se colocam, mas Héstia refere- se ao peso do encontro de cada um consigo mesmo, à gravidade existencial, enquanto Hermes representa a comunicação, as vivências viradas para o exterior. A conotação espacial destas duas divindades é colocada por Vernant nos seguintes termos:

Podemos dizer que o par Hermes e Héstia exprime, na sua polaridade, a tensão que surge na representação arcaica do espaço: o espaço exige um centro, um ponto fixo, com um valor privilegiado, a partir do qual possamos orientar e definir direcções, todas qualitativamente diferentes; mas o espaço representa-se ao mesmo tempo como lugar de movimento, o que implica uma possibilidade de transição e de passagem de qualquer ponto a outro.

 

Domingos Rego
Azeitão, Setembro de 2015

 

1 Jean-Pierre Vernant, Mythe et pensée chez les Grecs, Paris, Éditions La Découverte, 1996, p. 159.

 

 

 

A figura de Héstia, percorrendo um longo caminho de vários séculos, parece ressurgir na poetisa norte-americana Emily Dickinson que, à sua imagem, abdicou de uma vida possivelmente mais agitada ou, diriam muitos, mais rica e interessante, para se dedicar à casa, à família, à sua vida interior. Dickinson, num progressivo isolamento, nos seus últimos anos de vida limitou cada vez mais o seu contacto físico com pessoas, falando com elas através de uma porta fechada, recusando-se a sair de casa ou mesmo do quarto. As suas comunicações eram feitas essencialmente através de cartas (e aqui seria divertido identificar também a presença de Hermes).

Dickinson interessava-se pela natureza, pelas flores que cultivava no seu jardim, e era conhecida pela população local mais como jardineira que como poetisa. Estudou também botânica, e existe um herbário que fez ao longo da vida com mais de 400 exemplos de plantas classificadas segundo o sistema de Linnaeus. As flores colhidas no jardim, muitas vezes acompanhadas de pequenas notas ou poemas, eram também frequentemente enviadas a correspondentes no mundo exterior.

O jardim não sobreviveu ao passar dos anos, e apenas permanece nas entusiasmadas recordações de amigos e família. As plantas, com as suas variadas e distantes proveniências, eram certamente uma forma de viajar, ainda que através da imaginação, como a própria referiu: “posso habitar as “ilhas das especiarias” (Molucas) meramente atravessando a sala de jantar até à estufa, onde as plantas estão penduradas em cestos”. Alusões a flores e jardins são muito frequentes nos poemas de Emily Dickinson, servindo muitas vezes de substitutos para acções e emoções.

Continuando a pesquisa desenvolvida nos últimos anos em torno do tema da natureza-morta, procurando ampliar os seus limites, a intervenção para a exposição Héstia na Plataforma Revólver consistirá na “construção” de um jardim. Se pensarmos num jardim enquanto uma colecção de plantas, não serão os objectos que construímos e decoramos com referências ao mundo botânico também eles membros de um jardim, ainda que de uma forma metafórica? Será então um jardim de substituição, afastado do mundo exterior, mas ainda assim proveniente dele. Se quisermos, um jardim adaptado à escala e à vivência de uma casa, à medida da imaginação.

Outro dos atributos de Héstia era o fogo, a lareira que ardia no interior do lar de qualquer grego. Nos seus templos uma fogueira era também eternamente alimentada. Fazendo minhas as palavras de Emily Dickinson:

 

You cannot put a fire out;

A thing that can ignite

Can go, itself, without a fan

Upon the slowest night

 

João Francisco

Lisboa, Setembro de 2015

 


 

 

Plataforma Revólver (para a arte contemporânea)
Rua da Boavista 84 1200-068 Lisboa Portugal

Horário // Opening Hours:
Qui/Sáb: 14:00 - 19:00 // Thu/Sat: 2pm -7pm
(última entrada: 18:30 // last entrance: 6:30pm)
Encerrado nos feriados // Closed on public holidays

Como chegar // How to get here:
Autocarro // Bus: 774, 714
Eléctrico // Tram: 25E
Metro // Subway: Cais do Sodré 

Mais informação // For more information: 
http://transboavista-vpf.net/exposicoes
https://www.facebook.com/PlataformaRevolver

E: plataformarevolver@gmail.com
T:
+351 213 433 259

 

 


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