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SUSANNE S. D. THEMLITZHISTÓRIA NATURALGALERIA VERA CORTÊS Rua João Saraiva 16 1700-250 Lisboa 20 NOV - 17 JAN 2026 Naturalmente uma História….
Susanne Themlitz (1968), artista luso-germana, tem exposição dedicada ao seu trabalho na Galeria Vera Cortês, que a representa, até 17 de janeiro. “História Natural” é o nome que inaugura a entrada de uma elegante exposição apresentada em uma sala contínua. Composta por obras de subtil e delicado equilíbrio, Susanne nos presenteia por meio do seu domínio técnico com uma espécie de fauna-flora de Sonho e História. A artista convoca as linhas de forças do surrealismo e da fantasia para um espaço de criação abstrata e reformulação de figuras sólidas que habitam um espírito lúdico, surreal e fantasioso de notável maturidade. A Galeria Vera Cortês, em Alvalade, é a casa de artistas portugueses e europeus consolidados*. Também por isso, no surrealismo de Themlitz não há qualquer confusão ou excesso. A fantasia e o surrealismo não significam deformação imprecisa. Eles aparecem como linhas de força conscientes que nos levam a uma espécie de cenografia dos sonhos. Sem cores fortes, sem grandes rasgos, sem disrupções violentas, as obras são apresentadas por meio de um elegante equilíbrio entre madeira, cerâmica e pintura em uma paleta de cores de gélida alegria e equilibrada sombra, onde vamos de uma profundidade abstrata que quase se solidifica até o derretimento de objetos calcificados. A própria folha de sala escrita por Catarina Rosendo nos pega pela mão de qualquer fábula e convida para um passeio com figuras fabulares - um canguru sem orelha e um molusco de concha partida. A questão aqui, além de alguma mensagem à medida de La Fontaine, é precisamente trazer até nós a potência de que partilham o sonho e a arte: a possibilidade de revelação de um tempo original, enrolado, complicado na própria essência, abarcando de uma só vez todas as suas séries e todas as suas dimensões. Por isso, na exposição de Themlitz, Sonho & História andam juntos em uma “História Natural”, em que o tempo e o espaço parecem ao mesmo tempo separar-se e reunir-se na vida vibrante de um sonho. Nesse cenário, nessa cenografia, nessa paisagem os materiais não são simplesmente um medium. Isso revela ao mesmo tempo a maturidade, o cuidado e eventualmente até mesmo o apreço, o carinho pelos materiais. Mais do que meios, eles estão presentes na exposição como forças de materialidade e materialização de ideias através da sua própria tessitura original. A madeira, por exemplo, é uma presença com seus longos-galhos-agirafados, seu tronco-suporte, sua precisa potência de cadeira. O mesmo se pode dizer da plasticidade da cerâmica. Como uma força viva, sua capacidade de solidificar-se com o calor, de ser coberta pelas cores gélidas ou vibrantes, a cerâmica faz nascer na sala não só cabeças-de-coelho, ou continuidades-circulares-de-objetos-para-dias-frios, mas a presença da própria plasticidade - sua sólida mobilidade, sua fixa fragilidade.
Susanne S. D. Themlitz, Grown-Up, 2025. Madeira, camisa de algodão, fibra de vidro, cimento, 205 x 50 x 33 cm. Galeria Vera Cortês. © Bruno Lopes
Themlitz tem um vasto trabalho na pintura abstrata. Nesta exposição, poucos quadros integram a exposição, mas expressam talvez com precisão o movimento anterior e perene da criação: a abstração e o vasto uso do movimento com cores, formas ainda sem solidez, só sugestões — ou ainda sem nenhuma sugestão — formas irreconhecíveis que poderiam ser uma floresta ou uma geologia subterrânea. Apresentadas em pequenas e médias molduras — em composição por vezes com outros quadros — compõem de maneira definitiva (mas aberta) uma espécie de floresta fantástica. Nessa floresta de maduro sonho, encontramos precisamente o olhar da artista. O fantástico-surrealismo de Themlitz vive por meio e através da borda das coisas, na metamorfose das coisas, no movimento e na fugacidade de toda a solidez. Não se orienta pela estável aparência de um objeto, mas naquilo que vibra com ele, através dele, por perto dele. Faz-nos esquecer, assim, dos usos económicos, cotidianos, dos objetos; do tempo presente e do tempo passado; da nossa própria idade interior; por meio dos seus olhos e das suas mãos, da sua técnica e da sua visão. Assim, a fantasia apresenta-se para nós ao mesmo tempo como o sonho e como a vigília, concedendo-nos a presença de uma verdadeira floresta habitada, em que os materiais, verdadeiros seres encantados pela mão da artista, nos presenteiam com a vibrante vida de uma História Natural.
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