Vista de exposição "I stood up... never sat down again" | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again. Tâmia Dellinger, Si tu me olvidas. Vídeo still | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". 18.11.2015 | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Maria João Costa, Sombro, 2015 | Imagem: Débora Cabral


Vista de exposição "I stood up... never sat down again" | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again" 18.11.2015 | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Alexandre Alagoa, Spectrum, 2014, Vídeo still | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Inês Rego, Rua das Janelas Verdes, 2015, Vídeo still | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Beatriz Bavo, Sotão, 2015. 18.11.2015 | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Alexandre Murtinheira, A caixa, 2015, Vídeo still | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Sara Reis, Dream Sequence, 2015 | Imagem: Débora Cabral


"I stood up... never sat down again". Débora Pequito, Desconforto, 2014, Vídeo still | Imagem: Débora Cabral

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I STOOD UP AND... NEVER SAT DOWN AGAIN


Tânia Ferrão, Daniela Fortuna, Laura Ferreira, Alexandre Alagoa, Débora Pequito, Inês Rego, Rogério Silva, Maria João Costa, Alexandre Murtinheira, Sara Reis, Carmen Esteves, Leonardo Ramos, Beatriz Bravo e Tamia Dellinger

Curadoria  Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca

 

A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar a exposição I stood up and... never sat down again com a curadoria de Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca.

 

Decidido pelos recém-licenciados que nela participam, o título da exposição recupera para um plano de abstracção o sentido particular da mudança que a pintura Hotel Bedroom (1954) instaura na obra de Lucien Freud, nos termos em que o pintor a formulou a William Feaver: «My eyes were completely going mad, sitting down and not being able to move. Small brushes, fine canvas. Sitting down used to drive me more and more agitated. I felt I wanted to free myself from this way of working. Hotel Bedroom is the last painting where I was sitting down; when I stood up, I never sat down again».

 

É este movimento, que troca o estar sentado pelo estar de pé, que os finalistas da licenciatura em Arte Multimédia, do ano lectivo de 2014-2015, acolheram como desígnio. Porque é ele que, contrariando os conformismos e as conformidades, finalmente os liberta da sedentarização em que não se podem rever, por o seu tempo ser tanto o dos lugares desabrigados em que o mundo se tornou, como o da errância sem fim à vista, que deles faz os estrangeiros que, em qualquer parte, vivem a ameaça do afastamento de alguém ou de alguma coisa e, portanto, a iminência da abstracção.

 

Mas neste estar de pé inscreve-se também a primeira exigência do caminho – ou do estar a caminho – e a clausura numa essencial transitoriedade, que é a da impermanência das sombras e dos reflexos, geradora da primeira conjuntura das imagens. E não será por acaso que é precisamente a impermanência a informar a maioria das obras agora expostas. Como não será por acaso que, ainda na sua maioria e em diferentes patamares de nitidez, elas se estruturam em torno da presença velada ou desvelada do(s) corpo(s) que as habita(m). Corpos que associamos a dispositivos mnemónicos nos quais os lugares, os seres e as coisas existem nos hiatos abertos pela sobreposição de um antes e um depois como se, fora deles, só pudessem existir na brevidade dos interregnos.

 

Em Spectrum, Alexandre Alagôa amplia o mundo com a claustrofobia dos espectros retidos no outro lado das imagens, ou no avesso da disponibilidade dos ecrãs. Em Esta é a minha caixa, Alexandre Murtinheira faz da caixa uma passagem entre duas realidades formal e semanticamente distantes, e o suporte da dimensão irreal das aparições que surgem da insistente presença de um objecto esvaziado dos seus conteúdos funcionais. Beatriz Bravo, em ..., encontra no sótão o pretexto para as fotografias de um imaginário fixado no tempo póstumo da utilidade das coisas. Com Passagem, Carmen Antunes Esteves faz coincidir a dimensão voyeurista do ver com o dispositivo perspéctico, fundador das imagens em perspectiva. Na animação Pós-Guerra, Daniela Fortuna aloja nas sombras que deslizam na penumbra ruinosa dos vazios, a memória anónima da guerra. Com Desconforto, Débora Pequito encena na inospitalidade dos lugares, a busca infindável da reconciliação com um lugar interior. Em Rua das Janelas Verdes, Inês Rego devolve-nos o trecho de uma rua de Lisboa, reescrita nos vários tempos de um habitar que a banda sonora arrasta para o presente. Em ..., Leonardo Ramos confia ao obtuso das imagens os secretos vínculos que elas estabelecem com uma indecidível realidade. Em Sombro, Maria João Costa delega na silhueta a sua pertença à domesticidade de um lugar, desse modo concretizando-se na imagem como vestígio. Com Postais, Rogério Paulo da Silva acciona no observador o estranhamento da familiaridade resultante do confronto com a actividade das imagens. Dream Sequence é a imponderabilidade onírica das imagens que Sara Maçã edita para hipnotizar o observador. Livro efémero é o objecto ressonante de Tamia D., que contém nas qualidades fotossensíveis da sua matéria a fatalidade do seu apagamento. Obedecendo à proposta de ilustrar o capítulo «Sacrifício ao amor», do livro de Afonso Cruz, O Pintor debaixo do lava-loiças, lançada na unidade curricular de Ilustração Desenvolvimento I, leccionada pelo Professor Pedro Saraiva, Laura Ferreira e Tânia Ferrão apresentam dois livros de ilustrações que vão ao encontro das imagens sugeridas pelas palavras, aos quais Tânia Ferrão acrescenta uma animação em vídeo realizada a partir das imagens do seu livro.


Cansado da absorção nos pequenos gestos que, a curta distância, concretizavam os muitos detalhes da pintura, Lucien Freud decidiu pintar de pé e jamais se voltou a sentar. Devotadas à sua condição de vestígio, sombra ou reflexo, as obras presentes nesta exposição fecham o último acto de uma idade que termina e que, para quase todos, coincide com o primeiro acto de uma duração que começa. A todos peço que, à semelhança do que aconteceu com Freud, jamais cedam à tentação da cadeira e de tudo o que nela é sinónimo de passividade e imobilismo. E a todos agradeço, estendendo o agradecimento aos que no mesmo ano terminaram a licenciatura em Arte Multimédia e que, por lucidez ou falta de convicção – e há sempre um momento em que ambas são o nome com que diferentemente se designa a mesma circunstância – não participam na exposição.

Maria João Gamito

 

 

Sabendo de antemão o quão difícil se apresenta aos jovens criadores o contexto português, a Plataforma Revólver, e apesar de todas as dificuldades, tem conseguido proporcionar ao longo dos últimos anos uma excelente oportunidade no sentido em que estes possam mostrar com dignidade o seu trabalho à colectividade.


Da Pintura à Escultura, passando pelo Desenho até à videoinstalação, os jovens artistas são representantes, na primeira pessoa, do vasto e complexo “tecido” que representa, nos nossos dias, o património e legado, por um lado afecto à própria produção contemporânea e, por outro, na sua específica relação com o público, o mercado e as instituições. Ou seja, estamos a falar de artistas capazes de se adaptarem aos diferentes media que perfazem a natureza da riqueza expressiva e simultaneamente na capacidade de construir uma linguagem diversa e rica capaz de estabelecer um diálogo consistente com o seu próprio tempo. Como afirmava Paul Valery «Je n´aime pas les fantômes d´idées, les toutes perspectives. Les termes dont le sens se dérobe devant le regard de l´esprit. Je suis impatient des choses vagues».


Estas premissas foram responsáveis por tantos e tantos eventos que possibilitaram aos artistas emergentes o desempenho de um papel que acreditamos ser fundamental e decisivo para o futuro desta actividade que, diga-se de passagem, é sistematicamente ignorada por quem de direito.


O Curso de Arte e Multimédia da FBAUL representa na íntegra o que acabamos de afirmar - apresenta um conjunto de trabalhos oriundos do contexto escolar afectos à referida licenciatura. Assim, as obras, que fazem parte da presente mostra, abordam um vasto conjunto de problemáticas directa e indirectamente implicadas com a produção artística e seu legado histórico, onde toma lugar o propósito experimental, a par da combinação de meios técnicos, de novos formatos e materiais diversos e também referências culturais que permitem desencadear a reflexão em torno dos diferentes temas convocados.


A Plataforma Revólver funciona genuinamente para benefício público, operando um espaço independente, não lucrativo, de entrada gratuita.
Pedro Cabral Santo e Víctor Pinto da Fonseca
 

 

 

 


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