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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Créditos: Bruno Lopes


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ARQUIVO:


FERNãO CRUZ

Long Story Short




BALCONY
RUA CORONEL BENTO ROMA 12 A


21 JUN - 06 SET 2018

Long Story Short

Os grandes contadores de histórias usam muitos detalhes.

Ou é o personagem cujas características são tão vividamente transmitidas que lhe imaginamos uma voz e o ouvimos na voz do contador com esta voz construída de imagens, ou é a ânsia com que nos agarramos à narrativa, por esta ser tão detalhada e ... E mais? O que vem a seguir? O que se segue?
Mas também podemos começar por dizer assim:
Os grandes contadores de histórias nem sequer precisam de muitas palavras, lançam as imagens com pouca matéria.
E está tudo certo.
Long story short, a expressão, pode ser a extrema capacidade de chegar ao essencial, e de assumir um desprezo pelo que é supérfluo.
Ou pode ser cansaço e enfado porque ninguém presta muita atenção.
Ou pode ser também um exercício de liberdade e imaginação.
Ou.. etc.
Quando não se exaure nenhuma narrativa, ela encontra naturalmente a sua fluidez entre os elementos: ou se criam as ligações, imaginando-as, supondo-as, sonhando-as ou aparece uma certa
angústia do não saber. Não saber como quem não possui.
Fazer um resumo - tornar histórias longas, curtas - tem esta dupla possibilidade.

E continua tudo certo.

Também continua tudo certo se não houver história nenhuma e for tudo um embuste. Qualquer que seja o primeiro postulado, há uma coisa comum: as boas histórias - inexistentes,
inventadas, tornadas curtas, ou mantidas longas; dadas a ver por pinturas, palavras ou gestos - não se acabam; desdobram-se em possibilidades e ramificações e não morrem.

Apesar do título da exposição – Long Story Short -, e como jovem artista que é, Fernão Cruz (Lisboa, 1995), está a caminhar para manter a sua short story, long. E com muitas ramificações. Apresenta na Balcony até início de Agosto um ambiente de objectos representados, objectos reapresentados e de pinturas que não têm, num sentido estrito, objecto. Nem um sentido - no meu entender - unívoco mas um sentido que se multiplica nas relações que cria com o que está próximo – eu, tu ou a próxima pintura.

O chão da galeria, emblematicamente azul, é coberto com um plano de ocre, feito com cartões e fita cola de papel que os une, e que dá ao todo das estórias, um chão. Divagou muito o meu pensamento a pensar num possível porquê desta escolha. É uma referência a casas instantâneas, a uma possível brincadeira ou a um universo de sobrevivência? É porque se quer quente e com cheiro o espaço (a experiência do ver é informada pela presença destes dois factores)? É porque ocre é mais preferido que o azul? Porque se quer esconder ou porque se quer dar a ver? Ou é só porque sim? E na verdade, mesmo o sendo, continua tudo certo. Com uma justificação elaborada, ou não, a verdade é que este elemento entra na leitura; para quem não conhece o espaço como uma presença incontornável, e para quem conhece a galeria, acrescido a isto, como um jogo que se pode pensar de obliteração ou de inscrição. Ou mesmo de poder. O artista pode.

Juntamente com este chão alterado, cujo gesto não é instantaneamente compreensível, outros aparecem: há pinturas que saem de objectos ou que saem de paredes. São protagonistas da história? São momentos de twist na leitura? Porquê estas, mais do que outras, se movem em direcções diferentes? No que parece ser uma vontade de vida dos objectos-pintura e dos objectos-objectos demorou-se-me o pensamento: porque é que nenhuma pintura decidiu morar na bolsa marsupial de outra [uma das pinturas é intitulada Kanguru, tem muitas manchas-bolas verdes e uma espécie de janelas onde, diria, se vêm pedaços humanos (mas tudo isto são conjunturas quanto à própria história)] e possui uma pequena bolsa]? E porque razão ou diferença é o Grandma Special Pudding,
um objecto e não uma pintura?

Apesar do seu universo sólido (a experiência dá-se com uma continuidade – o uso de muita tinta nas pinturas, de representações simples, de objectos identificáveis e relacionáveis, de um universo visual que encerra tanto objectos reutilizados como os produzidos – pinturas ou não) Long Story, Short, fez-me pensar que a história que se conta – curta ou não – está mais profundamente relacionada com o quem que nos conta do que com o quê que nos é contado. O artista pode.

Há muito espaço em aberto para que nos inscrevermos nesta exposição: são-nos dados resumos, de uma prática e potencialmente de uma vida. Dad? é uma peça que reúne em si um escadote, um pintura de alguém que usa um fato e umas botas, usadas, pintalgadas. Numa possibilidade de elaborar uma estória, um arranjo discursivo, para esta peça: temos um chão de cartão sobre o qual umas botas que um escadote calça, mas só nas patas dianteiras. Escadote é um animal que só se protege pela frente. Subindo o escadote temos um recorte preciso de alguém (um homem, um pai?)
que veste um fato, camisa e gravata. Algo formal. Ou será mentira? Será que este pescoço não está apenas encaixado naquelas estruturas de feira onde se tiram fotografias? Este escadote é um metáfora para um crescimento? Do sujo das botas ao limpo do fato? Mas o pescoço, de cabeça – mesmo sem cabeça – para baixo dá-nos o descer também como um subir.. será que é o chão que
está na posição errada, e das botas ao fato não se trata de um subir ou descer mas uma passagem horizontal? Porque é que se pergunta, e não se afirma DAD! ?

O exercício é engraçado, mas parece-me, até certo ponto, supérfluo de ser feito em conjunto. Long Story, Short – dá a possibilidade de termos pontos que podemos ligar. Ou escolher deixar
separados, como uma constelação.
Se a história é um embuste, e se afinal não é nada curta depois de ter sido longa, não importa.
Continua tudo certo.

No texto de apresentação da exposição, escrito por João Seguro - ironicamente (ou não?) muito longo - lê-se, long story short, uma narrativa que se debruça sobre a história, relações e mortes da própria pintura-disciplina. É engraçado o quanto a leitura deste texto me redobra o sentimento: temos lugar nesta exposição. Agachados, a fazer o pino, vestidos de amarelo, com um fato de super homem ou a comer um bolo – parece que tudo está certo ao entrarmos aqui com o nosso elemento “eu” e pensarmos, em conjunto com as peças que nos são dadas a ver, uma narrativa, uma história, uma teoria conspirativa, um plano maquiavélico ou um tratado sobre botânica. O espectador pode.
Está tudo certo. 



CATARINA REAL