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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle


Vista da exposição O Pirgo de Chaves, de Francisco Tropa. Fotografia: Bruno Barata | @nuvemlifestyle

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ARQUIVO:


FRANCISCO TROPA

O PIRGO DE CHAVES




FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av. de Berna, 45 A
1067-001 Lisboa

22 FEV - 03 JUN 2019


 

Na sala escura no térreo da Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição “O Pirgo de Chaves” está iluminada apenas por pontos de luz que chamam a atenção para os tablados de madeira espalhados pelo espaço. Uma breve vista de olhos pelo conjunto de objetos dispostos em cima da cada mesa logo leva a perceber que as garrafas, conchas, frutas e ossos fazem às vezes de peças de jogos. Elas estão dispostas ao lado de trabalhos que poderiam ser tabuleiros e caixas onde o conjunto é supostamente guardado. Diferentemente, porém, das brincadeiras em dupla ou grupo, os jogos de Francisco Tropa não são um convite para uma competição. Ali, a única pessoa que sabe as regras é o artista: ao público só lhe cabe apreciar.

Uma vitrine guarda a peça que deu o pontapé inicial para a individual: uma pequena torre de bronze, usada pelos antigos romanos para lançar dados. Com uma estrutura interna feita com escadinhas, o pirgo servia para que os jogadores colocassem os dados no seu topo e, depois de rolarem as escadas, revelariam o resultado, impedindo qualquer trapaça. O artefacto foi encontrado nas escavações das termas romanas de Chaves, no norte de Portugal, que vem sendo explorado desde 2008, após o monumento ter sido acidentalmente descoberto durante a construção de um parque de estacionamento. Datada do século I d.C., as termas ruíram no século IV d.C., quando um forte terramoto destruiu a sua abóboda, que caiu sobre as águas das piscinas. A lama que se criou tornou possível a excelente conservação do tal do pirgo, além das peças de jogos e esqueletos de quatro pessoas (dois homens, uma mulher e um jovem), que estavam no local no momento do desastre. Foi um episódio semelhante à erupção do Vesúvio de Pompeia: uma catástrofe natural destruiu a vida, mas possibilitou a preservação dos vestígios durante os próximos séculos.

A escavação liderada pelo arqueólogo Sérgio Carneiro, que também assina a curadoria da exposição, foi acompanhada de perto por Francisco Tropa que, por sua vez, não deixou de prestar atenção nas deliciosas histórias elaboradas a partir dos vestígios encontrados (como a de que os dois homens estavam mesmo a jogar quando foram soterrados). As termas tinham uma função terapêutica, para onde os romanos se deslocavam a fim de se tratar e era, também, destino de lazer da elite ociosa, que via o jogo como seu melhor passatempo. Tropa se apropriou de tais histórias para aproximar a arqueologia da arte contemporânea e do jogo: para o artista lisboeta se, na arqueologia, as camadas (de solo) são eliminadas para que se chegue ao objeto escondido, na arte o processo é inverso. O artista constrói camadas (de narrativas) para dar sentido à peça. É nesse sentido que a arte é uma espécie de jogo, já que cria significados.

Por outro lado, ao aproximar um achado arqueológico de um trabalho artístico, Tropa está considerando o potencial histórico dos produtos criados pelo homem. O Pirgo de Chaves sobreviveu a séculos – quais peças produzidas atualmente irão ficar para a posteridade? Ao criar algumas esculturas em bronze, como um esqueleto que ganha novas combinações a cada vez que é exposto, Tropa indica o facto de que o trabalho tem maior longevidade do que a sua própria existência. Por outro lado, ele também brinca com a ideia da durabilidade ao criar tabuleiros feitos de tecido, que remetem à portabilidade e precariedade. Se os monumentos construídos pelos Antigos Romanos eram feitos para perdurar, atualmente tudo é efémero e passageiro. Ao considerarmos as Fake News como uma espécie de documento contemporâneo, será muito difícil, no futuro, basear-se nelas para conceber histórias sobre o século XXI.

Esta não é a primeira vez que o lisboeta recorre à arqueologia. Em 2008, no Espaço Chiado 8, apresentou a exposição “Tesouros submersos do Antigo Egipto”, cujo título mimetizava uma mostra blockbuster que itinerava pela Europa na altura. Os falsos tesouros eram os seus trabalhos de arte contemporânea. O questionamento do que é real e cópia, o que é objeto ou sua representação, são características marcantes de toda a sua obra. Em “O Pirgo de Chaves”, elementos como frutas, nozes e conchas foram, por vezes, recolhidos por ele e, em outros casos, criados a partir de esculturas realistas.

A densa exposição está ainda sustentada nas referências da tradição escultórica e da história da arte. Nome incontornável da escultura como Giacometti, por exemplo, via o acaso como elemento crucial dos seus trabalhos e Mallarmé, autor do poema “Um lance de dados”, de 1897, influenciou diversos artistas a discorrerem sobre o jogo e o acaso. Tropa também faz clara referência aos “Bichos” de Lygia Clark, que foram criados pela artista brasileira para serem manipulados pelo público, e a Morandi que dedicou a sua vida à pintura de garrafas; elas aparecem no vídeo e nas esculturas de Tropa em diversas combinações. As noções de passa(gem do)tempo, durabilidade, história e memória vão sendo aprofundadas na exposição como as camadas escavadas da arqueologia. No fundo do poço está o questionamento sobre a responsabilidade dos vestígios que sobreviverão até o futuro longínquo.



JULIA FLAMINGO