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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo


Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo

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ARQUIVO:


MATTHEW BARNEY

SECONDARY




FONDATION CARTIER POUR L’ART CONTEMPORAIN
261, Boulevard Raspail
75014 Paris

08 JUN - 08 SET 2024


 

Matthew Barney é um artista que se desafia continuamente. Notavelmente ambicioso e rigoroso com a sua prática artística, demonstra a disciplina própria ao atletismo. Reconhecido por conceber esculturas marcantes, filmes arrojados e performances atléticas, é um artista multifacetado que cruza diferentes formas, expressões e meios.

Na exposição que se apresenta na Fondation Cartier pour L'art Contemporain, em Paris, de 8 de junho a 8 de setembro, a sua obra atinge uma nova meta. A ocasião celebra a colaboração entre Barney e a instituição, que teve início há trinta anos na coprodução do filme “Cremaster 4”, que se tornaria num dos trabalhos mais enaltecidos do artista. Foi a partir dessa peça que Barney desenvolveu “The Cremaster Cycle”, uma série de cinco vídeos que exploram a resposta muscular do homem a estímulos externos, caso da temperatura ambiente, e a internos, tais como o medo.

A obra de Barney desenvolve-se em relação com a fisicalidade e com a mobilidade do corpo humano, e inscreve-se na esfera do desporto, o que advém da sua experiência enquanto jovem atleta, antes de enveredar pelas artes.

Barney, norte-americano nascido em São Francisco, cresceu em Boise e atualmente vive em Nova Iorque, mas a sua arte é reconhecida internacionalmente. Com um percurso notável, o artista apresentou projetos em algumas das mais relevantes instituições de arte contemporânea, caso do Guggenheim de Nova Iorque, em 2002, e do 21st Century Museum for Contemporary Art, em Kanazawa, no Japão, em 2005. Conta com importantes prémios tais como o Aperto Prize, da Bienal de Veneza de 1993, e o Golden Gate Persistence of Vision, do 54º Festival de Cinema de São Francisco, em 2011.

A prática escultórica de Barney distingue-se por uma escolha de diversos materiais, destacando-se o bronze e outros metais. No entanto, neste seu mais recente trabalho, a terracota é a matéria através da qual emergem os objetos - reproduções de equipamento de musculação - que acompanham a obra cinematográfica “Secondary”, a peça central desta exposição com a qual partilha o nome.

 

Matthew Barney na Fundação Cartier. © Constança Babo

 

O filme, gravado em diversos espaços, inclusivamente no estúdio do artista, em Long Island, exibe-se numa videoinstalação de cinco canais com a duração de 60 minutos. A cena principal decorre num campo de futebol americano, onde doze jogadores são interpretados pelo artista e por performers, desde dançarinos a atores e músicos, cujas bases e práticas de movimento corporal divergem.

Os personagens movimentam-se ora isoladamente, ora em interação uns com os outros, de forma mais ou menos atlética e mais ou menos fluída e ritmada. A peça foi desenvolvida num ambiente colaborativo em oficinas de improvisação, com a orientação do diretor de movimento David Thomson e do compositor Jonathan Bepler.

“Secondary” divide-se entre duas narrativas que se reportam ao futebol americano e colocam em contraponto o caráter espetacular e a violência desse desporto. Na génese desta obra está um acidente ocorrido durante um jogo de futebol, em 1978, no qual Jack Tatum, da equipa Oakland Raiders, lesionou Darryl Stingley, da New England, resultando na paralisia deste último. A tragédia foi exibida e explorada repetida e excessivamente pelos media e marcou profundamente Barney, sobretudo na medida em que, na época, ele próprio era atleta na universidade. Como refere o artista, foi então que “o risco significativo do jogo se tornou claro”.

Ora, são justamente as extremas e desafiantes condições físicas e psicológicas de tal nível desportivo que constituem o contexto a partir do qual o artista adota e apresenta um olhar retrospetivo e simultaneamente atual, novo, sobre o acontecimento.

A segunda narrativa que compõe “Secondary” é uma coreografia que incorpora o uso de chumbo, alumínio, plástico e terracota, materiais alusivos a diferentes capacidades físicas, de resistência, elasticidade e fragilidade, mas, igualmente, características da memória. Por certo, a memória resiste, expande-se, mas também se dissipa.

Um outro conjunto de vídeos exibe-se no piso inferior da fundação Cartier, nos quais se assiste a uma impressionante performance do artista, que foi executada neste preciso espaço expositivo e cujo resultado se gruda nas paredes e no solo. Intitulada “Drawing Restraint 2,3,4”, a obra integra uma série concebida em 1987 e em desenvolvimento desde então, que Barney descreve enquanto “um loop infinito entre o desejo e a disciplina”. Com efeito, testemunha-se a devoção do artista ao material, ou ao que este representa, o desporto, paralela a uma desafiante e exigente ação física, expressa no ato artístico performativo.

Embora os trabalhos anteriores de Barney, sobretudo os que integram a série “Drawing Restraint”, já desafiassem e problematizassem, de distintas formas, a prática do desenho, a sua mais recente composição sobressai: a terracota funciona tanto como pincel como enquanto tinta, mas também com textura e volume, e as cordas e os halteres limitam e dificultam o processo artístico. Em suma, o que se encontra projetado, nos ecrãs e na galeria, é um ambiente de resistência ao ato de desenhar.

A exposição “Secondary”, na Fondation Cartier, atesta o fascínio de Barney pela fisicalidade, pelo rigor do atletismo e pela hipertrofia, sendo este o quadro fundamental para toda a sua criação artística. O artista compara, inclusivamente, o seu trabalho ao de um desportista que recorre ao treino de resistência para desenvolver grupos musculares. Como Barney declarara já em 1990, num texto intitulado “Notas sobre o Atletismo”, o artista é um atleta.

Como ele afirma, vocal e plasticamente, a resistência é um catalisador para o crescimento muscular e uma analogia para o processo criativo. Da mesma forma que o músculo tem que resistir para crescer, para Matthew Barney a resistência é um pré-requisito para a criatividade e para a arte.

 

 

Constança Babo
É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

 



CONSTANÇA BABO