Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Inês d'Orey, Beograd Concrete, 2022. © Inês d'Orey / Cortesia Galeria Presença.


Inês d'Orey, Beograd Concrete, 2022. © Inês d'Orey / Cortesia Galeria Presença.


Vista da exposição Reset, de Isaque Pinheiro. © Isaque Pinheiro / Cortesia Galeria Presença.


Vista da exposição Reset, de Isaque Pinheiro. © Isaque Pinheiro / Cortesia Galeria Presença.


Vista da exposição Reset, de Isaque Pinheiro. © Isaque Pinheiro / Cortesia Galeria Presença.


© Juna Wesley / Cortesia Galeria Presença.

Outras exposições actuais:

TERESA TAF

LUZ MAIS LUZ


Galeria Presença (Porto), Porto
SANDRA SILVA

OSTKREUZ

DREAM ON—BERLIN, THE 90S


C/O Berlin, Berlim
CONSTANÇA BABO

JÚLIA VENTURA

1975-1983


Culturgest, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

MARIA CAPELO

A NOITE DE TODOS OS DIAS


Galeria Municipal Ala da Frente, Famalicão
CLÁUDIA HANDEM

ELLSWORTH KELLY

SHAPES AND COLORS, 1949-2015


Fondation Louis Vuitton, Paris
CONSTANÇA BABO

SAMUEL SILVA

RÉMIGES CANSADAS


Brotéria, Lisboa
CATARINA REAL

MORGAN QUAINTANCE

EFFORTS OF NATURE IV


Solar - Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde
LIZ VAHIA

REGINA DE MIGUEL

LAPIDARIO


Galería Maisterravalbuena, Madrid
CATARINA REAL

MATTHEW BARNEY

SECONDARY


Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris
CONSTANÇA BABO

VERA MOLNÁR

PARLER À L'ŒIL


Centre Pompidou, Paris
CONSTANÇA BABO

ARQUIVO:


INÊS D'OREY / ISAQUE PINHEIRO / JUNA WELSEY

BEOGRADE CONCRETE / RESET / ENCOMPASS




GALERIA PRESENÇA (PORTO)
Rua Miguel Bombarda, 570
4050-379 Porto

18 MAR - 06 MAI 2023

Três em trânsito na Galeria Presença

 

 

A mais recente mostra da Galeria Presença propõe a reunião e a convergência de três exposições. Apresentam-se Beograde Concrete (Beogrado Concreto) de Inês D’Orey, Reset (Reiniciar) de Isaque Pinheiro, e Encompass (Abranger) de Juna Wesley, nas salas primeira, segunda e de projeto, respetivamente. Três artistas com distintos discursos, práticas e estéticas, unem-se e consolidam uma ocasião expositiva híbrida e multidisciplinar. Sem escapar a um certo clash (choque) próprio do encontro e do cruzamento de diferentes disciplinas e sentidos, estabelece-se uma coesa e elegante dinâmica entre os trabalhos artísticos. Justifique-se que, sendo as exposições formal e conceptualmente singulares, encontram-se estreitamente interligadas, nomeadamente, pela força da matéria, em específico, o betão capturado pela câmara de d’Orey, o cimento do qual se constituem as telas de Pinheiro, e a mimesis de redes industriais de Wesley. Donde, a articulação entre os três autores e as suas obras trespassa a disposição espacial e sobreleva-se a sua contaminação que se reverte numa mostra una, de elementos vários, mas agregados. A visita à galeria cumpre-se, então, numa cadência imprevisível, porém, harmoniosa.

Comece-se por refletir sobre a obra de Inês d’Orey (Porto, 1977), que interpela profundamente aquele que a observa. Assinale-se consistir numa reconhecida qualidade da artista, isto é, atingir e afetar o espectador mediante uma decisiva e íntima aproximação. Tal como a própria dá conta da sua vivência nos espaços que fotografa, há uma “afinidade etérea” que se sente ao receber o seu trabalho. A obra de Inês d’Orey impregna-se e fixa-se naquele que a recebe, tanto quanto no local onde se expõe. É, no entanto, aespacial e atemporal, sobretudo considerando que se inscreve na memória, onde permanece, postumamente, findo o rendez-vous físico. Ademais, o seu trabalho, como é, aliás, próprio da fotografia, trata o tempo, congela-o e imortaliza-o, não comungando da sua efemeridade. Explora, igualmente, o real e o ilusório, o acontecimento e o imaginário, a notícia e a narrativa, diluindo dicotomias e firmando-as, antes, enquanto partes constitutivas de um mesmo universo.

Em Beograde Concrete, d’Orey retrata Belgrado, através da sua arquitetura e dos seus espaços simbólicos da identidade da cidade. Expõe edifícios públicos datados de 1946 a 1980, e outros, de habitação ou escritórios, anteriores, de 1918 e dos anos seguintes, coincidentes com a época da Primeira Guerra Mundial, quando se formara a Jugoslávia. Hoje, Belgrado, capital da Sérvia, é uma cidade marcada pela história, o que se reflete na sua disposição, na edificação e, consequentemente, nas fotografias da artista. Recordem-se os bombardeamentos da NATO, durante a Guerra de Kosovo, que, em 1999, atingiram Belgrado. Exige-se sublinhar a particular pertinência deste trabalho face ao atual conflito na Europa, não circunscrito às suas delimitações territoriais, na medida em que ecoa com condições e repercussões planetárias. De modo análogo, o trabalho de d’Orey reverbera. É, precisamente, concreto, direto e, não obstante, sensível e indefinidamente belo.

O sentido de rutura e de fricção encontra-se continuado pela obra de Isaque Pinheiro (Lisboa, 1972), que insiste na inevitabilidade da aproximação ao objeto, somente a interromper no instante imediatamente prévio ao toque. Requer-se, igualmente, a sua contemplação dedicada, lenta, penetrante. Em Pinheiro, o sublime emerge através de uma singular e marcante poética que se desvela no objeto artístico conferindo-lhe uma certa aura.

Apresenta-se, aqui e agora, um trabalho on going, presentemente em desenvolvimento no seu atelier, através do qual o artista introduz os debates contemporâneos e fundamentais da especificidade do médium e da essência da prática artística, especialmente da pintura e da escultura. Questiona e desafia, igualmente, a natureza das coisas, da imagem e da matéria, a partir de reptos óticos e percetivos, da ilusão e da simulação, cujo resultado é uma interessante experiência estética. Trata-se de um trabalho que examina a subjetividade do processo visual humano e o que isto determina e significa para a recepção da obra de arte. A exposição Reset apela, justamente, a um reinício, relativo tanto à reconfiguração e à reconsideração da arte, como também a repensar a condição humana, o próprio e o outro.

Recuperado o fôlego, a obra de Juna Wesley (Minneapolis, 1996) concede o que se requer neste momento final: uma recepção estética leve e delicada, embora estimulante, que anima e cativa. Fá-lo a partir de impressões em relevo azul Klein sobre papel, cada uma ímpar, mas todas visual e formalmente interligadas. En filade, uma após outra, revelam-se em cadeia e expressam-se em uníssono.

Embora transcrita numa escala formal e abstrata, é também uma obra biográfica e pessoal. Em suma, é um trabalho introspetivo que perscruta uma circulação transitória, fruto de um aglomerado de memórias, pensamentos e emoções da autora. Aqueles que habitam no seu âmago, no que Wesley apela de “domínio sub-corporal”, emergem, agora, transfigurando-se e materializando-se através da sua criação artística. Deste modo, transferem-se para as esferas da visibilidade, da tangibilidade e da materialidade, a partir das quais se inscrevem no universo do percetível e do experienciável, donde, do esteticamente acessível.

Em breve nota final, na medida em que esta ocasião expositiva se firma sob a forma de três mostras, ela diverge de uma coletiva. Esta escolha curatorial, por um lado, destaca a individualidade de cada artista e, por outro lado, como indica a galerista Rita Alves, permite que as mostras se afirmem enquanto entidades autónomas que se relacionam e dialogam umas com as outras. Com efeito, Beograde Concrete, Reset e Encompass são, em si, obras de arte que reclamam o seu espaço e a sua individual Presença.

Encontrando-se a Galeria Presença inserida no circuito da Rua Miguel Bombarda, no Porto, integrou as inaugurações do passado dia 18 de março, e permanecerá com as três exposições passíveis de visitar até 6 de maio.



CONSTANÇA BABO