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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Weegee, “Voyage en bus”, années 1940. 19,2 x 25,3 cm. © Weegee (Arthur Fellig)/International Center of Photography/Getty Images


Weegee, “Cowboy fatigué", années 1940”. 20,8 x 25,4 cm. © Weegee (Arthur Fellig)/International Center of Photography/Getty Images


Weegee, “Autoportrait: Weegee au travail devant le coffre de sa Chevrolet", 1942. 24 x 19,3 cm. © Weegee (Arthur Fellig)/International Center of Photography/Getty Images


Weegee, “Meurtre à Little Italy sur Mulberry Street, 7 août 1936”. 25,7 x 20,4 cm. © Weegee (Arthur Fellig)/International Center of Photography/Getty Images


“Weegee au MoMA”, 1944. 28,4 x 35,5 cm. © Weegee (Arthur Fellig)/International Center of Photography/Getty Images

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ARQUIVO:


WEEGEE

Weegee - Dans la Collection Berinson




MUSÉE MAILLOL
59-61, Rue de Grenelle
75007 Paris

20 JUN - 15 OUT 2007


“There were two or three things that I wanted to know. I do not care about a mystery. So I began to inquire”


“There is a type of “Man About Town” in New York (…) the
term is quite familiar to me, but I don´t think I was ever called
upon to define the character before. It would be difficult to point
you out an exact specimen. I would say, offhand, that it is a man
who had a hopeless case of the peculiar New York disease of wanting to see and know.”

O. Henry (1862- 1916)


As fotografias dos anos 30 e 40 de Weegee, são a face real das histórias do cinema noir americano e as semelhanças existentes entre algumas das suas imagens e cenas de “The Big Sleep” (1946) de Howard Hawks são notáveis, caso do carro que é recuperado do fundo do rio. Existe uma estética comum entre os filmes de Hawks, os policiais de Raymond Chandler e as fotografias de Weegee pois todos cruzam Nova Iorque num período em que a noite era ainda negra.

Weegee cria o seu próprio personagem que vive do crime e a quem a polícia concede a primeira autorização de aceder à frequência da rádio-polícia no seu carro (carro-laboratório e sua casa). Inventa a sua técnica fotográfica com o uso do flash a preto-e-branco sem nenhum espectro de cinzento e um sistema de infra-vermelhos para fotografar dentro das salas de cinema e onde não existia iluminação. Weegee começa o seu dia de trabalho à meia-noite.

A exposição patente ao público na Fondation Dina Vierny, Musée Maillol começa por nos mostrar este seu retrato da cidade, o Empire State Building (1940), imperial e solitário como o arranha-céus de “Metropolis” (1926) de Fritz Lang. Rodeado por nuvens, uma máquina fotográfica dispara um flash a preto-e-branco, depois começam a aparecer as ruas, as tabuletas de sentido único em direcção à esquadra policial, as pessoas pouco minutos após terem sido mortas.

A mostra é concebida de uma forma simples, permitindo ao visitante percorrer os muros das cinco salas do rés-do-chão do museu não oferecendo nenhuma originalidade de percurso expositivo. Os núcleos centrais desta exposição são a cidade de Nova Iorque, o período de foto-reportagem de Weegee para o New York Times, as fotografias de massas humanas na cidade e os seus indivíduos (cowboys, stripers, ladrões), a crítica social, terminando com um núcleo de retrato de celebridades de Hollywood. O lugar deixa de nos interessar pois são as fotografias que nos deixam sem palavras e o nosso olhar absorvido pelas imagens faz-nos esquecer que estamos em Paris por volta do 11 de Setembro de 2007.

Weegee fotografou centenas de cenas de crime, de suspeitos, de vagabundos, chegando a afirmar: “Sou pago pelo crime ”; comprova-o a fotografia do cheque de pagamento do New York Times, na qual se assinala um assassinato = 35 doláres, que foi depois a célebre segunda imagem do livro “Naked City”, publicado pelo fotógrafo em 1945. Mas Weegee não fez apenas do crime, das fotografias de gangsters e de criminosos mortos o seu ganha-pão e a sua mira. Weegee viveu numa América empobrecida e cansada pela Grande Depressão e que afogada na guerra explodia em querelas raciais como as que tiveram lugar em Harlem, no mês de Agosto de 1943.

Nova Iorque era uma cidade viveiro de populações vindas de todo o mundo que mudava os nomes dos seus emigrantes para uma sonoridade nacional: Weegee baptizado com o nome de Usher Fellig nasceu em 1899 em Zloczow, perto da actual Lviv na Ucrânia. Era filho do rabino Bernard Fellig, que imigra para a América em 1906 trazendo depois a família em 1910. No serviço de exame à emigração em Ellis Island, Arthur recorda que um simpático senhor lhe oferece uma banana e uma laranja; ele não sabe o que fazer delas pois na sua terra natal não existiam tais frutos. O gentil senhor mostra-lhe como descascar a banana e Arthur diz que não sabe qual é o gosto que ela tem mas parece-lhe bom, depois supõe que a laranja também se descasca e faz a segunda experiência do sabor do Novo-Mundo que se transformaria em Big Apple.

A Colecção Berinson, que reúne 228 vintages, mostra-nos o trabalho de um fotógrafo atento aos conflitos sociais. Weegee fotografa mães negras com as suas crianças nos braços após um tiroteio “ Mother and Child in Harlem” (1950), crianças que dormem em cabines telefónicas (1940) lojas com o letreiro “ Propriedade de um Negro” (cartazes do Governo Federal que apelam: “Preserve o futuro genético do nosso país. Sejam generosos com a vosso banco de esperma regional ” (1953) ou “Nova Iorque, a cidade em que sete milhões e meio de pesoas vivem juntas em solidão” (1940). É este o retrato de uma América turbulenta que ainda não se reconhecia quando se olhava ao espelho que podemos redescobrir com a obra de Weegee.

Weegee, como um nome de guerra, quase um nome voodu que lhe permite um misterioso anonimato racial, frequenta clubes nocturnos como o “Sammy” onde passeiam estrelas como Dylan Thomas, Salvador Dalí ou Frank Sinatra. Chegando a ser contratado como fotógrafo de moda, mostra-nos Veronica Lake ou Marilyn Monroe no dorso de um elefante. Mais tarde, Stanley Kubric, grande apreciador da sua obra, convida-o como consultor do seu filme “Dr. Strangelove” (1964).

No entanto as suas fotografias não possuem a natureza documental de Paul Strand ou de Stieglitz, os seus planos não são centralizados, mas apresentam sempre um oblíquo quase cenográfico, característico de um fotógrafo de teatro. Weegee fotografa naturezas-mortas em acção. E com esta definição restrita a algumas das suas fotografias não faço apelo à teoria de André Bazin sobre o “Arrêt sur l’image”, mas sim à metamorfose operada pelas suas composições fotográficas, que permitem transformar homens e mulheres em frutos pousados numa mesa. São disso exemplo,quer os dois chapéus que viajam juntos (“Voyage en bus”, 1940) transformando-se na decoração de um bolo de casamento, quer as pernas que parecem viver sem a ajuda de nenhum corpo,ou ainda as crianças que dormem como se estivessem mortas num vão de escadas.
Este é o olhar de um Man about city, definição muito díficil de traduzir mas que nos explica tudo sobre este emigrante adoptado por uma cidade onde seres reais e objectos inanimados podem mudar de posição com a rapidez de um flash.




Sílvia Guerra