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COLECTIVAInformed by function![]() LEHMAN COLLEGE ART GALLERY 250 Bedford Park Boulevard West Bronx, NY 10468-1589 06 FEV - 15 MAI 2008 ![]() Repensar os objectos do quotidiano, que nos repensam![]() Afastada dos olhares congestionados dos “centros” de arte de Manhattan, esta exposição aproveita alguns desafios lançados pela exposição “Unmonumental” (exposição inaugural do New Museum, no Lower East Side, em Manhattan) em torno do uso de objectos quotidianos (e as relações que temos com estes), como base para a criação artística. Daí que não seja uma completa surpresa encontrar artistas que também participaram nessa outra exposição, como Marc André Robinson ou Carlos Bunga, por exemplo. A exposição encontra-se dividida por 3 salas denunciando o aspecto das escolhas por parte da equipa das duas curadoras, Claudia Calirman and Susan Hoeltzel, não se entendendo muito bem o critério relativo à disposição dos trabalhos. Se algumas obras como “Ama” (de Francis Cape) e “Throne for the Songs That Will Come by Themselves and of Themselves” (de Marc André Robinson), ou ainda “Untitled” (de Hisae Ikenaga) pertencem claramente ao espaço onde estão, devido às suas dimensões, a existência de outras é igualmente discutível, como por exemplo “You and me” (de Marcia Grostein) ou “Hybrid III” (de Pedro Cruz-Castro). Não se trata portanto de uma escolha de todo harmoniosa no seu conjunto, no entanto o facto desta exposição colectiva ter 16 artistas dá espaço para diferentes formas de expressão, a partir de uma base aparentemente comum. Cabe ao visitante, porém, não se deixar absorver pela atmosfera criada pelas “peças de mobiliário” e conseguir distinguir os espaços invísiveis ocupados por cada uma. A relação com a forma-função do corpo feminino é proposto pelo trabalho de Michelle Jaffé. “Maillot-maillot” apresenta-se como uma recriação de uma “chaise-longue”, em que as formas femininas são sugeridas, tal como apareceriam determinadas através de um fato-de-banho (maillot). Na mesma sala, “Parker” de Forrest Meyers, insurge-se como se de um desenho sólido se tratasse. A forma que “desenha” – assemelhando-se a uma cadeira, com tons oxidados dos fios de aço, não deixa o visitante indiferente, pelo seu caos organizado. Mudando de sala, a atenção centra-se no trabalho de Carlos Bunga (“Model 34”, “Model 35” e “Model 36”). O artista volta a usar a base de trabalho que apresentou em “Unmonumental” – as (igualmente 3) mesas de café, mas desta vez experimentando reformular a sua função (que antes servia de suporte ou plinto) e ainda a forma como cromatográficamente existem. Se normalmente as suas esculturas se caracterizam por adoptarem a cor do espaco, apenas revelando cor após a intervenção do artista, neste caso elas assumem essa cor normalmente interior em jogos cromatográficos e subvertendo o seu papel enquanto objecto funcional. De notar ainda, a assumpção deste artista em relação ao valor que dá às suas esculturas assumindo nelas características de modelo, ainda que tenham sido criados a partir de objectos fabricados em série. Avançando pelo espaço e contígua a esta sala, a maior, supreende-nos “Secret Meeting” de Alexandre Arrechea, um de Los Carpinteros. Mais uma vez, há uma invocação à chaise-longue, o que mostra o papel quase fetichista, que esta peça de mobília tem no imaginário colectivo. Este trabalho, também pelo seu nome e escolha de materiais, parece querer fazer emergir as reuniões frias ou cortantes – no entanto relaxadas, com decisões sobre a guerra e a paz. Uma discussão que embora possa ser realizada num contexto de paz, coloca um destroyer nas ondas de acrílico desenhadas pela chaise-longue. Na mesma sala e mais discreto, destaca-se a escultura de Robinson. Já na “Unmonumental”, este artista tinha apresentado a peça “Myth Monolith”, uma das peças que mais se destacou (também pelo espaco que ocupava), nessa exposição. Aqui, partindo novamente de cadeiras, como componente básico das suas esculturas, Robinson constrói uma circunferência, de grandes dimensões (cerca de 2,25 m de diâmetro), que desafia a resistência das velhas cadeiras que usou. Uma obra que claramente impressiona, pela sua dimensão e equilíbrio estrutural. “Where in the world are you now” de Friedrich Kunath ilude-nos, ao cortar um piano ao meio e por auxílio de um espelho nos fazer aparecer a sua totalidade. A posição desta peça existe de uma forma em que é difícil aparecer o reflexo do visitante, facilitando a construção ilusória. “Ama” – a já mencionada obra de Francis Cape chama-nos a atenção pela sua cor azul. Do ponto de vista técnico, entende-se que a peça foi criada por alguém que tem bons conhecimentos de trabalho em carpintaria e os pormenores são exemplares. A assinalar um detalhe, aparentemente escondido, na parte posterior desta peça – algo que poderia ser uma cadeira, ou alguma arrumação (do ponto de vista funcional). Curioso é também o trabalho em tecido, (também já referido) de Hisae Ikenaga, que parece aludir a um trabalho de desenho, em que o traço se destaca. Olhando para a peça distinguem-se os perfis de peças de mobiliário em que a sua forma é posta em causa pela resistência do próprio tecido e pela gravidade. Para concluir, o trabalho de David Blaumflek, igualmente pela sua dimensão, volta ao conceito de acumulação de mobiliário, para terminar numa paisagem morta – “Still Life”, que é reflectida por um espelho que aparece invertido por cima da peça. Tanto este trabalho como o anterior parecem invocar a facilidade com que acumulamos objectos à nossa volta. De uma forma geral, é importante notar que apesar da controvérsia, e não tirando mérito às comissárias que organizaram esta exposição, a “Unmonumental” parece ter criado um movimento à sua volta, que fez repensar a nossa relação com objectos do quotidiano. E repensá-los de modo a repensarmos-nos a nós mesmos. ![]()
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