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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Ângelo Ferreira de Sousa e Carla Cruz, "Jusqu’ici tout va bien", Instalação na Galeria Plumba, 2006






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ARQUIVO:


ÂNGELO FERREIRA DE SOUSA E CARLA CRUZ

Jusqu’ici tout va bien




PLUMBA - CONTEMPORARY ART GALLERY
Rua Adolfo Casais Monteiro, 16
4050 - 013 Porto

15 JUL - 16 SET 2006

Discurso Transportável

Europa, sonho futuro!
Europa, manhã por vir,
fronteiras sem cães de guarda,
nações com seu riso franco
abertas de par em par!

Europa de Adolfo Casais Monteiro

As pessoas fazem revoluções para estar juntas.
Leonel Moura


Entre os arranha-céus e os muros, entre as expressões da força e os enunciados da fragilidade da nossa sociedade, Ângelo Ferreira de Sousa e Carla Cruz apresentam na Plumba, no Porto, uma instalação com trabalhos alusivos à problemática da imigração e às políticas do “Outro” praticadas pelo Ocidente. Na linha dos trabalhos individuais de ambos os autores, e partindo de uma anterior colaboração (“Espaço Transportável”) a exposição constrói-se, a partir da questão da fronteira e da definição do território, dentro dos pressupostos de uma consciência crítica das relações de força e domínio no mundo contemporâneo.

Da Passarola de Bartolomeu de Gusmão ao barco insuflado com hélio que se encontra em processo de esvaziamento (ou queda) no espaço da galeria há um fosso temporal que modificou a percepção que temos do mundo. Quando Gusmão idealizou a barcarola, o império ainda não temia o mundo e a concentração de bárbaros nas suas fronteiras, antes apostava numa expansão ilimitada de inclusão à força (ou de extermínio quando isso se revelava impossível). Hoje a tecnologia e as maravilhas da técnica são utilizadas em estratégias de fechamento das nossas sociedades, os milhares de milhões investidos anualmente nas fronteiras sul, tanto da Europa como dos Estados Unidos, tentam controlar o número de pessoas vindas dos países do terceiro mundo que tentam por aí forçar a entrada nas nossas cidades de torres protegidas. Abandonados os projectos colonialistas que marcaram a era moderna, o Ocidente aposta na construção de muralhas físicas e virtuais que o separem do mundo de onde se retirou, mundo que agora convola violentamente em incuráveis conflitos regionais que se agravam de dia para dia e produzem sombras ameaçadoras, bem visíveis mesmo das janelas mais baixas das nossas metrópoles. Nesta linha, a imaginação e a fantasia, o sonho quimérico do homem pássaro, indiferente à restrição da fronteira parece ter passado para o outro lado. Como a necessidade faz o engenho, vemos nas tentativas cada vez mais desesperadas dos que tentam romper a nossa “muralha de Adriano” um esforço criativo quase mórbido, uma vontade que não olha a meios ou riscos para atingir o sonho de uma liberdade incompreensível.

Seja a Passarola de Ângelo F. de Sousa e Carla Cruz uma máquina para ultrapassar muros ou uma metáfora de um Ocidente em deflação, é inequívoco que os dois mundos (nós e os outros) se defrontam e encontram a falência dos seus sonhos no muro. Quando em “Espaço Transportável” os artistas se fazem fotografar pedindo boleia para a Europa levantam precisamente a questão da falência do projecto Europeu nos planos social e político. Mesmo aqueles que conseguem o salto, e conseguem o acesso ao primeiro mundo, acabam muitas vezes por deparar-se com outras barreiras tão ou mais intransponíveis que a primeira. O medo do estrangeiro, nunca tendo realmente desaparecido, prolifera uma vez mais no Ocidente, as pessoas prestam-se cada vez mais à construção de muralhas e defesas que acabam também e principalmente por nos afastar de nós próprios e do nosso próximo.

Apesar da absoluta pertinência do tema, e de reconhecermos o valor da discussão política no campo da produção artística como uma forma essencial de pesquisa, inovação e renovação do discurso sobre os temas das nossas sociedades, consideramos que o colectivo de trabalhos de “Jusqu’ici tout va bien” sofre por estar enquadrado no contexto da galeria de arte. Ainda que na própria exposição se faça referência à iniciativa pública e de rua (trabalhos integrados num registo de imprensa, por exemplo), vemos a proposta perder força nas óbvias limitações de um espaço tão especializado. Mesmo que virada para a rua através das notícias de jornal coladas na montra, numa afirmação para fora da postura de denúncia adoptada pelos artistas, a galeria acaba por afastar qualquer público sobre o qual a exposição pudesse ter um valor (in) formativo. Não pensamos abusar se dissermos que no universo dos espectadores de arte (falo especificamente do Porto) reina um consenso de silêncio e uma medida de distância, ainda que haja um grupo preciso de artistas a trabalhar num registo muito politizado. Tal como tem acontecido na imprensa nacional e estrangeira há uma apresentação da posição política do autor (uma definição do grupo) mas sem qualquer esforço de sedução ou de abertura à opinião contraditória. Achamos que, na indicação de um adversário mas na ocultação tanto do seu nome como do seu argumento (muitas vezes por falta de respeito e recusa de legitimidade no interlocutor), acaba por acontecer que os autores iconografam a sua posição numa defesa sem possibilidade de contraditório da sua estrutura ética e moral. A discussão assim só é útil dentro dos grupos e serve apenas para solidificar as crenças em que pensam encontrar a sua legitimidade.


José Roseira