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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Catarina Botelho, “Pai a Dormirâ€, 2007. Provas cor jacto de-tinta. 28 x 42 cm


Sara & André, “S/ título (da série "Claim to Fame Project")â€, 2007.


Tomás Nogueira, “S/ título (Vistas várias)â€, 2006. Provas cromogéneas. Dimensões variáveis


Ramiro Guerreiro, “Acção sobre parede de galeria: transposição da conversão de um quarto de dormir em quarto de trabalhoâ€, 2007.Técnica mista. Dimensões variáveis


Pizz Buin, “Projecto Casa/COZINHAâ€, 2007. Técnica mista. Dimensões variáveis


Vasco Barata, “The Film Seriesâ€, 2007. Provas cor jacto-de-tinta. 45 x 60 cm

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ICA - Institute of Contemporary Art San Francisco,
CATARINA REAL

ARQUIVO:


COLECTIVA

Trabalhar Cansa




ARTE CONTEMPO
Rua dos Navegantes, 46 A
1200-732 Lisboa

08 MAR - 14 ABR 2007


“Trabalhar cansa†é o primeiro resultado, visível e visitável, da “Iniciativa Novos Comissários†promovida pela Arte Contempo no âmbito da sua programação anual. Centrada na valorização e divulgação de propostas artísticas emergentes, esta Associação Cultural, programaticamente assente numa lógica não institucional ou comercial, tem vindo a realizar uma série de projectos expositivos regulares da responsabilidade curatorial de Filipa Oliveira e Miguel Amado. No seguimento da apresentação continuada de obras de jovens criadores, que ali individual ou colectivamente tornam visíveis trabalhos recentes, os programadores projectaram o lançamento de um concurso de ideias para jovens comissários, cujo resultado reunisse vários artistas numa exposição a realizar no espaço físico da Associação.

Programada, produzida e comissariada por Maria do Mar Fazenda, elemento actualmente integrante da equipa de jovens curadores da Fundação de Serralves, esta exposição revela-nos um conjunto de projectos, alguns dos quais fundados em parcerias mais ou menos alargadas, pensados e reunidos a partir da genérica expressão “trabalhar cansaâ€, apropriação titular de uma colectânea de poemas de Cesare Pavese (“Lavorare Stancaâ€, 1936), cuja enunciação problemática se reveste de uma multidimensionalidade reflexiva e subjectiva e, simultaneamente, de uma evidência concreta, incontornável e objectiva. Sugestivo e irónico, o título coloca em causa, se entendido enquanto premissa auto-referencial, o sentido do próprio esforço conceptual operado em conjunto (comissária e artistas), durante as diferentes fases do concurso. Glosando uma constatação à priori, move-se ambígua do terreno do livre-arbitrírio à opção metodológica. Escolher (não) trabalhar, ou como não (não) trabalhar e continuar, ainda, a saber reconhecer-se enquanto célula integrante do tecido social são sentidos possíveis para relações estabelecidas de forma atípica, com a força impositiva e condicionante (da própria existência humana), da ideia de trabalho.

Apresentam-se seis projectos divididos entre três salas que redefinem estruturalmente o espaço da galeria e que determinam três núcleos de leitura dialéctica mais ou menos evidente. Perfeitamente autonomizáveis, Sara & André assumem-se protagonistas num e com um “Auto-retrato†da série “Fundação Sara & Andréâ€, integrado em “Claim to Fameâ€, projecto de enfoques múltiplos que a dupla desenvolve desde 2004. Programaticamente reactivos ao sistema e aos mecanismos de legitimação da arte contemporânea, colocam-se no centro da problemática da mediatização dos consumos artísticos e culturais e assumem subversivamente o lugar da celebridade, ao mesmo tempo que questionam a ideia de trabalho e de autoria numa pintura encomendada a Gonçalo Pena segundo cláusulas de enorme rigidez processual, certificada pela apresentação conjunta do seu contrato de execução. Logo em frente, Vasco Barata apresenta seis imagens fotográficas da série “The Film Séries†(das quais três inéditas), de onde a narratividade dos planos cinematográficos, reforçados pelas referências múltiplas à localização, numeração, e condição (humana e técnica) de realização de cena, valorizam o potencial criativo do processo de trabalho.

Menos interessante, Tomás Nogueira exibe uma série de fotografias tiradas, com uma compulsão serial característica de “tarefeiroâ€, a insólitas marcações do território urbano, apresentadas sob a forma de mosaico organizado em exercício formalista planificado numa folha de papel fotográfico de subtil densidade matérica. Em relação paradoxal com estas, as fotografias e plantas de interiores de Ramiro Guerreiro ilustram a progressiva indistinção categórica dos espaços de habitabilidade na dupla inversão operada pela transformação do quarto de dormir em quarto de trabalho e vice-versa. Característica fundamental dos seus trabalhos anteriores, a performatividade traz o desarranjo necessário ao conjunto que passa, através de uma “acção sobre parede da galeria†com aplicação caótica de frases e tags pintados em spray, a conhecer uma nova lógica de marcação identitária do espaço de trabalho, antes interior e assim tornado público.

A cozinha da galeria é o espaço de apresentação do “Projecto Casa†do colectivo feminino Pizz Buin. A intervenção sobre o espaço obedece a uma lógica conceptual anterior, formulado na apropriação generalizada e explícita de objectos artísticos icónicos cuja vocação o grupo redirecciona, insustentavelmente, para a lógica da habitabilidade, finalidade última desta provocação que coloca à volta de uma mesa-indício de ocupação lúdico/festiva Martha Rosler, Marcel Duchamp, Cildo Meireles, David Shrigley, Marcel Broodthaers, Jeff Wall, Gabriel Kuri, Meret Oppenheim, Paul Cèzanne, entre muitos outros e outros mais que hão-de vir (a ser inventariados). Em contraponto e apesar do excesso de ruído da instalação hiper-detalhada e multi-referencial, humoristicamente fundada na pedagogia academista que instrumentaliza a cópia como o seu mais eficaz e principal recurso, sobrepõe-se o silêncio intimista dos instantâneos de Catarina Botelho. Duas fotografias directamente coladas sobre a parede subtilmente pintada mostram o “Pai a dormirâ€, numa destabilizadora e voyerística aproximação ao objecto de familiaridade induzida. A subversão da pretensa normatividade do trabalho está contida na sugestão diurna do documento, na representação da ideia de descanso enquanto oposição à de trabalho e na opção de fotografar, sem evidente preocupação técnica, justamente o que se encontra à mão.

Com a particularidade de decorrer temporariamente em simultâneo com as primeiras exposições individuais de três dos seis artistas/colectivos de artistas (Catarina Botelho/Módulo; Sara & André/PêssegoPráSemana; Vasco Barata/Carlos Carvalho Arte Contemporânea, já encerradas à excepção da última, a decorrer até 21 de Abril) a exposição apresenta uma montagem de simplicidade e eficácia rigorosas, em que os próprios materiais permitem uma remissão metafórica ao conceito genérico e em que são generosamente disponibilizados os portfolios de alguns artistas para consulta. O resultado anuncia, em coerência geral mas com maturidade desigual, tendências diversificadas na criação artística contemporânea e na capacidade de os seus agentes criarem a partir de conceitos pré-definidos em projectos aglutinadores de comissariado reflexivo. A decorrer até 14 de Abril de 2007.

Lígia Afonso