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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Hreinn Fridfinnsson, “Floor Piece”, 1992-07. Colecção de Petur Arason e Ragna Robertsdottir. © 2007 Hreinn Fridfinnsson


Hreinn Fridfinnsson, “Afterthought”, 2000. Instalação na Serpentine Gallery. Foto: © Sylvain Deleu. Cortesia do artista. © 2007 Hreinn Fridfinnsson


Hreinn Fridfinnsson, “Pair”, 2004/2005. Cortesia da Galerie Nordenhake, Berlim. © 2007 Hreinn Fridfinnsson


Hreinn Fridfinnsson, “Álagablettir” (Sacred and Enchanted Places), “Enchanted Rock in Reykjavik”, 1972. Cortesia da Galerie Nordenhake, Berlim


Hreinn Fridfinnsson, “Attending” (detalhe), 1973. Díptico. Cortesia do artista e i8 gallery, Reykjavik. © 2007 Hreinn Fridfinnsson


Hreinn Fridfinnsson, “Attending” (detalhe), 1973. Díptico. Cortesia do artista e i8 gallery, Reykjavik. © 2007 Hreinn Fridfinnsson


Vista da exposição na Serpentine Gallery. Foto: © Sylvain Deleu. Primeiro plano: “Jars”, 2002 (Michael Krichman e Carmen Cuenca. © 2007 Hreinn Fridfinnsson). Fundo: “House Project”, 1974. Cortesia do

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ARQUIVO:


HREINN FRIDFINNSSON

Hreinn Fridfinnsson




SERPENTINE GALLERY
Kensington Gardens
London W2 3XA

17 JUL - 02 SET 2007


Uma das tendências internacionais mais notórias na produção artística contemporânea, sobre a qual se têm produzido inúmeros discursos, é o retorno a processos e a metodologias do passado, sobretudo, ao período entre o final da década de 1960 e os inícios da década de 1980. Apesar deste “olhar para trás” trazer consigo uma série de questões relacionadas com um certo impasse sentido na criação actual, que de certo modo parece condenada a citar, transcrever e a reproduzir situações, práticas e pesquisas já exploradas nas décadas precedentes, ele pode contribuir para a criação de novas leituras que acrescentam significado – e inclusivamente contribuem para a produção de novos sentidos – aos legados pré-existentes.

Noutros casos, esta revisão exaustiva das práticas artísticas que mais profundamente caracterizaram e modelaram a década de 1970, incentiva a descoberta de artistas e de contextos que permaneceram na sombra do grande impacto causado pelos agentes culturais dos principais centros artísticos deste período em questão, sobretudo de Nova Iorque. Neste sentido, o renascido interesse pelas modalidades desenvolvidas num sentido da apelidada “desmaterialização” do objecto artístico e assentes em processos e em documentações díspares, mais do que na produção de formas estáveis e contempláveis, seja o minimalismo, a performance ou a genericamente chamada arte conceptual, oferecem um enorme contributo à descoberta e reavaliação de artistas e de contextos relegados para segundo plano.

É neste prisma que a exposição de Hreinn Fridfinnsson (Baer Dölum, Islândia, 1943), máximo representante da arte conceptual islandesa, ganha um particular interesse, oferecendo um amplo panorama da produção passada e actual deste artista. Fridfinnsson, que vive e trabalha em Amesterdão desde 1971, foi um dos três fundadores do colectivo e da galeria SÚM, localizada em Reykjavik e uma importante plataforma para a internacionalização da arte islandesa durante a segunda metade dos anos 1960.

A exposição patente na Serpentine Gallery revela os traços fundamentais da obra de Fridfinnsson: a ligação à memória, colectiva ou associada a recordações e experiências pessoais e subjectivas, ambas em estreita articulação com a natureza, a paisagem islandesa e o passar do tempo. Conjugando a apresentação fria e impessoal das suas obras com um espírito romântico e poético, articulado por entre tradições populares, folclore, sonhos e mistérios, Fridfinnsson poderá ser visto como um conceptual lírico ou romântico, encontrando filiações nos trabalhos de artistas como Bas Jan Ader, Giovanni Anselmo, Giulio Paolini ou Richard Long.

Para a Serpentine, Fridfinnsson apresenta um leque de obras que vão da escultura à fotografia, da instalação ao readymade e que estruturam a sua pesquisa e produção, simultaneamente pessoal e distante, lírica e racional. As duas fotografias de “Drawing a Tiger” (1971) consistem num revisitar o passado com um intervalo de vinte anos. Se na primeira imagem observamos um jovem Fridfinnsson, sentado num jardim em 1952, a desenhar um tigre, na segunda assistimos à mesma cena, que foi repetida pelo artista em 1971. Tempo, memória, evocação são os elementos que abrem a exposição através desta obra e se definem como constantes no seu percurso.

Um gesto semelhante, de total exposição de elementos pessoais, está presente na obra “Sheep and Horses of my Nephew” (2001), seis fotografias tiradas pelo seu sobrinho, sem quaisquer indicações estéticas ou compositivas por parte do artista. Ao não controlar o resultado final das imagens, Fridfinnsson dá espaço ao imprevisto ao mesmo tempo que revela o seu desinteresse na forma e o privilégio dado ao processo e à ideia. Prosseguindo um trajecto entre total afastamento e ligações pessoais de impossível alcance, nas quais sentimentos e memórias são filtrados através de olhares alheios, o díptico “After a While” (1976) mostra uma imagem da secretária do artista sobre a qual se observa um pedaço de papel. Ao lado apresenta essa mesma folha, que deste modo torna visível o seu conteúdo e satisfaz a curiosidade e mistério que eram sugeridos pela fotografia.

Fridfinnsson apresenta também inúmeras obras que aludem a um universo sagrado/místico/religioso, filtrado de um modo totalmente frio e objectivo. É o caso das suas esculturas minimais “Sanctuary” (1992-2007) e das “Floor Pieces” (1992-2007), realizadas a partir de caixas de cartão revestidas a papel colorido, que remetem para pequenos altares totalmente despojados ao mesmo tempo em que aludem às formas simples e impessoais dos minimalistas, mas realizadas pelo artista com materiais pobres e quotidianos. Parece sempre existir uma associação não revelada entre o que se vê e o que não se sabe, como se grande parte do valor das suas pesquisas residisse exactamente nesse espaço incerto que é sugerido mas nunca desvelado.

“Sacred and Enchanted Places” (1972), desenvolvida numa série homónima de 12 obras, são peças em que o artista coloca lado a lado imagens fotográficas de locais específicos, com narrativas populares sobre a existência de elementos mágicos nesses mesmos locais. O resultado final é uma contradição simultaneamente humorística e sonhadora entre a crença mística e lendas rurais e a explanação totalmente objectual e afastada desses mesmos relatos.

Uma das suas obras mais conhecidas, “House Project” (1974), funciona como uma sinédoque da sua obra. Para ela, Fridfinnsson inspirou-se num romance islandês do início do século XX que narra a epopeia de um homem que construiu uma casa ao invés, ou seja, com os materiais que geralmente estão do lado de fora no interior e colocando no exterior da casa papel de parede e as decorações que costumam ocupar as paredes internas. Partindo desta ideia, realizou uma casa ao avesso que, de certo modo, fazia com que todo o mundo pudesse estar dentro daquela pequena estrutura habitacional. A obra final não é a casa senão a documentação da sua realização. Contudo esta peça, que permaneceu numa área montanhosa próxima de Reykjavik, continua a suscitar a curiosidade dos que por ela passam, funcionando como um dispositivo intrigante e misterioso, apesar da sua estrutura mínima e depurada, tal como toda a obra de Hreinn Fridfinnsson.





Filipa Ramos