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COLECTIVAO Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli![]() MUSEU BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Calçada Martim de Freitas 3001-455 Coimbra 29 NOV - 15 FEV 2008 ![]() ![]() Está patente no Museu Botânico da Universidade de Coimbra uma exposição, ou “projecto expositivo†– como o apelidam Paulo Bernaschina e Paulo Cunha e Silva, comissário e consultor, respectivamente –, que se desenvolveu a partir da figura de Domenico Vandelli (1735, Pádua – 1816, Lisboa), naturalista que, a convite do Marquês de Pombal, veio para Portugal, primeiro para Lisboa e posteriormente para Coimbra, cidade onde, no âmbito da reforma pombalina da Universidade – iniciada em 1772, no reitorado de D. Francisco de Lemos, e genericamente pautada por uma forte interferência governamental, pelo afastamento da doutrina escolástica e pela introdução de um rigoroso propósito iluminista, materializado nos domÃnios cientÃfico e pedagógico –, seriam criadas as novas Faculdades de Filosofia Natural e de Matemática. E, na verdade, para o estudo da vida e das ciências naturais tornava-se fundamental a existência de dispositivos apropriados. Estas ideias estiveram na origem da criação de três espaços museológicos: o Gabinete de História Natural, o Gabinete de FÃsica Experimental e o Jardim Botânico, cuja responsabilidade inicial coube a Vandelli, permitindo-nos, desde já, compreender o pertinente enquadramento espacial desta exposição no Museu Botânico da Universidade de Coimbra, a que se seguirá a itinerância ao Museu Botânico do Rio de Janeiro, em Março, no âmbito das comemorações do bicentenário da chegada da corte portuguesa ao Brasil. Quanto ao conceito que esteve subjacente à realização desta mostra, este prendeu-se, segundo o texto disponibilizado online pelos organizadores, com um “meta-comissariado que reúne e articula trabalhos realizados noutros contextos, sendo estes reconfigurados a partir do universo pré-cientÃfico de “O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli†– abordagem que introduz uma vertente experimentalista ao nÃvel da curadoriaâ€. Nesta senda, e no que respeita a conteúdos, estão reunidos objectos museológicos das Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto, assim como algumas das obras produzidas para a exposição “O Coração da Ciência†(Encontros de Fotografia/Centro de Artes Visuais, 1991) – Joel Peter Witkin, Jorge Molder, Paul den Hollander, entre outros –, e ainda peças de Alberto Carneiro, André Cepeda, Gabriela Albergaria, João Tabarra, LuÃsa Bebiano, Pedro Medeiros ou Rosa Carvalho. Em grande parte das situações, estamos perante conteúdos de notável nÃvel artÃstico a que alguns dos intervenientes, como Jorge Molder, Peter Witkin ou Alberto Carneiro já há muito nos habituaram. Reflictamos sobre a questão das opções curatoriais da organização. Faz todo o sentido o fomento de um diálogo entre o antigo e o novo, permitindo, no seu seio, (re)pensar os próprios moldes da actividade dos museus de História Natural, cuja origem remonta aos gabinetes de curiosidades. É igualmente feliz a utilização do espaço de um antigo colégio fundado no século XVI – Colégio de São Bento –, a que se dá a hipótese de interagir com a contemporaneidade; de misturar o animal embalsamado ou o vidro da “aberração humanaâ€, com o suporte escultórico, fotográfico ou videográfico; de trazer, de certa forma, a natureza para dentro da arte e para o interior da sala. De uma sala com muitas idades. Numa das vitrinas pode ler-se a seguinte frase de Domenico Vandelli : “Um museu é um livro sempre aberto no qual o observador se instrui com prazer, e felicidade…â€. E esta frase leva-nos ao que me parece ser o aspecto menos positivo desta exposição: justamente o objecto como não gerador de informação/instrução e a não clarificação de um conceito de discurso expositivo no espaço, em suma, alguma falta de comunicação. Tal como já ficou referido, estamos perante uma exposição que mescla curiosos objectos museológicos com obras de arte contemporânea que, de algum modo, aludem para aspectos da natureza, e até especificamente do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Todas as peças – antigas e recentes – estão misturadas no mesmo espaço fÃsico, constituindo-se, sem dúvida, como uma forma legÃtima de construir um gabinete de curiosidades. Contudo, levanta-se o problema da comunicação. Aparentemente nem todas as obras de arte estão identificadas (autor, tÃtulo, etc.) e a identificação, quando acontece, assume uma função paradoxal, isto é, algumas das peças identificadas são-no por meio de tinta dourada escrita sobre o vidro ou a madeira das vitrinas, tornado difÃcil, primeiro, descobrir a identificação; segundo, proceder à sua leitura. Uma outra questão remete para a comunicação. Trata-se da inexistência de um texto introdutório no espaço – mais ou menos confuso – da exposição, dificultando, por conseguinte, a identificação do conceito subjacente ao discurso expositivo. O facto de, por vezes, não se identificarem facilmente as peças antigas e as recentes, ou o que é objecto museológico e objecto artÃstico, pode ser algo extremamente interessante, mas que deverá ser conceptualmente assumido e tornado inteligÃvel ao visitante. No fundo, talvez tivesse sido oportuno criar meios para fazer falar mais claro uma exposição com considerável interesse e ousadia, que se propõe estabelecer um ponto de encontro entre as cousas da natureza, da arte e do mundo. ![]()
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