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ANA HATHERLYANA HATHERLY. TERRITÓRIO ANAGRAMÁTICO![]() FUNDAÇÃO CARMONA E COSTA Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1- 6º A e D, Edifício de Espanha (Bairro do Rego) 1600-196 Lisboa 17 NOV - 13 JAN 2018 ![]() ![]()
Através das Tisanas de Ana Hatherly, projeta-se a possibilidade de contemplarmos a diversidade assimétrica de todos estes «territórios anagramáticos» literários e plásticos da sua obra até à vanguarda da arte experimental. Recordamos, desta forma, uma das suas frases da Tisana 290: «querer tocar com a mão as alturas; secar o mar; defender a verdade; acreditar no crer». Nesta exposição, percecionamos cada «território», que se pode entender através do pensamento plástico, da escrita, do gesto e, por fim, da crítica, redescobrindo o seu espírito revolucionário, fomentando a consciência política e social, em particular, sobre a condição da mulher na sua época. Salientamos, assim, o que afirma João Silvério sobre esta exposição na Fundação Carmona e Costa: «(…) convoca indícios do modo como a artista foi cruzando diferentes formas de fazer, de articular a escrita e o desenho, a poesia e a pintura, a sua investigação sobre o período barroco, sobre a escrita oriental, a caligrafia, o signo e o pictograma». (cf. texto da folha de sala da Fundação Carmona e Costa). A escrita deambula entre imagem e signo, numa série de obras, das quais se destacam Mapas da Imaginação e da Memória, Reinvenção da Leitura e o Escritor. Em dobras e desdobras, em palavras e frases, cada obra se desenrola e diverge em linhas e em formas assimétricas, abertas e plurais, manifestando a desordem e o fragmento. Imagens que seduzem os sentidos transmitem a inquietação em Mapas da Imaginação e da Memória. Cruzam-se discursos, poesia e prosas em imagens desconcertantes, em que o fruidor completa o trajeto do «território anagramático» através das múltiplas experiências estéticas de Ana Hatherly. Em contraponto com o gesto, o teclado da máquina produz outros contornos gráficos, impõe um novo desenho na imagética da linguagem plástica. Numa “grafia-tipográfica”, valoriza-se o processo da leitura numa expressão experimental que produz desenhos em vários formatos. Joga-se com as palavras, provocando ao leitor um encontro com a fonética. O gesto desconstrói a própria ação, desprende-se das dobras neobarrocas que se torcem e bifurcam em outras direções. Incorpora símbolos, graffitis. Gestos libertadores e revolucionários. Numa expressão do erotismo e da sensualidade feminina, ou, até, numa manifestação de rotura, a poesia liberta-se. Todavia, o passado nunca é esquecido em Ana Hatherly, na medida em que o pensamento contemporâneo emana constantemente a sua experiência científica académica. Reinventa a palavra, a escrita e o gesto. Deixa-se de ser linha e formas. Na parábola, metonímia e experimental. Recomeça a linguagem. «Neste esforço da libertação da linguagem literária, eis uma outra solução: criar uma escrita branca, livre de qualquer sujeição a uma ordem fixa da linguagem.» (Barthes, 1997, p. 63). Numa ação política, a escrita reinventa-se, descontextualizando a subversiva ação, tal como na performance intitulada Rotura. Relembramos, assim, a descrição de João Silvério: «foi uma obra performance-instalação apresentada em 1977 na Galeria Quadrum, então dirigida por Dulce d’Agro, e surge na sequência de Poema d’Entro, trabalho apresentado na exposição colectiva intitulada Alternativa Zero, organizada por Ernesto de Sousa nesse mesmo ano.» (cf. texto da folha de sala da Fundação Carmona e Costa). O gesto é o processo, a ação. A linguagem rege-se pela experiência estética experimental. Desfragmenta-se e desvanece o momento. Tempo e espaço. Rasga-se a superfície em papel, destrói-se a matéria. A escrita é «branca». A palavra é ausência. Morte. «(…) [A escrita de Ana Hatherly] não é um recôndito separado do gesto; um pensamento anterior ao corpo, uma ingenuidade ou alegria sem morte um discurso sem método. Não resulta de um qualquer espiritualismo de trazer por casa, um dualismo reflector de duas naturezas, uma consciente e outra subconsciente. É um questionamento para-a-resposta. Resposta inexorável e inevitável, mesmo quando feita de silêncio e de ausência.» (Ernesto de Sousa, 1998, p. 204).
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