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HENRIQUE VIEIRA RIBEIROO ARQUIVISTA. PROJETO CT1LN: PARTE II![]() MNAC - MUSEU DO CHIADO Rua Serpa Pinto, 4 1200-444 Lisboa 19 JUN - 13 OUT 2019 ![]() ![]()
Interactivity also provides for artists concerned with social issues the opportunity to involve viewers in very heightened ways.
Da voz, emergem as imagens. Da palavra, surgem pistas indexadas num diálogo codificado. Através de uma dicotomia entre palavra e tema; palavra e imagem; som e frame, o espectador navega numa semântica entre passado e presente, em «ondas» virtuais, simuladas pelos vários cartãos de identidade do protagonista Paulo V., o radioamador que os colecionou e acumulou durante um certo tempo. Através de «clicking» e «surfing» num mapa-virtual, cuja operação mergulha numa espécie de identidade elaborada pelo autor, o viajante seleciona as suas escolhas. Palavra versus imagem. Imagem versus palavra. Viajamos através do pensamento. «O pensamento é a palavra expressa, mas antes de ser essa palavra é o impulso a que ela fale e, portanto, de algum modo a sua virtualidade», disse Foucault (1966, p. 38). O espectador passa a ser o autor do seu percurso. As imagens fluem com o som e a voz. Muda de sentido, continua na «conversa» com Paulo V., num lugar onde agrega o corpo ao virtual. A comunicação flui livrementre da obra de arte para o espectador. Somos atores nesta encenação. O corpo é um mediador, e o virtual, um traço que deixa de existir. Aspira-se a conexão e a ampliação de um corpo obsoleto, como já descrito Dozois (1999, p. 244): «(…) o corpo está obsoleto e ultrapassado, e deve ser posto a par das novas tecnologias e dos novos espaços virtuais para que seja assegurada a sua viabilidade e a sua imortalidade». Neste imerso espaço virtual, nasce uma nova poética contemporânea, em que o autor-criador, o artista-arquivista, se transfere para um outro, o autor-espectador, o viajante nesta demanda virtual. Temos também um terceiro elemento oculto nesta questão de alteridade, quando se adiciona ao artista-arquivista um duplo, o radioamador Paulo V., que, quer pela ficção quer pela realidade, cria no espaço virtual o simulacro, numa linha fronteiriça que se desvanece através da distorção do espaciotemporal. Tal como afirma Baudrillard (1981, p. 14): «(…) assim, surge a simulação na fase que nos interessa – uma estratégia de real, de neo-real e de hiper-real, que se faz por todo o lado uma estratégia de dissuação».
Vista da exposição Projeto CT1LN. Parte I: “As Viagens de Paulo V.” Fundação Portuguesa das Comunicações, 18 Maio - 29 Junho, 2019.
O arquivo, a coleção de cartões, o microfone, entre outros objetos, são apresentados como elementos fundamentais neste simulacro. Sublinham um outro vínculo à instalação com o Projeto CT1LN. Parte I: “As Viagens de Paulo V.”, exposição exibida anteriormente na Fundação Portuguesa das Comunicações.
Vista da exposição Projeto CT1LN. Parte I: “As Viagens de Paulo V.” Fundação Portuguesa das Comunicações, 18 Maio - 29 Junho, 2019.
Apresentam-se, assim, duas faces da mesma moeda, complementares. As exposições refletem o mesmo universo numa linha temporal paralela, que acentua o paradoxo entre virtual e real. Códigos e gestos delineiam sistemas de «conversas». Mapas coexistem com tempo. Na esfera da comunicação e da linguagem, extravasam o «eu» para o «outro», o «local» para o «global».
Vista da exposição Projeto CT1LN. Parte I: “As Viagens de Paulo V.” Fundação Portuguesa das Comunicações, 18 Maio - 29 Junho, 2019.
No aqui e agora. Percecionamos objetos e imagens, sons e constelações de comunicações, bem como infinitos globos. Som. Ouvimos um monólogo. Som. Somos ouvintes e observadores. Viajamos no local. Sentimos o ritual. O ponto de partida para uma longa viagem. Retornamos, desta forma, ao arquivista, um criador de mapas sem território, cuja curvatura do espaço finda num sistema de signos e de referências linguísticas aparentemente aleatórias e caóticas, divergindo em múltiplas possibilidades, tantas quanto possível ao imaginário que cada um possa gerar:
Este imaginário da representação, que culmina e ao mesmo tempo se afunda no projecto louco dos cartógrafos, de uma coextensividade ideal do mapa e do território, desaparece na simulação – cuja operação é nuclear e genérica e já não espectacular e discursiva. (…) É apenas operacional. Na verdade, já não é real, pois já não está envolto em nenhum imaginário. É hiper--real, produto de síntese irradiando modelos combinatórios num hiperespaço sem atmosfera. (Baudrillard, 1981, p. 8)
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