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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição com Sara Mealha, E agora?, 2020. Fotografia: Bruno Lopes


Vista da exposição com Fernão Cruz, À procura de uma saída, 2019. Fotografia: Bruno Lopes


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição com Carla Cabanas. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição com Horácio Frutuoso, Ecce Homo. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição com Henrique Pavão. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição com instalação de Susana Mendes da Silva. Fotografia: Bruno Lopes.


Vista da exposição com instalação de Susana Mendes da Silva. Fotografia: Bruno Lopes.

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COLECTIVA

FAZER DE CASA LABIRINTO




BALCONY
RUA CORONEL BENTO ROMA 12 A


25 JUL - 16 SET 2020


 

A exposição Fazer de casa labirinto, de Carla Cabanas, Fernão Cruz, Gisela Casimiro, Henrique Pavão, Horácio Frutuoso, Mané Pacheco, Nuno Nunes-Ferreira, Sara Mealha e Susana Mendes Silva está em exibição até 16 de setembro na Balcony, em Alvalade, Lisboa. Trata-se de uma exposição coletiva que reflete sobre as experiências da atual pandemia e consequente redefinição das noções de espaço público e privado.

Com curadoria de Ana Cristina Cachola e Sérgio Fazenda Rodrigues, a exposição ocupa os dois pisos da galeria, numa espécie de labirinto desconstruído. Através de desenhos, vídeos, pinturas, instalações… num projeto assumidamente transdisciplinar, o espaço afigura-se uma jornada progressivamente mais imersiva.

“E agora?” é o enunciado de Sara Mealha que preenche a fachada vítrea da galeria numa teia adornada de múltiplos desenhos. Em coerência e consistência com aquele que é o seu projeto artístico, a artista sintetiza a preocupação de muitos (artistas) numa primeira fase da pandemia neste preâmbulo da exposição. Quase como se os vários desenhos estivessem entrelaçados em múltiplos fios, emerge a leitura de que a preocupação “e agora?” está aqui enredado à semelhança do original enunciado mental, esse emaranhado na cabeça de quem o pensava.

Ainda no primeiro piso encontramos um díptico de grande dimensão da autoria de Fernão Cruz. Nele, assiste-se ao artista na obra. Uma figura humana despida – uma versão “abonecada” de Fernão Cruz nas suas palavras, - surge a gatinhar sobre lava na direção de uma janela. A sobreposição de informação, objetos e elementos não parece exagerada e, aludindo “uma deambulação por uma paisagem imaginada”, sugere uma figura que, apesar das distrações que o circundam, sabe o que quer, quem é e para onde vai.

 

Vista da exposição com Nuno Nunes-Ferreira. Fotografia: Bruno Lopes

 

Antes das escadas encontra-se uma obra composta por dois vídeos de Nuno Nunes-Ferreira. Num, a palavra “vírus” ganha destaque numa montagem acelerada de várias capas de jornais. Uma espécie de clipagem que bombardeia o espetador com informação e que torna impossível a leitura de qualquer outra palavra que não essa. Já, no “lado B” do primeiro monitor, surge um outro que simula uma chamada de Zoom entre os criadores da exposição. Quase como se de um backstage da mesma se tratasse, nesta chamada de Zoom não vemos os interlocutores, condensando-se essa interação numa experiência unicamente sonora. Estabelece-se assim a ponte com as primeiras experiências do piso de baixo, duas colunas que repetem em loop frases como “Estou pacientemente à espera que passe este efeito” e “Também eu. A mais de 600 km de distância.”, criação de Gisela Casimiro, a partir de conversas de Facebook e Instagram.

 

Vista da exposição com Mané Pacheco, (anthopause), 2020. Fotografia: Bruno Lopes

 

Também no piso -1, as peças de Mané Pacheco ganham destaque ao apresentar uma invulgar combinação de formas e materiais. Entre cordas, borrachas e pequenas estruturas metálicas, são criados correntes e filamentos que se assemelham a colunas vertebrais. Assim, neste nicho quase cavernoso, vários elementos suspensos transportam-nos para uma espécie de lado sombrio e mais profundo do ser humano. Entidade que marca quase todos os trabalhos da exposição.

A subsequente divisão do labirinto é da responsabilidade de Susana Mendes Silva e, apesar ser o excerto mais inquietante, quase desconfortável, da exposição - por evocar sentimentos e emoções ainda temporalmente muito próximos das experiências dos últimos meses - será certamente aquele que, no futuro, constituirá um consistente e fidedigno documento arqueológico e sociológico da experiência pandémica de 2020. Entre páginas de diário, cartas recebidas, fotografias que simulam a janela da casa da criadora e alguns elementos como tapeçarias e plantas, a sensação é de que navegamos numa parte íntima da psique da artista – o que transmuta a primeira impressão de incómodo, agora volvida em sensação de conforto e intimidade.

A contribuição de Carla Cabanas passa por uma tocante montagem de fotografias cobertas a ouro, numa espécie de dupla camada de existência e inquietação. O efeito foi conseguido a partir de uma reinvenção da técnica japonesa Kintsugi e resulta num dos momentos mais enternecedores e intrigantes de Fazer de casa labirinto.

Perpendicular ao álbum de parede de Carla Cabanas, emerge uma figura humana que levita sobre uma tela - uma criação de Horácio Frutuoso. Ecce Homo parece comunicar com a obra de Fernão Cruz (presente no piso 0). Não só pelo destaque dado à figura masculina despida, mas sobretudo pela aura de simultânea força e vulnerabilidade conferida ao corpo pintado. Nesta, que remonta a uma espécie de painel néon, a um outdoor interior que levita, vivencia-se um momento verdadeiramente onírico e breathtaking que, com o tempo, não se desvanece, pelo contrário, engrandece-se e intensifica-se.

Por fim, numa espécie de díptico fílmico intemporal, as projeções de Henrique Pavão parecem assemelhar-se a disquetes ou cartões-postal animados que refletem sobre as dimensões do tempo e do espaço. Fazendo um criterioso uso do preto e branco, como já vendo sendo hábito na sua prática artística, os vídeos filmados em 16 mm encerram a exposição com imagens que remetem a um não-lugar que se desenhou transversal a quase todos os trabalhos.

Fazer de casa labirinto configura-se assim como uma exposição coletiva multidisciplinar que se povoa de telas, vídeos, ficheiros de voz, até instastories… através de elementos que navegam entre o áudio, o visual e o escrito, já que em setembro esta criação coletiva ganhará uma nova existência sob o formato de livro. Todavia, ainda neste primeiro estágio, já se faz notar que o exercício coletivo proposto possui uma forte vertente documentarista, ainda que essa intenção não tenha sido voluntária ou consciente. Daqui a umas décadas esta mostra da Balcony funcionará como testemunha de 2020. Testemunha do medo, da preocupação com a saúde mental, do excesso de informação e das redefinições de espaço - temas transversais a esta exposição que coloca a figura, a experiência e a fragilidade humanas em destaque.



DIOGO GRAÇA