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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga


Vistas da exposição 'Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic: No history in a room filled with people with funny names 5', Museu de Serralves, 2020-2021. Fotos © Filipe Braga

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KORAKRIT ARUNANONDCHAI & ALEX GVOJIC

NO HISTORY IN A ROOM FILLED WITH PEOPLE WITH FUNNY NAMES 5




MUSEU DE SERRALVES - MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
Rua D. João de Castro, 210
4150-417 Porto

06 NOV - 04 ABR 2021


 

‘’Canta’’, ‘’ergue-te’’, ‘’dança’’, ‘’chora’’, ‘’respira’’ e ‘’observa’’. [1]

Desde o primeiro passo na exposição No History in a Room Filled with People with Funny Names 5 de Korakrit Arunanondchai e Alex Gvojic (que inaugurou no Museu de Serralves em novembro de 2020) somos imergidos num ambiente nocturno de um mundo irreconhecível. Antes de mergulhar neste mundo já ouvimos o som que repele da escuridão. Os nossos pés calcam algo orgânico, uma mistura de terra e outros materiais naturais como conchas de ostra e berbigão e ramos, e assim caminhamos para um lugar distante e estranhamente tecnológico e esotérico. Enquanto os nossos olhos se habituam à escuridão, somos atacados por luzes de laser verdes que sobrevoam e fluem desde uma peça escultórica, aparentemente orgânica, para os grandes agentes da exposição: uma projecção de vídeo com três canais. Perto de nós, a peça orgânica apresenta-se como uma árvore que serve de preâmbulo para uma certa energia que parece nascer das suas raízes e se estende pelo resto da imensa instalação.

Tal como Dante, descemos para um lugar desconhecido e obscuro com destino aos 3 ecrãs de vídeo. Acompanhados do som latejante e intenso, das máquinas de fumo, dos lasers verdes chegamos até um espaço de paragem e observação. Esta é uma experiência sonora, visual e quase táctil: Os grandes ecrãs transportam-nos para um mundo diferente, contudo, é o grande quadrado de luz verde brilhante (que os sobrevoa) e nos intimida: este ser bidimensional, de alguma forma enigmático mas translúcido, parece simultaneamente gerar e receber os raios de laser que ligam as diferentes peças. Em baixo, os três grandes ecrãs moldam o olhar e ininterruptamente contam-nos histórias e evocam temas sobre ‘’vidas, corpos, histórias, ruínas, memórias, mitos, contos, espetáculos, propagandas, - imagens dissonantes e fragmentos sonoros são interrelacionados na criação colaborativa das formas da instalação e ambientes performativos mutantes.” [2] No decorrer de trinta minutos de vídeo, viajamos acompanhados por uma voz de um narrador que fala para algo ou para alguém, mudando de língua, metamorfoseando-se e distorcendo-se para som ambiente ou um conjunto de vozes que falam e cantam.

Korakrit Arunanondchai e Alex Gvojic mostram-nos um mundo humano na sua presente condição destrutiva e terminal, um caráter estético comum ao seu processo conceptual e trabalhos iniciais. As suas preocupações sociais e históricas, reclamam um sentido do mundo como algo mutável, místico e efémero. Assim, na nossa memória ficarão guardadas imagens e momentos únicos: Amplos planos de pele pintada de verde; A captura de uma serpente a ingerir uma osga; Imagens de uma celebração religiosa numa cidade que faz fronteira com a Tailândia e Myanmar; Ruínas arquitectónicas; Uma performer despida em constante movimento e planos de figuras humanas vestidas de branco que acariciam os raios verdes como se formassem harpas. Mas também permaneceram questões: Quem são estes intervenientes? Que lugares e ruínas são estas? Que sentimento avassalador é este?

Não precisamos de responder a todas as questões que a obra de Korakrit Arunanondchai evoca em nós, este ambiente intenso e excessivo é por si só capaz de nos integrar em contextos e momentos que nem nós compreendemos, pelo seu algoritmo sensorial e etéreo. Arunanondchai, artista de Banguecoque, constrói a sua obra relacionando questões de vida, religião, comunidade, sensibilidade, altruísmo e solidariedade do mesmo modo que evoca amor, tristeza, abandono, quente, frio, e deixa que as suas emoções e histórias fluam e se convertam numa grande experiência sensorial e relacionável. O ápice deste sentimento de relacionamento pessoal com a obra será entendido a uma escala global: As imagens de arquivo da operação de salvamento de uma equipa de futebol juvenil que ficou presa num gruta com o seu treinador, no norte da Tailândia. A falta de ar, a ansiedade e medo mas também a compaixão e alegria unem qualquer pessoa de qualquer canto do mundo. Ouvimos: ’’Numa gruta escura’’, ‘’o mais pequeno reflexo de luz sobre as superfícies húmidas’’, ‘’transforma-se numa história’’. [3] 

‘’Um tema recorrente na sua prática [de Arunanondchai] é este sentido simultâneo do mundo como ecologias plurais e relações trans-espécies, convivência entre humanos e espíritos e hipermediação, e o mundo como o lugar da destruição, da saudade e da finitude humanas.” [4]

De princípio ao fim somos embalados e perturbados por uma atmosfera tanto afável como cruel. Porém, este nível pré-iconográfico deixa-nos com questões que, como seres humanos curiosos, não podemos deixar por responder.

Torna-se importante compreender esta obra e os seus agentes nos seus diferentes e múltiplos contextos, seja pelas suas formas técnicas ou conceptuais.

Num trabalho memorável de curadoria, Philippe Vergne (atual director artístico de Serralves) recria um ambiente de uma obra inicialmente encomendada pelo Centre d’Art Contemporain Genevè para a Biennale of Moving Image de 2018 e apresentada na Bienal de Veneza de 2019. Neste aspecto é importante mencionar também a publicação do catálogo sobre a obra e exposição dedicada a Korakrit Arunanondchai e Alex Gvojic pela Fundação Serralves. Para além do seu valor a nível do design, transpõe, com muito cuidado, um olhar aprofundado a No History in a Room Filled with People with Funny Names 5.

Arunanondchai (n. 1986, Tailândia) relata que não trabalha sozinho, pelo contrário, rodeia-se de amigos/colaboradores experientes como Alex Gvojic (que normalmente filma os vídeos e controla o espaço criativo) e Aaron David Ross que trabalha juntamente com o artista nesta obra. [5] A performer que nos assombra na obra vídeo é boychild, a criação da artista que nasce da plenitude e vontade de se expressar a partir da linguagem do corpo, em constante crescimento e mudança. Mas de onde nasce este ambiente? Este não-lugar, que carece de espaço e tempo únicos, reclama diferentes perspetivas lidas à luz da história e da cultura.

A obra No history in a Room Filled with People with Funny Names 5 é um espelho da cultura a que o seu criador pertence e conhece, é um reflexo (e reflexão) da fábula Phi jang nang [projeção de filmes encomendada por fantasmas] que nasce em Udon Thani, um grande território no nordeste da Tailândia. Udon Thani é a ruína arquitectónica, a memória arqueológica que envolve toda esta obra, ou uma parte da sua essência. Durante a Guerra Fria, Udon Thani foi utilizada como ponto estratégico para bases militares dos Estados Unidos. A presença de soldados estadunidenses altera estas raízes culturais e mundanas pela magnitude da violência e brutalidade (que cobre qualquer guerra) mas, por outro lado, a sua permanência neste território estimula também outras consequências sociais: a curiosidade e utilização de equipamentos audiovisuais, como projectores e filmes de 16mm, torna este sítio e tempo decisivos para o aparecimento da fábula Phi jang nang.

Segundo a fábula, uma equipa de projeccionistas deslocava-se a umas festividades para projectar filmes para a população, mas confusos no percurso seguiram as indicações de um estranho indivíduo de forma humana que os encaminhou para um outro lugar, longínquo. Este era um espaço silencioso e fora do comum. Não obstante, projectaram os seus filmes para uma plateia de silenciosas figuras (aparentemente) humanas. Quando, no dia seguinte, confrontados pela população sobre os acontecimentos da noite anterior, a equipa descobre que o lugar onde projetou os filmes não era um lugar humano, mas sim o reino do Naga, o ser metafísico que tomara a forma de um homem e visitara a equipa de projeção para contratar o seu serviço. O Naga, ou o príncipe serpente, incorporado no vídeo por boychild, teria querido que a equipa participasse nas suas festividades de Ano Novo nesse seu reino tenebroso.

A fábula phi jang nang que evoca o espectador fantasma é a substância que cria o (ainda atual) ritual fílmico - o nang kae bon. Este é um evento de projecção de cinema ao ar livre que se baseia numa estrutura de sociabilidade e comunicação do espírito humano. Uma experiência essencialmente metafísica. Após o sucesso no salvamento dos jovens na gruta da Tailândia, por todo o território aconteceram eventos de nang kae bon, num misto de celebração e agradecimento. A instalação procede: ’’os militares e os fantasmas desta terra’’, ‘’as vozes dos fantasmas são muitas vezes ouvidas através de médiuns espirituais’’, ‘’isto é língua?’’, ‘’sim, é” [6].

Dentro desta gruta escura, nós, o espectador, observamos em silêncio a construção de um mundo sensorial. Da gruta surgem as respostas à questão do artista ‘’qual é o mecanismo da empatia?” [7]. O Naga observa-nos e consome-nos. Assim nos tornamos nos fantasmas feitos da substância que interliga todas as coisas, do orgânico e finito, até ao sublime. Numa outra caverna, noutro tempo, os jovens são salvos, o mundo chora, canta e celebra, o tempo passa e voltamos à mesma gruta escura rodeados de silêncio, emoções e memórias, abruptamente gravados pelo mistério que envolve a nossa linguagem corporal e a energia entre espécies.

 


Mauro Santos Gonçalves
Frequenta o Mestrado de História da Arte, Património e Cultura Visual na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Possui a pós-graduação em Cinema e Cultura Visual na mesma instituição. Em 2019 fundou a Temporal, uma feira de arte, exposições, performances e concertos. 

 

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Notas

[1] Áudio inicial da instalação (01:00min - 02:27min)
[2] Ingawanij, May Adadol. Cinema fantasma para um mundo danificado, 2020 (pp. 49-53)
[3] Áudio da instalação (04:56min - 05:02min)
[4] Ingawanij, May Adadol. Cinema fantasma para um mundo danificado, 2020 (pp. 49-53)
[5] KALEIDOSCOPE magazine, ed. 33 outono-inverno 2018-2019
[6] Áudio da instalação (08:15min - 09:13min)
[7] Korakrit Arunanondchai, Martha Kirszenbaum, BOMB magazine, agosto 2019


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Bibliografia e webgrafia

KALEIDOSCOPE magazine, ed. 33 outono-inverno 2018-2019
Korakrit Arunanondchai em MoMA, disponível em https://www.moma.org/calendar/ exhibitions/3707 (acedido em novembro de 2020)
No history in a Room Filled with People with Funny Names 5, Fundação Serralves, publicação novembro de 2020
Korakrit Arunanondchai & Alex Gvojic, disponível em https://www.serralves.pt/ciclo- serralves/2011-korakrit-arunanondchai-amp-alex-gvojic/ (acedido em novembro de 2020)

 



MAURO SANTOS GONÇALVES