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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina


Vista da exposição Rui Chafes e Alberto Giacometti. Gris, Vide, Cris. © Pedro Pina

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ARQUIVO:


RUI CHAFES E ALBERTO GIACOMETTI

GRIS, VIDE, CRIS




FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av. de Berna, 45 A
1067-001 Lisboa

18 MAI - 18 SET 2023


 

 

mort gris vide cris plein
sonne pan pan tan gris vide
cris
cris vide gris sonne mort
ouvert

 

Giacometti, A. In Chafes & Giacometti (2023). Gris, Vide, Cris. p. 3.

 

 

 

Gris, Vide, Cris.

Silêncio. Escuridão.

A vida e a morte dialogam entre si, no vazio e no silêncio.

O espectador vagueia pelo espaço por caminhos misteriosos e desconhecidos. Confronta-se com uma experiência estética do sentir. Modos de ver despertados pela tragédia e pela negação, numa perceção estética da escuridão, leva a possibilidade do ser se transmutar pelo ver, uma experiência dinâmica fenomenológica.

Sobressaem-se estados psicológicos, medo, curiosidade e surpresa. Caminhos pelo qual o ser o poderá sentir, desencadeados pela mais profunda sensação. Passagens do ser por diferentes dimensões suscitam o questionamento, a reflexão, ou mesmo, a transformação a partir da obra de arte e, para quem a contempla, o ser, na transcendência e na redução.

Escuridão, fissuras, pontos, luz e forma. O cinza transmuta-se na escuridão. Das fissuras, rasgam-se a luz e a forma. No espaço, perambulam figuras sem destino. Numa trágica encenação desenhada por Rui Chafes, reflete-se, de forma serena, num olhar conceptual, a obra escultórica de Giacometti.

O espaço ganha novos contornos, revelando uma dimensão que antes não vista, pela sua dinâmica de intervenção e pela sua teatralidade. As instalações passam a estar imbuídas de drama, quase de uma pura desconcertante encenação dramatúrgica, sendo vista em Samuel Beckett, como recorda Chafes (2023), no catálogo da exposição:

 

Em Le dépeupleur (1968-1970), Beckett descreve o interior de um enorme cilindro com chão e parede de borracha dura. Todo o espaço é iluminado por uma fraca luz amarela. O cilindro é povoado por figuras indistintas e difíceis de caracterizar que se movimentam, incessantemente, executando rigorosas operações, percorrendo determinados percursos. Essa movimentação é, aliás, a causa dos únicos ruídos existentes no enorme silêncio envolvente. (Chafes, 2023, p. 91)

 

No espaço, transmuta-se o ser através do drama pelo drama, no desassossego e na agitação, como um prenúncio às metamorfoses, relembra, de certo modo, o “teatro de reação” de Samuel Beckett, no qual instiga o ser para um novo renascer. Nas obras do dramaturgo, apela-se ao vazio e ao absurdo, à revolta e à revolução, na procura do delírio, imbuído em conversas desconcertantes, quase num eco de um puro vazio, gesticula-se a palavra em não-palavra.

Em Pioravante Marche de Beckett, observamos essa sensação perturbadora:

 

O vazio. Ante os olhos fixos. Fixando-se onde podem. Ao longe e ao largo. Ao alto e em baixo. Aquele campo estreito. Não saber mais. Não ver mais. Não dizer mais. Só aquilo. Só aquele muito pouco de vazio. (Beckett [1990]. Últimos Trabalhos de Samuel Beckett, p. 17)

 

Em Gris, Vide, Cris, rompe-se silêncios no espaço, em cada sala, uma experiência estética, ressoando “vozes sem voz”. Apresentam-se esculturas entrelaçadas entre si pela tragédia e pela negação, como nas obras La Nuit, 2018, de Rui Chafes e Le Nez, 1947-1950, de Alberto Giacometti. Dando, assim, lugar a não-diálogos no vazio que fluem livremente como se a dimensão espácio-temporal não existisse.

Pelo olhar, expande-se o drama pelo drama, de obra em obra, de sala em sala, para mais tarde se interligarem por longas pausas. Entre a redução e a transcendência, cruzam-se figuras com objetos negros escultóricos. Obras de arte enraizadas no ser entoam, desta forma, “vozes sem voz”, cujo movimento da metamorfose gera o estado alquímico do ser.

As figuras de Giacometti brotam silêncio, vazio e gritos. Emergem da matéria densa, esculturas modeladas e corroídas pela ruína, entrançam umas nas outras em variações do informe, esculpidas em barro ou em gesso. Figuras reduzidas ao horror e à alienação, transcrevem-se pela imaterialidade do ser.

Gritos e mais gritos, numa expressão do último sopro do ser. Incapazes de comunicar, em puros corpos alienados e rostos transfigurados, figuras andantes e bustos estáticos, figuras esguias e densas matérias expressam o sofrimento e a morte, contempladas em algumas delas como em Femme debout, 1956, Figurine, c., 1956.

Os objetos negros escultóricos de Rui Chafes metamorfoseiam na dimensão espácio-temporal. Fundem-se na estranheza do ser, em gritos vibrantes e ondulantes, num som sem som, operam numa metalinguagem do vazio, cujo diálogo incomunicante se estende ao passado, quase como se fosse uma memória, um encontro com o universo de Giacometti. De certo modo, visitamos este sentimento, insólito e inquietante, quando observamos as palavras da curadora Helena de Freitas (2023), sobre a obra Tu nem sequer me vês, 2021:

 

Tu nem sequer me vês (2021) é uma escultura mais recente, um corpo defensivo e vigilante, feito para viver numa diagonal ou esquina, como massa excrescente. Escultura-gárgula, cumpre no espaço esse seu desígnio histórico, enquanto defende, teatraliza e escoa. Esta gargouille [garganta] parece conter, na poderosa arquitetura do seu alçado de formas, uma outra configuração de grito ou de som, abafado, surdo, derramado. (p. 19)

 

Dos objetos em negro, modelados e soldados em ferro, florescem leveza e transcendência. Através da rutura, um novo recomeço, a origem das metamorfoses. Sentimos o mistério, que não é revelado, mas sim, vivenciado ou intuído, para quem esteja atento e desperto ao desconhecido. Num olhar abismal imergindo na escuridão, vislumbra-se a mudança em Lumière / Light, 2018. Em cada passo, um modo de ver, o ser inicia a sua jornada. A vertigem antes do abismo, a queda antes da mudança. O nascimento do ser transcendental.

Ao deambular pelo espaço, convergem-se metadiscursos estéticos, uma viagem traçada pelo abismo. Soando a um sussurro pela noite, reverbera o espectador engolido pelo vazio. Da escuridão à vertigem, da plenitude à transmutação, cria-se múltiplos fragmentos temporais, germina-se, desta forma, uma centelha, a luz - a mudança da consciência. Assim, apreciamos uma conversa com o artista Joseph Beuys (Von Graetavenitz, 1982, p. 67):

 

I am interested in transformation, transubstantiation. I am looking for the borderlines of the Religious/Spiritual. Making transformations is a movement of alchemy, religion.

 

 

 

Joana Consiglieri

Vive e trabalha em Lisboa. Artista plástica, teórica de arte, investigadora, professora do ensino superior e Design (Cocriadora de AMAZ’D art studio). Doutoramento em Ciências da Arte. Mestrado em Teorias da Arte e licenciada em Artes Plásticas – Escultura. 



JOANA CONSIGLIERI