Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito.


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito


Ruy Leitão, Hat, Anos 60, óleo sobre tela, 123x91 cm. Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito.


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito.


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito.


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito.


Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito

Outras exposições actuais:

COLECTIVA

COLISOR


Museu Municipal de Faro, Faro
SUSANA RODRIGUES

OSCAR MURILLO

TOGETHER IN OUR SPIRITS


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

SUSANA CHIOCCA

SOLUÇOS SUSSURROS LABAREDAS


Espaço MIRA, Porto
CLÁUDIA HANDEM

IRENE M. BORREGO

A VISITA E UM JARDIM SECRETO


Cinemas Portugueses,
RICHARD LAURENT

BERLINDE DE BRUYCKERE

ATRAVESSAR UMA PONTE EM CHAMAS


MAC/CCB - Museu de Arte Contemporânea, Lisboa
MARC LENOT

SANDIM MENDES

VIÚVA BRANCA


Galeria Municipal de Arte de Almada, Almada
CARLA CARBONE

PAULO LISBOA

CICLÓPTICO


MAAT, Lisboa
CATARINA PATRÍCIO

COLECTIVA

A REVOLUÇÃO NA NOITE


Centro de Arte Oliva, S. João da Madeira
CONSTANÇA BABO

DAN GRAHAM

NOT POST-MODERNISM. DAN GRAHAM E A ARQUITETURA DO SÉCULO XX


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

MIGUEL BRANCO

BLUE ANGEL


Galeria Pedro Cera, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

ARQUIVO:


RUY LEITÃO

RUY LEITÃO, COM ALEGRIA




CAMB – CENTRO DE ARTE MANUEL DE BRITO (LISBOA)
Campo Grande, 113A
1700-089 Lisboa

22 JUN - 30 DEZ 2023


 


A exposição de Ruy Leitão, “Ruy Leitão, com Alegria”, está patente no Centro de Arte Manuel de Brito até ao final do ano de 2023, 30 de Dezembro.

Ruy Leitão nasceu em 1949 nos Estados Unidos, e viveu até ao ano de 1976. Apesar de esta janela temporal ser curta, a obra de Ruy parece-me das que sobrevivem ao tempo, inevitavelmente sendo marcada por ele, mas permanecendo actual e não perecendo nas suas amarras. Talvez aconteça por tocar a vida, a experiência da vida, nos pontos mais sensíveis, aqueles que são inerentes à ideia de humano, e que vão atravessando os dias, os anos, os séculos e todos os relógios e calendários. Esta é uma característica de um trabalho inerentemente político, se aceitarmos a visão (que subscrevo) de que uma das fracções da acção e função política das expressões artísticas e da arte é essa mesma, celebrar a alegria e o prazer de viver, deixar activos os afectos e celebrá-los.

A morte prematura é sempre absolutamente trágica. A morte presente nesta janela de tempo entre os 20 e os 30 anos de experiência (Ruy Leitão morreu aos 26 anos) anuncia a perda de anos de vitalidade assoberbante, em que o estado adulto se instala, podendo ou não permanecer a criança entusiasmada nas figuras artísticas. O que nos chega de testemunhos próximos é que a criança em Ruy estava plena, e se vislumbrava essa permanência da alegria infantil e do deslumbramento para com a vida, expressa no seu trabalho pelo vigor das cores, dos traços, dos caminhos. O título atribuído a esta exposição póstuma, sublinha essa alegria que, mesmo que não fosse anunciada, se percebe e absorve na visita à exposição. Nela é também expresso o carinho para com a figura de Ruy que, mesmo sendo apenas uma leitura intuitiva, me parece muito pouco vinda da nostalgia do desaparecimento e apenas força das memórias vívidas, à imagem do seu trabalho, a corporalidade que permanece para além da sua vida, e que pode (e deve) ser revisitada para que não se esqueça, não apenas Ruy, mas que a finitude que habitamos acarreta o paradoxo da própria existência, o equilíbrio entre a vibração e o desânimo, a montanha russa da emoção permanente que nos trará continuamente quer à alegria como à mais profunda tristeza. Que esta exposição sirva, para além de nos dar acesso a uma excelsa obra, para nos relembrar disso mesmo.

 

Cortesia Centro de Arte Manuel de Brito

 

Na RTP Arquivos é ainda possível consultar dois programas que referem anteriores exposições de Ruy Leitão que merecem ser assistidos. Em 1974, apresentado por Rocha de Sousa, a propósito da segunda exposição individual de Ruy Leitão na Galeria 111, é referido pelo mesmo a pertença de Ruy Leitão ao que se poderia chamar de nova figuração, disruptiva para com o anterior cenário e sensibilidade plástica. Rocha de Sousa contextualiza também o contexto que a permitiu aparecer em Portugal e que tomou expressão num conjunto de, à altura, jovens artistas portugueses. É ainda dito que a pintura de Ruy Leitão não é caracteristicamente portuguesa, mas que com essa linhagem partilha um certo lirismo, que a sua obra recupera um universo ligado à banda desenhada para se debruçar sobre novos fenómenos de consumo, da presença das luzes nas novas cidades. E também, das minhas frases favoritas deste programa, que Ruy junta “a anedota ao anedótico”, conseguindo com isso representar um certo clima paradoxal de mudanças em curso.

A jovem Maria Filomena Molder, no programa apresentado por Alexandre Melo que conta também com testemunho de Manuel de Brito, onde se refere uma outra exposição realizada também na Galeria 111 no ano de 1994, que deu origem a um catálogo da exposição com ensaio escrito por Maria Filomena. A mesma refere-se à obra de Ruy Leitão como estando na esteira da pop arte inglesa, com uma certa diferença, que resulta de um amor à imagem nítida mas também à cumplicidade para com a eterna deformação das coisas. Esta mistura causa a estranheza - ou, diria eu, a excepcionalidade - que a obra de Ruy possui. Diz Maria Filomena que esta mistura, onde não sabemos se as formas estão moribundas ou prestes a nascer, é semelhante “ao que acontece a um copo de água perto do Equador”. As forças que atravessam a sua pintura são de uma indistinta ligação entre a morte e a vida. Um nascimento e finitude indecisos. 

A alegria destes desenhos e pinturas, de anteriores exposições, e de “Ruy Leitão, com Alegria”, afastam-nos de cenários sombrios, dos equívocos que ficaram por desvendar, e transportam-nos para a energia da vida em movimento; as cores, os motivos e o movimento de transição entre momentos, recortes, paisagens. As paisagens recortadas como uma manta de retalhos de um percurso, em que a dado momento as visões são congeladas. E, mesmo congelando, ainda vibram.

Lê-se nas obras, e acentua-se essa leitura pelo que nos é dado de relatos, que eram as características pessoais do artista que o levavam à celebração e alegria; foi escrito a seu propósito por Patrick Caulfield no catálogo da exposição de Ruy Leitão na Fundação Calouste Gulbenkian em 1985, que “ a sua forma reservada na comunicação verbal, precisava de uma saída através duma linguagem visual própria” enquanto que Helder Macedo, num texto também presente numa das paredes da presente exposição, escreve que o mesmo Patrick Caufield disse um dia para a Menez “Acho que o rapaz é um génio”. E a Menez, apavorada: “Não diga isso, que dá azar!”. Continua, escrevendo que “Tiveram ambos razão, mas não por isso. O génio precoce do Ruy era a sua inocência. A inocência que o mundo não perdoa. A alegria que o mundo não consente.”. Este excerto, de um texto necessário para o entendimento da necessidade e urgência desta exposição, expressa a imagem do imenso carinho pela figura de Ruy Leitão, cuja obra é a sua própria continuidade, e sublinha a ferida aberta que a desaparição das figuras que suportam e instigam a sensibilidade do mundo nos deixa.

Mesmo que complacentes com a alegria, não arriscamos - nós, os tímidos ou cobardes - os passos da possível loucura que ser alegre é. Enfim, esta é uma interpretação lata dos afectos que me parecem estar presentes nesta exposição, nos laços que se celebram com ela, e uma projecção do meu próprio fascínio para com os que arriscam a loucura que é viver a alegria, alegremente.

 

 

Catarina Real 
(1992, Barcelos) Trabalha na intersecção entre a prática artística e a investigação teórica no campos expandidos da pintura, escrita e coreografia, maioritariamente em projectos colaborativos de longa duração, que se debruçam sobre o questionamento de como podemos viver melhor colectivamente. É doutoranda do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho com uma investigação que cruza arte, amor e capital. Encontra-se em desenvolvimento da Terapia da Cor, prática aplicada entre teoria da cor, arte postal e intuição coreográfica. Mantém uma prática de comentário - nas vertentes de textos de reflexão, textos introdutórios a exposições, entrevistas e moderação de conversas - às obras e processos realizados pelos artistas na sua faixa geracional, com a intenção de contribuir para um ambiente salutar de crítica e criação colectiva e comunitária.

É de momento artista residente na Residency Unlimited, Nova York, com apoio do Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC.

 



CATARINA REAL