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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Louise Bourgeois, "Maman", 1999.


Louise Bourgeois, “Clutching”, 1962. Cortesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve e Galerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Rafael Lobato


Louise Bourgeois, “Sleep II”, 1967. Cortesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve and Galerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Peter Bellamy


Louise Bourgeois, “Arch of Hysteria”, 1993. Cprtesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve e Galerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Allan Finkelman


Louise Bourgeois, “Fragile Goddess”, 2002. Cortesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve eGalerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Christopher Burke


Louise Bourgeois, “Give or Take”, 2002. Cortesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve e Galerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Christopher Burke


Louise Bourgeois, “Spider”, 2003. Cortesia: Cheim & Read, Galerie Karsten Greve e Galerie Hauser & Wirth © Louise Bourgeois. Fotografia: Christopher Burke


Louise Bourgeois, “Femme Maison”, 1994. Colecção Privada. © Louise Bourgeois. Fotografia: Christopher Burke

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ARQUIVO:


LOUISE BOURGEOIS

Louise Bourgeois




TATE MODERN
Bankside
London SE1 9TG

10 OUT - 20 JAN 2008


“I have no ego. I am my work.” A obra de Louise Bourgeois tem uma inequívoca dimensão autobiográfica. O confronto com o aspecto obsessivo do seu corpo de trabalho pode emocionar e violentar a audiência mais informada. A militância interior em contraponto ao mundo exterior assume um carácter profundamente universal, respondendo, a partir das reminiscências traumáticas da sua infância, às emoções dicotómicas do quotidiano relacional com as quais sistematicamente negociamos. Tornando visceralmente explícitos o medo, a fractura, o amor, o ódio, a ternura, o ciúme, a culpa, a protecção, a agressão, a sedução, a traição, a força ou a vulnerabilidade, Louise Bourgeois manifesta, do particular para o geral, durante os seus épicos setenta anos de produção artística, uma consciência profundamente humana (trágica e brutalmente cruel) da existência.


A Tate Modern apresenta cerca de duzentos trabalhos referentes à totalidade do percurso de Louise Bourgeois. Nascida em Paris em 1911, inicia o seu trabalho artístico em 1938, no contexto da Segunda Guerra Mundial, mas a sua primeira exposição individual data de 1945 em Nova Iorque, cidade onde se fixa em permanência com a família entretanto estruturada (três filhos com o Historiador de Arte Robert Goldwater). Em 1966 posiciona-se definitivamente fora do determinismo modernista dos movimentos artísticos e participa da exposição “Eccentric Abstraction” de Lucy Lippard, ao lado de Bruce Nauman ou Eve Hesse, nos anos áureos do Minimalismo hard-edge. O MoMA foi o lugar da sua consagração em 1982, data histórica em que o museu realiza a primeira retrospectiva dedicada a uma mulher artista. Na abertura da Tate Modern (2000), a artista ocupa o espaço experimental Turbine Hall com a instalação “I Do, I Undo, I Redo”, cujo elemento protagonista era a monumental “Mamam” que hoje surpreende e desafia no exterior do mesmo edifício.


A retrospectiva compreende, para além da exposição, o exercício de texto publicado em catálogo. Compreende um glossário (A-Z), editado por Paulo Herkenhoff, com entradas que variam entre o comentário da artista (cujas fontes são entrevistas, diários ou anotações); o pequeno comentário especulativo e o ensaio académico (textos de Robert Storr, Rosalind Krauss, Lucy Lippard, Marina Warner, Bernard Marcadé, entre outros).


A exposição organiza-se em corpos de trabalho e épocas demarcadas de produção. Os suportes, materiais e formas são claramente distintos e diversos, oscilando em permanência entre a figuração e a abstracção. As pinturas, esculturas (de pequeno formato ou escala monumental), desenhos, instalações, maquetas e objectos traduzem uma iconografia híbrida, muitas vezes no limiar de um imaginário surrealista. Colocando as experiências da identidade, da ansiedade, da histeria, da agressão, da claustrofobia, do controlo, da depressão, da destruição, da tensão, da sexualidade, do perigo e do pânico, na génese e ao serviço do pensamento plástico, ganhou um lugar de destaque (objecto de homenagens variadas) nos desenvolvimentos do campo da teoria psicanalítica feminista.


É a mulher, ela própria, o fundamento da gramática discernível na primeira sala de exposição. “Femme Maison” é uma série de pinturas figurativas e metafóricas que reflectem sobre identidade e condição de género dentro da complexidade modernista e vertical da cidade em explosão. A disfuncionalidade da arquitectura, dita doméstica, converte-se no próprio corpo da mulher em clausura, a mesma mulher menina para quem a casa familiar da infância provincial, miniaturizada em mármore à escala de uma boneca, significava a guilhotina pendente em “Cell (Choisy)”.


Tornadas arquitecturas totémicas, as esculturas “Personages” das décadas de 40 e 50, celebram a abstracção antropomórfica que a linguagem anterior não contém. Com total autonomia inicial, começam progressivamente a integrar ambientes cada vez mais complexos, em diálogo umas com as outras, num histórico contributo para a genealogia da instalação.


É também no espaço e do espaço que brotam as esculturas em gesso e látex do período seguinte. Viscerais, primitivos, orgânicos e disformes, os corpos em metamorfose parecem libertar-se, fluidos, a partir de fissuras e orifícios subterrâneos. O carácter carnal, físico, explícito e ameaçador destes trabalhos tem o seu expoente máximo em “The destruction of the father” (1974), instalação celebratória da fantasia infantil omnipresente de devorar e consumir o pai infiel num refeição-ritual canibalístico-familiar. Mais referenciais e controladas, as esculturas de mármore reforçam o carácter sexual das anteriores. Falos, vulvas, torsos hermafroditas, reconfiguram uma linguagem escultórica híbrida materialmente classicizante.


As celas e os quartos são o apogeu narrativo do pensamento plástico de Bourgeois. A mudança de atelier possibilita-lhe passar a projectar em grande escala e conciliar a compulsão coleccionista que caracteriza as instalações-cenários-precários, jaulas espiraladas da discórdia familiar. Os interiores, não acessíveis, permitem-se entrever através de pequenas aberturas-convite à participação voyerística do espectador. Assombrosos e claustrofóbicos, encontram-se repletos de intrigantes objectos, encontrados ou fabricados, metafóricos e simbólicos, que projectam nas condições da sua integração cirúrgica e neurótica o sofrimento inerente às relações de intimidade.


Os trabalhos mais recentes confirmam a recorrência do recurso à memória de infância. A crescente importância do tecido, matéria-prima da empresa familiar de restauro de tapeçaria, do cozer, do costurar e do bordar, traduz uma aparente domesticação dos sentimentos não confirmada no patchwork exercido, a ponto cru, sobre cabeças mutiladas, reconstruídas e expostas em vitrines. A escala e o material destes trabalhos aproxima-se da dos objectos organizados na última sala, cujo conteúdo é documental e transversal ao corpo septuagenário de trabalho. Gabinete de curiosidades ou câmara de terror, testemunha o quotidiano artístico (que é vivencial e vice-versa) em inúmeras esculturas experimentais e objectos fetiche que empurram para o início: o pai comido à mesa em miolo de pão.



Lígia Afonso