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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Espace 1, 2016


Espace 3, 2016


Espace 8, 2016


Verre 3, 2016


Or 3, 2016


Or 4, 2016


Reflet 1, 2016


Reflet 2, 2016


Lit bleu, 2016

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Centro Cultural de Cascais, Cascais
FÁTIMA LOPES CARDOSO

ARQUIVO:


MANUELA MARQUES

MANUELA MARQUES E VERSAILLES A FACE ESCONDIDA DO SOL




FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Av. de Berna, 45 A
1067-001 Lisboa

02 MAR - 22 MAI 2017


 

Versailles.
A Glorificação das Artes para um único fim: o Rei-Sol.
O mito entre glamour e vertigem, poder e queda, extrapola em conexões numa dialéctica de vivências e lugares. Este mapa que se constrói conceptual e emocionalmente, revela-se pela flexibilidade, reversibilidade e mutabilidade de um rizoma histórico. Cria a fluidez de linhas, que produzem uma teia orgânica, desconcertante e vertiginosa. O espaço, enquanto território, estabelece um sistema descentrado por pontos e ligeiros decalques, que assumem diferentes formas.

Esta reflexão ontológica histórica-temporal relembra-nos Deleuze e Guattari (2003), na sua obra A thousand plateaus, capitalism and schizophrenia, quando reinterpretam o lugar através do conceito rizoma, minando o centro, que submerge e resiste ao caos: «A mistake in speed, rhythm, or harmony would be catastrophic because it would bring back the forces of chaos, destroying both creator and creation.» (2003, p. 311). Porventura, este sistema também se encontra no espaço barroco, através da imensidão de janelas e alas, com portas intercomunicantes, onde desfrutava a corte francesa. Esta encenação teatral que nos transporta para a memória, a procura e a descoberta, remete-nos para uma diferente experiência estética dada pela artista Manuela Marques, entre Versailles e «conversas» lançadas a partir das obras seleccionadas da Colecção Calouste Gulbenkian. A artista reconstrói o território barroco num mapa orgânico da contemporaneidade.

Na Galeria do Piso Inferior, Manuela Marques apresenta o seu projecto, num rizoma conceptual e visual. A deambulação e a intimidade emergem na passagem entre os espaços de Versailles: «corredores destinados ao uso da antiga corte». Desta forma, a artista torna-se uma «flâneur», tal como afirma João Carvalho Dias, no texto do catálogo. Transforma a intimidade e os espaços ocultos, em sombras numa repetição labiríntica. Uma memória, que revela linhas espaciais barrocas, ou movimentos curvilíneos, ritmos e percursos, que se dobram em diversas leituras e percepções possíveis. O movimento nasce nessa tensão produzida ocultamente pelas obras Espaço 1 a Espace 8, 2016, ou pela abstracção das obras Verre 1 a Verre 7. Por outro lado, regista em pequenos detalhes uma nova iconografia visual, que desvanecem com o tempo nas obras Or.1 a Or.5, 2016.

Na Galeria do Museu Calouste Gulbenkian, a partir da Colecção do Fundador, deparamo-nos com uma leitura de um dado período da vivência palaciana francesa do século XVIII, acedendo, na presente exposição, a um novo conceito. Usufruímos de algo inédito dado por alguns núcleos do espólio em reserva, que são habitualmente inacessíveis. O espectador caminha e deambula num determinado itinerário museológico.

Numa exaltação do mundo fabuloso e requintado, a artista Manuela Marques assume uma conversa entre passado e presente, Versailles e contemporaneidade. Com o traçado de André Le Nôtre, observamos de perto uma perspectiva do Château de Versailles no livro de Gilles de Mortain (século XVIII), Les plans, profils, elevations, des villes, et châteaux de Versailles, avec les bosquets et fontaines, tels quils sont a present (…) Dédiez au Roi (…) Paris: Chez Demortain, 1716.

Leva-nos também ao deleite através de uma viagem ao mundo fabuloso do Palácio. Contemplamos, a título de exemplo, as pinturas Le Tapis Vert, c. 1775-1777, de Humbert Robert, ou a escultura em bronze, o Busto de Luís XIV, século XVIII, inspirado no modelo de Jean Warin (1596/1604-1672).

Entretanto, temos uma conversa, para dar lugar ao diálogo, entre Reflet 2 e Reflet 3, 2016, e Seda, 1786, ou o Canapé com assentos de canto, 1784, de Nicolas Blanchard e Barthélémy Mamés Rascalon. Relembramos os banquetes reais repletos de glamour e festa, através das pratas, com o Par de mostardeiras, c.1750-1751, de Antoine-Sébastien Durand. Viajamos pelas artes, música, literatura e ciência, com Metamorfoses de Ovídio, ou com o Busto do dramaturgo de Molière, 1785, de Jean-Jacques Caffieri, e O Astrónomo, c.1777, de Nicolas-Bernard Lépicié.

João Carvalho Dias apela-nos ao íntimo de Versailles e à elevação dos sentidos. Uma outra visão, mais apaixonada, e uma tentativa desprovida da ostentação palaciana, que entra em contraponto com outro mundo, criado pelas várias leituras do pré-romântico Jean-Jacques Rousseau:

 

Luís XVII (1754-1793) e a sua consorte austríaca, Maria Antonieta (1755-1793), irão ainda promover alterações no Petit Trianon e construir Le hameau de la reine. Trata-se de uma pequena aldeia rural, onde a rainha e os seus filhos podiam experimentar uma vida simples entre a Natureza, que crescia livre, como preconizado por Jean-Jacques Rousseau, fora dos constragimentos impostos pela corte, no ocaso de um mundo que se desvanecia. (Carvalho Dias, 2017, p. 5)

 

O mundo de Versailles prestes a ruir, representa também a cidade clássica e o «amour-propre»: a vaidade e o orgulho, cujos princípios Rousseau refutava, por afastar o ser humano do «estado da natureza». «Homem natural». Na sua última obra Rêveries du Promeneur Solitaire, revela a necessidade desse estado, através da deambulação e de devaneios de pensamentos:

 

(…) je n’ai vu nulle manière plus simple et plus sûre d’exécuter cette entreprise que de tenir un registre fidèle de mes promenades solitaire et des rêveries qui les remplissent quand je laisse ma tête entièrement libre, et mes idées suivre leur pente sans résistance et sans gêne. (2001, p. 53)



Manuela Marques abre esta possibilidade de experiência estética na contemporaneidade. Dialoga através de uma conversa conceptual, que deambula entre linguagem e imagem, história e tempo, movimento e pausa, numa aparente simplicidade. Capta a fonte do jardim numa primeira impressão, num «vídeo de registo» – repérage: Vanished, 2016. Todavia, a sua visão testemunha a memória histórica dada pela brancura de um inverno rigoroso, quebrado por um som de uma nova Era. Isto é, reforça esta ideia espácio-temporal, como afirma a própria artista: «Esse som que se infiltrou pela multiplicidade dos espaços, dificilmente audível, representou um momento forte, como se algo viesse até a mim através da história do lugar».

O som desvanece com o tempo, entre portas e alas, jardim e festividades, onde prevalece algo que nos escapa.
Abstracção. Movimento. Repetição. Tempo.

 

 

 

 



JOANA CONSIGLIERI