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EXPOSIÇÕES ATUAIS


James Newitt "Fossil", 2019 (video still).


James Newitt "Fossil", 2019 (video still).


James Newitt "Fossil", 2019 (video still).


James Newitt "Fossil", 2019 (video still).


Vista da exposição, piso -1. Fotografia cortesia Carpintarias de São Lázaro.


Vista da exposição, piso -1. Fotografia cortesia Carpintarias de São Lázaro.

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ARQUIVO:


JAMES NEWITT

FOSSIL




CARPINTARIAS DE SÃO LÃZARO
R. São Lázaro 72
1150-199

18 JUL - 29 AGO 2020


 

 

 

Foi com a exposição Fossil do cineasta australiano James Newitt que as Carpintarias de São Lázaro reabriram portas no passado dia 18 de julho. Trata-se de uma exposição que preenche os pisos do Centro Cultural com duas peças audiovisuais que refletem sobre o tempo, a memória e a linguagem e que se encontra em exposição até 29 de agosto.

Sob encomenda da Art Gallery of New South Wales, em Sidney, James Newiit filmou Fossil nas Carpintarias, o mesmo espaço que acolhe agora a projeção dessas imagens. No piso 0 é projetada a obra primordial, uma curta metragem de 22 minutos num dispositivo de black box; enquanto que no piso -1 se pode encontrar uma instalação imersiva alusiva ao ambiente que deu origem a Fossil, que funciona como uma espécie de labo B, de subsolo, da curta metragem.

 

A partir de um livro escrito pelo próprio artista em 2017, Fossil exibe uma narrativa não linear de dois personagens em interação, dois homens que possuem uma relação de intimidade. Serão pai e filho? Irmãos? Amantes? Numa atmosfera simultaneamente doméstica e industrial, o personagem mais velho parece ter perdido algumas faculdades cognitivas, de linguagem e de memória, enquanto o mais novo atua como uma espécie de ponte com o real.

Movimentos repetidos do personagem de Anton Skrzypiciel (o mais velho) sugerem a dado momento uma cirurgia ao encéfalo. Frases como “Alguém te trouxe flores” ou “Como é que te estás a sentir?” reforçam essa memória «hospitalar», seguindo-se outros enunciados que sugerem um reensinar do nome e da função de determinados objetos ao personagem desmemoriado. Da curta metragem destacam-se ainda os momentos alegóricos e oníricos, como as partes de corpo flutuantes que sublinham a aura de dubiedade, loucura e confusão insinuada pela obra.

Através de uma sequência acelerada que destaca o envelhecimento e enrugamento de um ramo de flores uma passagem de tempo é sugerida. Referências orais da voz-off também baralham o ontem, o passado e o presente; emergindo uma metadramaturgia que parece apontar para uma nova leitura da curta. Será toda esta experiência um diálogo interno ou um sonho do protagonista? Serão aqueles dois homens mesmo dois indivíduos isolados ou duas faces duma mesma pessoa? Quanto tempo passou desde que o protagonista se instalou naquele quarto e quais as consequências de um trauma mental?

Numa estética minimalista, e com uma palete que se encela no preto e branco, o filme apresenta um movimento de câmara limpo e uma montagem orgânica, sem grandes pirotecnias distrativas da reflexão proposta. Através dos performers Anton Skrzypiciel e Romeu Runa, da fotografia de Mário Melo Costa e som de Bernardo Theriaga e Jon Smeathers, todas as ferramentas da sétima arte são conjugadas na criação de um não tempo e não espaço filosófico, sensitivo e reflexivo. Um não espaço que mais do que encerrar respostas e interpretações, propõe leituras várias sobre as esferas do tempo e da linguagem.

Em suma, é no Centro Cultural das Carpintarias que o artista James Newitt - que já expôs em salas e galerias como a Appleton Square (2018), Ar Sólido (2016) e Maumaus Lumiar Cité (2013) e lecionou em universidades da Tasmânia, Nova Iorque e Tromso - apresenta este trabalho fílmico que tem tanto de importante como de intrigante. Através de uma relação encenada, quase teatral, shakespeariana no sentido em que se propõe uma relação de poder e de dependência, o interesse maior de Fossil reside na, nem categórica nem óbvia, reflexão sobre a linguagem, a doença mental e a volatilidade do Tempo.

 



DIOGO GRAÇA