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TITO MOURAZFLUVIAL![]() MÓDULO – CENTRO DIFUSOR DE ARTE (LISBOA) Calçada dos Mestres, 34 A/B 1070-178 Lisboa 08 MAR - 14 ABR 2018 ![]() ![]()
Nesta série, intitulada Fluvial, de Tito Mouraz, contempla-se a paisagem enquanto "território", tal como afirma Humberto Brito (cf. texto da galeria, 2018). Na paisagem, há um cruzamento entre uma ténue deambulação do ser humano e uma poesia visual idílica, em que natureza é presenciada numa sensação de intemporalidade que oscila entre uma vibração suave e um revivalismo do "estado natural" de Rousseau. Em Fluvial, o espectador é despertado para esta possibilidade de sensação subtil em insignificantes detalhes, tal como o cheiro da natureza, ou o gesto de emergir da água, bem como o "êxtase das coisas" que é celebrado entre a luz e sombra dos "corpos" vistos enquanto imagens escultóricas.
"A paisagem tornou-se acidentada, abrupta, e o comboio parou numa estaçãozinha entre duas montanhas. Ao fundo do desfileiro, à beira de um rio, apenas se via uma casa de guarda enfiada na água que corria rasando as janelas."( Proust, À Sombra das Raparigas em Flor, 2003, p. 238)
Esta impressão, que exalta o "êxtase" das coisas do mundo, que nos apresenta Proust, ou mesmo Joyce, evoca uma beleza de uma "vida quotidiana digna de ser vivida". Em Joyce, através da sua literatura, percecionamos a fugacidade da psicologia humana, que nos leva a abandonar à beleza quotidiana:
"Uma rapariga estava-lhe defronte no meio da corrente, só e imóvel, olhando para o mar. Parecia uma criatura transformada por encanto no aspecto de uma extravagante e bela ave marinha." (Joyce, Dedalus, 1917)
De certo modo, as fotografias de Tito Mouraz transporta-nos para uma análoga sensação de beleza, cujas imagens espelham as figuras femininas como se fossem esculturas voláteis a emergir da água, ou da vegetação, ou, até, a erosão das rochas e a fugacidade dos animais. As formas dos "corpos" humanos e não-humanos, orgânicos e inorgânicos, expressam este encanto, quase mágico, onde a natureza se funde com as figuras femininas, ou elevam-se das águas, aparentemente, numa serenidade e calma, cuja sombra se esbate no fundo. Cria-se, assim, uma visão cenográfica e teatral. A luz modela as formas dos vários "corpos" contrastando com a sombra ou com a água do rio. O artista transporta-nos para uma dimensão antropológica nas suas obras de arte. A zona ribeirinha do rio como "lar ou casa" da sociedade contemporânea portuguesa, como "lugar", enquanto lazer e da vida quotidiana. A fotografia encena uma subtil vibração de beleza que nos apela à tranquilidade, para nos projetar ao que se entende de natureza na atualidade. Tal como afirma Nuno Matos Duarte: "No sintetismo simbólico encontram estas imagens o seu dizer e, nele, carregam a força que guia o imaginário por lugares incertos: o curso de água está em toda a parte." (cf. texto da galeria, 2018).
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