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MANUEL CALDEIRAACAPELLA![]() RUI FREIRE — FINE ART R. Serpa Pinto 1 1200-442 Lisboa 17 FEV - 01 ABR 2023 ![]() ![]()
A ortogonalidade (das linhas) dá corpo a elementos que parecem aludir a fragmentos arquitectónicos. Tão depressa a linha, autónoma, entoa para lá do espaço limite da folha branca, como se afirma na sua imutabilidade, enquanto elemento subordinado à estrutura ao qual pertence, e pretende fixar-se. Temos, por isso, por um lado, a linha enquanto elemento autónomo, e por outro, enquanto parte integrante de uma estrutura. Traçadas a acrílico, as linhas sinuosas disseminam-se em várias cores, e uma mesma linha, desenhada inicialmente a verde, pode dar continuidade em tons de vermelho, ou fazer-se acompanhar, nas suas imediações, por outras linhas, a traço interrompido, ou a várias cores, como amarelo ou marrom. A série em acrílico (Acapella), compreendida entre 2022 e 2023, exibe percursos de retas que aparentam movimentos fugazes de corpos celestes. Densas no início do seu percurso, e mais finas no seu término, configuram efeitos etéreos que mais convidam a uma leitura ilimitada, que transmute a própria fronteira da tela em branco. A série sem título (Playgrounds, 2020-2023), a guache e grafite sobre papel, apresenta maciços compactos representados a amarelo, vermelho e negro, evocando laivos de um neoplasticismo revisitado, ou espectros da obra de pintores que, de uma certa medida, viram o seu trabalho influenciado pela matriz de Schoenmackers, e pela filosofia neoplatónica. Também é impossível não rememorar imagens de Frank Lloyd Wright, ou Rietveld, e o modo vertiginoso, com que foi ensaiado o espaço, perpassado por “raios” horizontais e verticais. Este lugar preliminar, em que o artista por vezes parece inscrever-se, acentua o modo despojado de artifícios, e de máscaras, ancorando o trabalho num lugar de autenticidade, e de verdade. Acapella poderá ser assim, uma voz sem ardis, uma elocução que transporta a história de arte para o plano presente, e o recria. Num possível ato contemplativo, envolto em nostalgia, o artista, simula, através dos seus gestos, atos de comunicação, ou cinésica, como diria Eco, e que compreende simplesmente “sistemas de comportamento aprendidos” [1], ou ainda “unidades de significado organizáveis em sistema” [2].
Notas [1] Segundo Pittenger e Lee Smith, citado por Umberto Eco em “A Estrutura Ausente” ![]()
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