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ADRIANA PROGANÓI KISSED THE SNAKE HELLO3 + 1 ARTE CONTEMPORÂNEA Largo Hintze Ribeiro 2E-F 1250 – 122 Lisboa, Portugal 12 MAI - 24 JUN 2023 Purple plain, Proganó na terra da gente púrpura
A quem for dado à apreciação de uma pintura de motivos, entendidos como elementos formais recortados e recorrentes, qualquer coisa que a pintura novecentista depositou nas mãos do abstraccionismo – e mais os seus polígonos [mono]cromáticos –, encontrará aqui o regresso refinado a cenários de um figurativismo extravagante, algo un peu fauve, ou talvez de sabor gauguinèsque. Quase uma refutação do dirty-realism que a Escola de Londres veio a oferecer como cânone de alta-figuração.
Adriana Proganó, Leaf juice, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.
Assinale-se, todavia, que não há nesta pintura qualquer sanha paródica ou recreativa, o que tansportá-la-ia para as franjas do ludismo pós-arte. Ainda que mostre muito abertamente o toque airoso de quem não se leva a sério, sobretudo em momentos difíceis de resgatar do que é um decorativismo meticuloso, mas nada gratuito, Adriana Proganó pratica uma pintura séria. Aqui, de resto, com um alcance do qual não se aproximam as obras anteriores da artista neste registo (e que não foram o que fez dela uma artista premiada, mormente os quadros da série «Bad Behaviuouor» (2019). Para adoptar um tom suficientemente livre que permita a quem vê descolar do que lê para firmamentos insuspeitados, há a dizer que o motivo regente destas pinturas é, vagamente, uma figura de aspecto humano, a “personagem de cor púrpura”, e que traz com ela uma intra-referencialidade na obra da artista (vide «Little brats» [2022], Vencedor Pémio EDP Novos Artistas 14ª Edição), que engendra um caso raro de maturidade imagística. A figura de cor púrpura, que tem morada em praticamente todos os quadros desta exposição, compõe um lastro simbólico sofisticadíssimo que Proganó adensa arriscando estratégias encantatórias em géneros reconhecidos, desde o retrato (ou talvez auto-retrato no quadro epónimo, com seu título free-jazzístico, «I kissed the snake hello»), até à natureza morta, ou à pintura catástrofe («I breathe you, you breathe me»).
Adriana Proganó, I breathe you, you breathe me, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.
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