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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Adriana Proganó, Not day not night, an invisible space in time, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Adriana Proganó, I kissed the snake hello, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Adriana Proganó, Cold soft swim with you, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Vista da exposição. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.


Adriana Proganó, Sacred love bond, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.

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ARQUIVO:


ADRIANA PROGANÓ

I KISSED THE SNAKE HELLO




3 + 1 ARTE CONTEMPORÂNEA
Largo Hintze Ribeiro 2E-F
1250 – 122 Lisboa, Portugal

12 MAI - 24 JUN 2023

Purple plain, Proganó na terra da gente púrpura

 


A pantera, a serpente, o pardal, a rola, o pintassilgo, o pintarroxo, a acácia, as lianas, os juncos, os salgueiros, as patas-de-cavalo, e tudo o que uma enumeração ladina, e daí astuciosa, possa retirar daquilo que é uma paisagem natural muito própria — ou talvez, pelo contrário, nada própria —, é o que faz da exposição I kissed the snake hello de Adriana Proganó uma exposiçao de pintura dissonante. E esta dissonância, seja por caracterização ultra-identitária, seja por um reportório visual despencado daquilo que ainda hoje compõe uma certa normalidade do universo naturalista, e também do apelo exotista, ou pelo menos ‘etno-distante’, representa uma afronta àquilo que o gosto da saison estará disposto a aceitar. O risco que aqui se relata é o que acaba por transformar o gesto da artista numa glória estimável. E, diga-se, não por aquilo que será a respectiva performatividade (aquilo que tê-lo feito desencadeia: o espanto), mas pelas qualidades visuais e pelos territórios temáticos que esta pintura conquista.

A quem for dado à apreciação de uma pintura de motivos, entendidos como elementos formais recortados e recorrentes, qualquer coisa que a pintura novecentista depositou nas mãos do abstraccionismo – e mais os seus polígonos [mono]cromáticos –, encontrará aqui o regresso refinado a cenários de um figurativismo extravagante, algo un peu fauve, ou talvez de sabor gauguinèsque. Quase uma refutação do dirty-realism que a Escola de Londres veio a oferecer como cânone de alta-figuração.

 

Adriana Proganó, Leaf juice, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.

 

 

Assinale-se, todavia, que não há nesta pintura qualquer sanha paródica ou recreativa, o que tansportá-la-ia para as franjas do ludismo pós-arte. Ainda que mostre muito abertamente o toque airoso de quem não se leva a sério, sobretudo em momentos difíceis de resgatar do que é um decorativismo meticuloso, mas nada gratuito, Adriana Proganó pratica uma pintura séria. Aqui, de resto, com um alcance do qual não se aproximam as obras anteriores da artista neste registo (e que não foram o que fez dela uma artista premiada, mormente os quadros da série «Bad Behaviuouor» (2019).

Para adoptar um tom suficientemente livre que permita a quem vê descolar do que lê para firmamentos insuspeitados, há a dizer que o motivo regente destas pinturas é, vagamente, uma figura de aspecto humano, a “personagem de cor púrpura”, e que traz com ela uma intra-referencialidade na obra da artista (vide «Little brats» [2022], Vencedor Pémio EDP Novos Artistas 14ª Edição), que engendra um caso raro de maturidade imagística. A figura de cor púrpura, que tem morada em praticamente todos os quadros desta exposição, compõe um lastro simbólico sofisticadíssimo que Proganó adensa arriscando estratégias encantatórias em géneros reconhecidos, desde o retrato (ou talvez auto-retrato no quadro epónimo, com seu título free-jazzístico, «I kissed the snake hello»), até à natureza morta, ou à pintura catástrofe («I breathe you, you breathe me»).

 

Adriana Proganó, I breathe you, you breathe me, 2023. © Bruno Lopes, Cortesia 3+1 Arte Contemporânea.

 


Mas o que resulta mais penetrante, é que com as seis obras, únicas seis obras, que compõem esta exposição de Adriana Proganó, há um povoado vasto onde a gente de cor púrpura aparece, indiscutivelmente, como o–outro–do–outro–do–outro (suma alteridade), povoado aqui que não apenas se entrevê. É também dado a habitar, ou não tivesse a artista, num golpe de brava simpleza, ordenado que o chão da galeria honrasse a cor desta gente, lançando-nos numa imersão por terra púrpura de que não se sai sem uma jubilação estética. Como sair de lá, é o que se aguarda a artista venha a saber fazer sem que isso resulte numa deserção.

 


João Borges da Cunha

Doutorado em Estudos de Cultura, Universidade Católica Portuguesa. Arquitecto, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Professor no Departamento de Arquitectura da ECATI [Escola de Comunicação], Universidade Lusófona. Investigador nos centros ARQ.Id e CECC. Publicou ensaio, teatro e ficção.



JOÃO BORGES DA CUNHA