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'COMPLEXO BRASIL' MOSTRA SUAS CARAS EM UMA EXPOSIÇÃO PLURAL NA GULBENKIAN2025-11-18De 14 de novembro de 2025 a 17 de fevereiro de 2026, a Fundação Calouste Gulbenkian abre as portas da Galeria Principal e da Galeria do Piso Inferior para uma travessia rara: “Complexo Brasil”, a maior exposição já dedicada ao país em Portugal, propõe um encontro direto com o emaranhado de histórias, contradições e encantos que moldam os muitos Brasis possíveis. A mostra não pede apenas a atenção do visitante, pede disponibilidade para se deixar afetar. É um convite a entrar em um território feito de tensões, potências culturais e imaginários, onde passado e presente se encostam sem pedir licença. Concebida por um trio de curadores brasileiros - José Miguel Wisnik, Milena Britto e Guilherme Wisnik -, a mostra evita fórmulas, recortes temáticos ou uma linha do tempo confortável. Em vez disso, aposta na convivência inquieta entre séculos: objetos coloniais surgem ao lado de produções contemporâneas, fotografias dialogam com vídeos envolventes, tradições religiosas encontram ecos na música popular. A exposição configura, assim, um espaço sem cercas, onde as obras conversam entre si e revelam as camadas de um país que nunca coube em uma única narrativa. O percurso permite olhar de frente um passado compartilhado, e por vezes silenciado, entre Portugal e Brasil. A presença de trabalhos que abordam diretamente a violência do tráfico atlântico, o peso da escravidão e os mecanismos de apagamento racial cria momentos de suspensão, obrigando o público a reconhecer a profundidade das ligações históricas entre os dois países. Não há aqui um gesto de acusação, mas de iluminação: as obras funcionam como faróis que expõem paradoxos ainda vivos e sugerem caminhos para compreendê-los. Mas “Complexo Brasil” não se encerra na ferida. A exposição também ergue um horizonte de futuro, apostando em linguagens que misturam alegria, resistência, espiritualidade e originalidade. Nas salas imersivas, clássicos da canção popular, samba e funk se fazem presentes, enquanto o diálogo entre audiovisual, pintura e interpretação revela gestos de renovação cultural e trajetórias simbólicas. Complementando a exposição, a programação inclui debates, performances, o espetáculo “Complexo B”, com Adriana Calcanhotto, João Camarero e José Miguel Wisnik, além do lançamento do livro da mostra e do número 220 da revista “Colóquio”, com o título “Este Brasil”. “Complexo Brasil” não oferece respostas prontas. Prefere provocar. Faz o público circular entre espelhos, memórias e perspectivas, sugerindo que compreender um país tão vasto é uma tarefa contínua e inacabável. É uma exposição que não explica: expõe. Não encerra: abre. E talvez seja exatamente aí que reside a sua força. No fim, o que fica é a sensação de ter atravessado não um retrato, mas um organismo vivo: múltiplo, contraditório, às vezes doloroso, mas sempre espantosamente criativo. Por Julia Ugelli |














