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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Carlos Maciá, St. Provisória. © Fernando Piçarra.


Adrian Paci, Electric Blue. © Fernando Piçarra.


Vera Mota, Acontecimento V. © Fernando Piçarra.


Givanni de Lazzari, Memorandum. © Fernando Piçarra.


Emma Ciceri, Dimore nel Numero. © Fernando Piçarra.


Márcia de Moraes, Á Deriva no Azul. © Fernando Piçarra.


Vasco Araújo, Império. © Fernando Piçarra.

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Ciclo de exposições




CARPE DIEM ARTE E PESQUISA
Rua do Século, 79 Bairro Alto
1200-433 Lisboa

18 JUN - 24 SET 2011


Alojada num palácio urbano edificado após o terramoto de 1755 e fundada por Paulo Reis (1960-2011), a Carpe Diem é um espaço bastante peculiar, não apenas pelo estilo arquitectónico do palácio/galeria, mas também pelo modo como as obras expostas estabelecem uma relação com o espaço que, provisoriamente, habitam. “O palácio é o curador. O palácio é que define as regras do jogo e eu sou apenas o assistente do curador.”, afirma Lourenço Egreja, curador da Carpe Diem. Um projecto que tem como intuito basilar a devolução do edifício à comunidade, procurando preservar as suas particulares, e, simultaneamente, revertendo o espaço num foco de visibilidade do panorama artístico nacional e internacional contemporâneo.


O “diálogo enquanto base da curadoria”, explica Lourenço Egreja, é um dos aspectos que define o modo como a galeria desenvolve os seus projectos. As obras expostas são o produto final de um processo com várias etapas que parte de um convite feito ao artista, seguido de uma análise do projecto proposto, culminando com obras site specific. Há uma procura de expor obras de artistas estrangeiros que habitualmente não marquem presença em Portugal e que estejam interessados em dialogar com o palácio e com a cidade. O palácio, per se, é uma obra arquitectónica, entre o clássico e o barroco, portadora de um elevado valor artístico, pelo que se torna por vezes inevitável que as obras expostas não sejam camufladas pelo espaço em que se inserem, daí que a componente site specific seja intrínseca aos projectos desenvolvidos na Carpe Diem. As obras inserem-se no espaço como que por osmose, passando a ser parte dele, como se o palácio carecesse delas para estar, enfim, completo.


Actualmente podemos encontrar na galeria obras de dois artistas portugueses, Vera Mota e Vasco Araújo, e de seis artistas estrangeiros. Não se trata de uma exposição colectiva, uma vez que não existe um fio conceptual a unir as obras. Em comum existe apenas o facto de todas elas reflectirem uma relação espacial, mediante uma diversidade de abordagens e suportes artísticos.


Vera Mota (Porto, 1982), com Acontecimentos V, uma sequência de obras expostas em cinco salas contíguas da cave do palácio, proporciona uma experiência de osmose espacial, pela simplicidade com que coloca os objectos no espaço. A cave do palácio encontra-se quase em ruínas, preservando no entanto as suas linhas clássicas. Vemos um móvel no centro da sala onde, no interior das gavetas, podemos encontrar desenhos marcados por uma geometria precisa que contrasta com traços de aguarela que parecem ser, tal como nas paredes das salas, marcas do tempo que sem qualquer intenção mapeiam o espaço, bem como os desenhos. O paralelismo visual leva o espectador a crer que os móveis e os desenhos sempre ali estiveram.


No jardim do palácio, em pleno contraste com o classicismo da fonte central e de pequenas estátuas que aí se encontram, temos Abrigo Sublocado do artista brasileiro Kboco (Goiânia, 1978), uma estrutura em madeira marcada por formas triangulares e arabescas e tons quentes geralmente associados a África, representando uma porta de entrada para uma cidade longínqua e inacessível, pois que estamos como que “encerrados” num jardim tipicamente europeu. A presença da estrutura no jardim é experienciada quase como uma invasão visual, uma presença inconveniente que enriquece o jardim ao evidenciar o hiato arquitectónico entre culturas e temporalidades distintas.


Ao subir as escadas para o primeiro piso do palácio, presenciamos a obra de Carlos Maciá (Lugo, 1977), 60 metros quadrados de plástico preto recortam a parede como uma ruína, como se se tratasse da marca de um incêndio, ganhando forma espraiando-se pelas escadas, onde adquire a forma e artificialidade próprias do plástico, evidenciando a falsidade da aparente “mancha” negra na parede. A obra complementa o espaço através de uma contradição com as características que o marcam, como os tectos minuciosamente trabalhados e o mármore das escadas. Desenhos coloridos a marcador nos vidros das janelas contribuem ainda para a ruptura com o ambiente palaciano.


Já no primeiro piso, temos À Deriva no Azul, de Márcia de Moraes (São Carlos, 1981), desenhos e colagens que parecem ser uma complementar o papel de parede que reveste as paredes da sala, numa continuidade que acrescenta algo ao que esconde, num cruzamento harmónico de cores e formas. Simultaneamente, os desenhos parecem ser janelas onde, espreitando, podemos vislumbrar a contemporaneidade, estabelecendo um antagonismo com o que experienciamos ao entrar numa sala revestida por um papel de parede de padrões claramente provectos.


Numa sala que poderia ser um salão de baile podemos ver Electric Blue, de Adrian Paci (Albânia, 1969), uma narrativa que nos é revelada num pequeno filme que conta a história de um homem que gostava de captar imagens; premissa que nos leva a uma reflexão sobre a disparidade de imagens que o mundo nos apresenta e o modo como a sociedade constrói arquétipos em torno dessas imagens. O que leva um homem a gravar cenas de guerra sobre cassetes onde estavam anteriormente filmes pornográficos? Por que motivo nos chocará mais a sexualidade do que a brutalidade da guerra? Electric Blue consegue, através de uma simples história A austeridade da sala parece intensificar o efeito chocante que algumas cenas de sexo explícito presentes no filme exercem sobre o espectador.


Vasco Araújo (Lisboa, 1975) parece partir da austeridade de um palácio para uma abordagem mais social e política, através dos vídeos Impero e Augusta, nos quais são explorados conceitos como os de poder, comunidade e condição humana. Augusta explora visualmente jardins e a estátua de um leão, bem como colunas gregas clássicas, com base num diálogo da comédia As Aves, de Aristófanes, promovendo uma reflexão acerca da primordial democracia grega, e do modo como certas falhas continuam a minar o modo como o poder é exercido na actualidade. Impero conta com a representação da actriz Mónica Calle e texto de André Teodósio e desenvolve uma concepção dualista de um império, através da exploração da voz feminina da actriz que se contrapõe à voz masculina, enquanto a primeira anuncia a humanidade, a desilusão e a igualdade, a segunda dita o poder incontornável e autoritário, a soberania e o fascínio que o exercício do poder exerce sobre o ser humano. “O meu nome é Império, e o que digo é que é bonito ter a força de um gigante, mas horrível usá-la como um gigante”, diz a mulher. A obra faz-nos mergulhar numa reflexão sobre o conceito de poder que nos leva a extrapolar certas ideias para a arquitectura do palácio, que nos esmaga pela sua austeridade.


A artista italiana Emma Ciceri expõe os seus trabalhos em duas salas distintas. Na primeira, uma pequena sala com lareira, encontramos duas televisões no chão. 21Giugno2007 e 8dicembre2007 foram filmados em dois concertos musicais, numa exploração da individualidade na multidão, através de grandes planos de pessoas, nos quais absorvemos certas expressões, sentimentos e comportamentos, sempre individualmente, apesar de as imagens nos transmitirem a noção de que cada um dos indivíduos se encontra entre uma multidão. Numa outra sala, Cancellature, reflecte também uma procura de realçar o detalhe, através de pequenas colagens em papel, expostas sobre uma mesa, como que para serem atentamente examinadas.


Por fim, Giovanni de Lazzari (Lecco, 1977) complementa essa mesma sala, trabalhando, com Memorandum, em torno de uma antiga lareira onde podemos observar um tríptico de desenhos, Untitled, onde pequenos traços parecem invadir a brancura de um espaço, numa ausência de luz, sombra ou volume. O outro trabalho é uma cabeça humana sustentada por um pedaço de vidro, cuja cor branca e o pequeno formato nos afastam das usuais concepções escultóricas do corpo humano, promovendo uma abordagem mais irrealista e introspectiva.

Maria Beatriz Marquilhas