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PIRES VIEIRAPIRES VIEIRA. ANTOLÓGICA: DA PINTURA À PINTURA.![]() MNAC - MUSEU DO CHIADO Rua Serpa Pinto, 4 1200-444 Lisboa 07 JUN - 14 SET 2014 ![]() Da teoria e da prática![]() O MNAC-Museu do Chiado recebe aquela que é a primeira retrospectiva de Pires Vieira, artista que completa 45 anos de carreira este ano. No MNAC estão expostas obras que cronologicamente se estendem desde o pós-25 de Abril até à actualidade, focando o seu trabalho de pintura. A Fundação Carmona e Costa expõe paralelamente a obra em papel. Podemos ver no MNAC obras que integraram exposições individuais e colectivas, incluindo a exposição itinerante “Pena de Morte, Tortura, Prisão Política” de 1976, e “Alternativa Zero” de Ernesto de Sousa em 1977. David Santos, director do MNAC, não deixou de enfatizar a importância desta exposição na programação do museu, pois não só se trata de uma antológica do artista, como é também uma oportunidade de aceder a um corpo de obra coerente e consolidado, mas quase desconhecido do grande público. A exposição no MNAC começa pelas obras mais recentes para terminar nos trabalhos dos anos 1970/80. A peça “Narrativas” abre a exposição, instalada no hall de entrada. Quatro megafones pousados numa superfície negra espelhada, virados uns para os outros, reproduzem de um lado as 12 regras do minimalismo de Ad Reinhardt e do outro as teorias psicológicas de Leon Grinberg. 2 textos em confronto e que colocam frente a frente o passado e o presente. As 12 regras de Reinhardt procuravam anular todas as influências na pintura, anular todas as características a ela associadas: cor, textura, expressão, etc. – a intervenção específica do artista - uma disciplina que levada ao extremo acaba por inviabilizar a prática da pintura. A teoria, seguida rigorosamente, inviabilizaria a prática. Pires Vieira pede ao visitante que tenha aqui presente referências da história da pintura. A discussão replicada nos megafones relembra-nos que há que ter consciente uma memória associada à prática da pintura. O quadro negro onde repousam os megafones, limpo e homogéneo, esse culminar das regras minimais, faz-nos pensar também na forma como a pintura conseguiu “sobreviver” a esse polimento. As obras de Pires Vieira perpassam uma série de referências artísticas de diversos períodos. Há nomeações/reproduções de obras concretas de artistas como Rothko, Matisse, Monet, Klein, Emil Nolde, Sol Lewitt, Malevitch ou Joan Micthell. Na obra de Pires Vieira, estes autores fazem parte de um processo de investigação da pintura levado a cabo através da experimentação com a exploração da cor, a seriação, o ocultar/revelar, os suportes e um jogo entre dimensões (bidimensional/tridimensionalidade). É pintura que se abre, se dobra, se estende para o chão. Tal como indica o título da exposição, é pintura que se volta sobre si mesma, que se descobre através da prática permanente. Há pinturas escondidas atrás de pintura. Há letras que revelam fragmentos de pinturas. A pintura, como um tipo de pintura, aparece espreitando através de uma quase não pintura minimal, cores sólidas, lacadas, industriais. Como na obra “Mockba” (Moscovo), onde o acrílico impede a completa visualização das pinturas em papel vanguardistas de Malevitch. A forma abstracta materializa-se e independentiza-se do quadro, sobrepondo-se-lhe. Nas peças “Porta I, II e II”, literalmente atrás de portas de emergência conseguimos descobrir 3 imagens: uma tela negra, uma obra de Pedro Casqueiro e um espelho. Pontos de fuga para o olhar, embora limitados. As cores das portas são mais uma vez referências a Rothko, Matisse, Reinhardt. Na peça “In/Out” vemos manchas de Monet recortadas pelas palavras do título. O acrílico azul é mais um nota a convocar Klein - a pintura nova sobre a pintura antiga. Uma memória onde se pode entrar e de onde se pode sair. A presença da palavra continua pela obras seguintes à medida que vamos seguindo pelo passadiço sobre o hall de entrada. “Between death and life”, “Try and Try...”, “Look again...”. Na década de 1990 o espaço começa a ganhar dimensão na obra de Pires Vieira. Podemos ver deste período dois armários-arquivo e um carrinho-arquivo ambulante. Obras que expõe uma fragmentação e selecção de elementos a analisar e preservar. Caixas de transporte, lâminas de colheita, espaços numerados, inventários. Excertos ou recortes de um todo. Essa categorização é evidente nas obras que antecedem a sala dos anos 1970/80. São elementos reduzidos a uma forma mínima que mantêm ainda a sua conotação narrativa. São figuras negras que estão no limite entre o abstracto e o símbolo representativo de uma forma reconhecível. Na última sala as primeiras investigações sobre a pintura como resultado de uma prática constante. “Sem título (10 quadros para o ano 2000)” são quadros em que o processo, uma determinada acção repetida sobre um suporte, produz uma imagem específica. Estas telas são executadas em camadas sucessivas (20 camadas de tinta acrílica) até à saturação cromática da tela, tendo um limite traçado que determina onde acaba o gesto de pintar. Quando a cor se aproxima do negro, o processo pára. O resultado é uma tela de onde, no meio da densidade da cor, as linhas emergem devido a esse processo de pintura por camadas com um limite traçado. Esse processo de técnicas e formas prévias ao pintar, que se repetem ou são usadas como máscaras, estão presentes igualmente noutras obras do mesmo período, pautado por uma investigação sobre a construção concreta da pintura através da repetição do gesto de pintar. ![]()
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