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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Cristina Garcia Rodero, Los musicos y el Santo, Furnas, San Miguel, 1996, Colecção Encontros de Fotografia.


Cristina Garcia Rodero, Debaixo da Magnólia, São Miguel, 1996, Colecção Encontros de Fotografia


Debbie Fleming Caffery, Valley of the Mondego river, 1993, Colecção dos Encontros de Fotografia.


Frédéric Bellay, Litoral, do Ribatejo ao Algarve, 1996, Colecção Encontros de Fotografia


Hugues de Wurstemberger, Praia da Ilha, Alentejo, 1996, Colecção Encontros de Fotografia


António Júlio Duarte, S/título, Alentejo, 1996, Colecção Encontros de Fotografia.

Outras exposições actuais:

MARTÍN LA ROCHE

YO TAMBIÉN ME ACUERDO (I DO REMEMBER)


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RUY LEITÃO

RUY LEITÃO, COM ALEGRIA


CAMB – Centro de Arte Manuel de Brito (Lisboa), Lisboa
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CRISTINA ATAÍDE

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Appleton Square , Lisboa
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COLECTIVA

BEFORE TOMORROW – ASTRUP FEARNLEY MUSEET 30 YEARS


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TEATRO ANATÓMICO


Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

DEBORAH STRATMAN

UNEXPECTED GUESTS


Solar - Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde
LIZ VAHIA

ARQUIVO:


COLECTIVA

Esta terra é a tua terra. Os anos 90 em Portugal, na Colecção dos Encontros de Fotografia




CAV - CENTRO DE ARTES VISUAIS
Pátio da Inquisição 10
3001-221 Coimbra

01 NOV - 08 FEV 2015

O passado é um país estrangeiro

 

Quando David Lowenthal publicou em 1985 o seu livro The Past is a Foreign Country, o objectivo era explorar a realidade do passado, a forma como cada época fala do seu passado, como o preserva ou o altera, como no passado às vezes a história e a ficção se misturam.

 

As atitudes acerca do passado, o que é ou o que foi, não são constantes. “The past is a foreign country; they do things differently there” [1], parece ser a atitude contemporânea em relação aos tempos passados, segundo Lowenthal. O passado é algo que já não reconhecemos como nosso, melhor, que estranhamos ao olhar. O passado está impregnado de imagens que nos fazem ver como aquilo já não é nosso, como não somos o que fomos, como fazíamos as coisas de modo diferente.

 

Esta terra é a tua terra é uma exposição que reúne várias séries fotográficas produzidas em Portugal nos anos 1990, como resultado de projectos propostos pelos Encontros de Fotografia de Coimbra. Surgidos em 1980, os Encontros de Fotografia marcaram o panorama nacional no que respeita à divulgação da fotografia como linguagem artística. As imagens presentes nesta exposição surgiram de encomendas a 15 fotógrafos nacionais e estrangeiros, que se debruçaram sobre contextos territoriais específicos, tentando aferir uma ideia de realidade agarrada naquele momento. Um retrato do país, a meio caminho entre a revolução e o agora, os anos 90 da construção da Expo, do acordo de Schengen, do Algarve da construção civil, da paisagem do Alentejo e do Douro, das aparições fugazes de anónimos nas ruas, quais personagens num filme de época.

 

Sendo a realidade a cores, o preto e branco predomina aqui também como imagem mais real.

 

A primeira imagem que nos aparece é uma fotografia de Duarte Belo, mostrando um marco de fronteira com arame farpado a ladear e a letra P sulcada na pedra. Uma pedra aparada em cima de um penedo rude, quase uma história de Portugal. Um marco vestígio do passado, um passado de fronteiras, agora abolidas nesta União Europeia da qual fazemos parte.

 

As fotografias apresentam-se quase todas em séries, sendo possível construir quase um contexto de acção para cada uma delas. A primeira, por exemplo, de José Manuel Rodrigues, apresenta-nos o Alentejo como um cenário quase cinematográfico: um território solitário, com encruzilhadas e marcas de pneus na terra a traçarem caminhos fora da estrada oficial, com os ramos das árvores a enlearem-se ressequidos, enquanto um homem sem rosto olha do alto da falésia o velho poeta rural. Imagens para um país desencantado, rude e escarpado, que não tem um rumo definido, velho e suicida.

 

Esta série contrasta com a visão de Cristina Garcia Rodero e as suas imagens dos Açores, um espaço com água, com crianças, a evocação de um tempo fora do tempo, o tempo da infância e dos contos, de outras narrativas.

 

Olhando estas fotografias, é de facto para um país estrangeiro que olhamos, um que já não reconhecemos, não porque não estivemos lá, mas se calhar porque não queremos aceitar que aquilo já foi um Portugal, entre a nossa ficção e a nossa realidade.

 

 

 

Liz Vahia

 

 

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Notas

[1] Lowenthal citando uma frase de L. P. Hartley, do seu livro The Go-Between (1953).



Liz Vahia